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Mostrando postagens de julho 10, 2016
MARIA DOMITILA, A NOSSA ANNA BOLENA. Quando li o romance histórico A marquesa de Santos com quinze ou dezesseis anos, fiquei espantado com o nosso primeiro imperador.  No dia da Independência despachou o seu ajudante de ordens para marcar um encontro com a Maria Domitila, uma bela moça separada do marido e pertencente a uma tradicional família paulista. Ficou apaixonado e sempre que podia, arranjava uma desculpa para vir até a pauliceia para rever a amante. Como a viagem a cavalo do Rio a São Paulo levava quase uma semana, resolveu levá-la para a corte com toda a família. Para isso adquiriu a chácara dos Porcos, que ficava a uma hora da residência imperial. Não demorou muito para Dom Pedro colocá-la como dama de companhia da imperatriz Leopoldina, que sem dúvida deve ter ficado p. da vida. Em seguida o pai, o Coronel João de Castro Canto e Mello virou barão, dando status de nobreza a toda a família. Ela também foi agraciada com o título de Baronesa de Santos de depois Mar
PARA QUE UM ESTADO TÃO GRANDE? A história da chapeuzinho vermelho ao perguntar para o lobo mau que estava deitado na cama da sua avó, disfarçado: “Para que uma boca tão grande vovó?”. O resto da fábula todos conhecem.  Da mesma forma os brasileiros perguntam ao nosso Leviatã (Estado brasileiro): Para que tanto dinheiro se não recebemos nada em troca? O Estado brasileiro abocanha tudo que for possível e até o impossível para sustentar sua imensa teia de privilégios, mal gastos e incompetências. Numa contabilidade prática, boa parte dos brasileiros trabalha até maio para pagar os impostos. Daí em diante tem o direito de gastar o que sobrar para alimentação, habitação, segurança, educação, saúde, investimento, etc. Segurança, Educação e Saúde deveriam, em tese, ser obrigação do Estado, mas diante da precariedade desses serviços públicos, a classe média é obrigada a colocar seus filhos em escolas particulares, pagar planos de saúde e pagar seguros residenciais e para veículos, cada v
SOCIETÁ ITALIANA DI BENEFICENZA Havia em casa uma medalha de bronze com a inscrição: “Societá Italiana di Beneficenza - 1898” que minha mãe conservava em sua caixinha de segredos. Ela dizia que era do seu pai, mas ela mesma não sabia como e nem por que estava em suas coisas quando ele faleceu. Como não havia conversado em vida com ele sobre a medalha, ficou sem saber a sua origem. Sabia que meu avô era um farmacêutico prático, que criava comprimidos fitoterápicos para curar doenças. Não sei se tais comprimidos faziam  algum efeito, mas com eles ele ganhava a vida e podia comprar seus livros, jornais e assinar uma revista espanhola. Filho de pai abastado, na infância ele estudou com um preceptor (professor particular) que lhe ensinou as primeiras letras, depois Latim e espanhol, mas nunca frequentou escolas. Lia tudo que lhe caia nas mãos e era uma pessoa muito bem informada nos confins do interior paulista. Soube da televisão muito antes da tecnologia chegar por aqui, mas os ca
SE PARAR O BICHO PEGA, SE CORRER O BICHO COME O país está realmente numa sinuca de bico.  O governo provisório está cada vez mais enrolado com ministros sendo denunciados por envolvimento em corrupção, delações premiadas, gravações secretas etc e tal. A oposição, que antes era governo está também num lodaçal. Se derrubarem o Temer vai assumir o atual presidente da câmara, o tal de Maranhão, pois legalmente é o primeiro na linha sucessória. Ele está todo enrolado com denúncias de propinas, funcionário fantasma da universidade do Maranhão, sem contar o filho que trabalha em São Paulo e recebe um salário no TC do Maranhão. Bom, se conseguirem uma liminar que o retire da linha sucessória, temos o seguinte que é um sujeito porreta que pagava uma pensão duas vezes superior ao seu salário de senador para sua amante. Como ninguém acreditou, inventou uns bois voadores de sua fazenda e os vendeu a peso de ouro. Além de tudo isso, ainda está sendo investigado pela operação lava-jato. Bom,
UM AMIGO ALEMÃO Meu amigo alemão não é alemão e nem fala a língua de Goethe, mas era assim que o chamávamos, pois seu pai era alemão, mas a mãe era brasileira de origem italiana. O pai,  seu Walter, contava ele, chegou da Alemanha nos anos quarenta pelo Rio de Janeiro. Sem dinheiro, sem falar português, acabou morando em uma favela e passou uma semana comendo bananas, a única coisa que dava para comprar com seus parcos recursos. Depois acabou vindo para São Caetano do Sul, onde se estabeleceu com uma serralheria e se casou. A mulher morreu cedo vitimada por um câncer, deixando o seu Walter com três filhos para criar. Seu Walter acabou morando perto de minha casa e seu filho mais jovem, Edson Broesdorf e foi no retorno do colégio que acabamos nos conhecendo. Foi na casa dele que experimentei, pela primeira e felizmente última vez, um chucrute alemão preparado pelo seu pai. Tempos depois nos envolvemos no movimento estudantil com outros colegas do ABC. Frequentávamos uma igreja e
PASÁRGADA: VELHOS AMIGOS, VELHAS LEMBRANÇAS O poema “Vou-me embora para Pasárgada” é quase uma canção de exílio, pois lá sou amigo do rei e tem tudo, é outra civilização... Assim, quando estou triste, triste de não ter jeito, dou uma escapadinha e vou para lá esquecer e, também, para lembrar. E nesse último domingo, fomos todos, mulher, filha, genro e neto para essa civilização imaginária onde tudo é permitido, nada é pecado ou engorda. Fica pertinho daqui, logo ali depois de Embu das Artes e fomos guiados pela Celinha que conhece todos os caminhos que levam à Pasárgada, lembrando os desvios e atalhos por onde o tempo traça seus roteiros. Lá encontramos os queridos amigos José Geraldo Rocha, a Valnice Vieira, a Bola, a Amaranta, a Janaina, o Ricardo, o Gabriel e a menina Cecilia. Essa família maravilhosa que vive do e no teatro, sempre encenando mundos fantásticos, cheios de emoções e atravessam o tempo declamando poesias e histórias da carochinha. Lá tem tudo e até pés de
O PRAZER DE FUMAR Por volta dos quatorze anos experimentei o primeiro cigarro por influência de um amigo de infância e adolescência, um alemão de origem polonesa  chamado Bogdan Warzocha. Na opinião dele homem para ser homem precisava fumar e beber. O cigarro foi para mim uma tortura, pois não conseguia sentir prazer em fumar, pois me deixava um gosto horrível na boca. Tragar então, além de ser difícil, me deixava tonto e com dor de cabeça. Assim, disfarçava com o cigarro entre os dedos e dava algumas baforadas para impressionar os colegas e quem sabe as garotas. Com a bebida a experiência foi parecida. Também levado pelo mesmo Bogdan tentei beber rum, vodca e cachaça sem sucesso. Num ano novo ele passou em casa para fazermos uma via sacra, bebendo em todos os bares que encontrássemos. Conseguir beber até no segundo, enquanto ele bebeu em pelo menos em meia dúzia de bares alternando doses de vodca, gim e rum. Fiquei enjoado e abominei a experiência. Acho que a minha dificuldade
O MENINO DE SUA MÃE Um menino de apenas quatro anos brincava feliz em frente da casa dos seus avós numa comunidade pobre do Rio de Janeiro. De repente um tiro perdido atingiu o seu peito. Seu avô, quando ouviu os primeiros disparos correu para pegar a criança e levá-la para dentro de casa, mas era tarde demais. O sangue já escorria quente pelo seu corpinho indefeso e nada mais poderia ser feito. Levaram-no para o hospital, mas nada mais poderia ser feito. Depois a parte mais difícil: avisar a mãe que talvez nunca perdoe o avô por não ter protegido o neto que estava sob seus cuidados. As mães sempre acreditam que ninguém pode cuidar dos filhos melhor do que elas. E com razão. Pode ser que ela nunca diga nada para o pai, mas pensará nisso pelo resto dos seus dias. “Por que eu não estava lá para que a bala tirasse a minha vida e não a dele?”, deve ter falado ou pensado. As tragédias humanas nunca são esquecidas. Elas vão e voltam com intensidades variadas, mas sempre com muita d
LUIZ DE MIRANDA FIGUEIREDO, UM EXECUTIVO EXEMPLAR Figueiredo, como era conhecido, amadureceu cedo e com dezessete anos resolveu tentar a vida em outras plagas. Foi para os Estados Unidos terminar o curso colegial. Ele comentou-me uma vez que seu pai sempre dizia com relação a ele: “Esse menino vai andar com as próprias pernas”, numa alusão à perspectiva de que ele ia construir sua vida sem depender de ninguém, nem mesmo dos pais. E assim foi. Nos EUA terminou o colégio e ingressou numa escola de engenharia, estudando a noite e trabalhando durante o dia para pagar os seus estudos. Depois foi engenheiro de operações em uma grande empresa petrolífera onde adquiriu a experiência que nortearia seu futuro profissional. De volta ao Brasil, já experiente e dominando o idioma inglês como um nativo, assumiu um cargo executivo na Shell, com sede no Rio de Janeiro. Depois convidado para a gerência geral das Tintas Ypiranga em São Bernardo do Campo. Tempos depois foi convidado para assu
JOÃO CABRAL DE MELO NETO Um dos maiores poetas brasileiros, rigoroso na técnica de construir versos trabalhando o sentido das palavras de forma fria e pragmática. O canavial, o melado e o açúcar corriam no seu sangue. Pernambucano da zona açucareira, cresceu observando os mares verdes de cana. Consta que Cabral não gostava de música. Dono de uma enxaqueca vitalícia, tomou milhares de comprimidos para amenizar a dor e escrever seus versos. Era um sofredor. A música devia lhe torturar a caixa craniana e por isso, talvez, o desprezo por essa arte. Por azar ou por sorte, teve seu Auto de Natal pernambucano: Morte e Vida Severina, musicada por um compositor quase adolescente, o Chico Buarque, e tudo por insistência do amigo dramaturgo e psicanalista Roberto Freire que queria apresentar o Auto num festival em Paris onde acabou sendo premiado.  Nunca se soube se gostou ou não gostou da peça musicada. Quando perguntado sempre respondeu com evasivas. Amigo de Vinicius de Moraes, o cri
ESTUPRO DE MENOR CAUSA INDIGNAÇÃO NO PAÍS E NO MUNDO Uma menina de dezesseis anos foi estuprada no Rio de Janeiro e as fotos do crime foram postadas na rede social. Absurdo, barbárie, insanidade... Não haveria adjetivos suficientes para qualificar o absurdo ocorrido na cidade maravilhosa, maior ponto turístico do país, futura sede das Olímpiadas, competição esportiva cujo objetivo, desde sua criação pelos gregos, é de integrar todos os povos, buscando a paz e a harmonia. Fato semelhante aconteceu recentemente na Índia, quando uma estudante foi violentada por um pequeno grupo em um ônibus. A indignação mundial obrigou a polícia local a prender e julgar os criminosos.  Não sei se ainda estão presos, pois a Índia é um mais corrupto do que o Brasil. Aliás, entre os BRICS, o Brasil é considerado o menos corrupto. Mas o Brasil vai ser sede das Olímpiadas, com atletas e turistas do mundo inteiro. Ninguém estará seguro, devem pensar europeus, norte-americanos, japoneses. Somos um dos
MAIORIA ABSOLUTA Com cinquenta por cento mais um, são tomadas decisões em nome da maioria que podem afetar a todos, incluindo aqueles que votaram contra. Quem estabeleceu essa medida matemática que as decisões da maioria simples são as melhores, as mais válidas, as mais racionais e que representam a totalidade? Assim, muitas decisões são tomadas em nome de uma pretensa maioria que pode gerar sérios problemas para todos, pois a maioria pode ter sido manipulada por engenhosos sistemas de comunicação. Vence quem teve o melhor discurso, mas se o discurso foi ideológico, no sentido em que a ideologia é uma forma de manipulação da realidade, quando se oculta parte da realidade e mostra apenas um lado? O exemplo do Reino Unido é sintomático, pois os defensores do Brexit não contaram tudo para os eleitores, mas apenas o que lhes interessavam. Não disseram aos eleitores ingleses que a saída geraria um queda significativa no PIB, o risco da Escócia e Irlanda do Norte saíram do Reino Un
FESTANÇA JULINA, Festa junina é tudo de bom. Tem quentão, vinho quente, pinhão, batata doce, cuscuz e outras iguarias. Mas o que a gente vê por aí são festas artificiais, sem aquela graça da cultura caipira que os paulistas trouxeram do interior profundo para as cidades e assim resgatando a memória dos tempos de roça, de pomar, de gado pastando no atalho, da seriema correndo pela invernada, do jequitibá do lado da porteira, da pesca de anzol no riacho, do milho verde assado, do fogão a lenha, da galinha de angola e outras coisas que estão desaparecendo com o progresso. No último fim de semana o bom e velho amigo Sinézio Dozzi Tezza e a Ana Amélia resolveram abrir a casa nos arredores da Paulistânia para uma festa julina (porque foi no dia 2 de julho) a rigor, com todos os quitutes que se tem direito. E para deixar todo mundo com inveja, convidou dois bons violeiros e cantadores para alegrar a moçada e a vechiaria. Quem é que ouve hoje em dia canções como Romaria de Renato Teixe