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Mostrando postagens de setembro, 2016
QUE HORAS ELA  VAI CHEGAR? O filme se baseia numa história comum em nosso cotidiano. Uma empregada doméstica numa residência burguesa, que deixou a filha em Pernambuco aos cuidados de uma irmã. Mas a filha fica moça e resolve prestar vestibular para ingressar na USP. Estaria tudo certo se a empregada doméstica tivesse a sua própria casa para receber a filha. Mas não. Ela mora no emprego desde que chegou do Nordeste ajudando a criar o filho do casal, pois a mãe trabalha fora e o pai, um rico burguês que recebeu uma herança, não faz absolutamente nada, tampouco cuidar do filho. A dona da casa concorda que a filha da empregada venha morar em sua casa por um tempo suficiente para que ela se arranje. A partir daí as relações com a empregada começam a mudar. Antes ela era vista como uma pessoa da família, que ajudara a criar o filho do casal. Ela era ótima, pois não criava problemas e servia a família quase como um serviçal dos tempos coloniais. Com a filha, avessa aos padrõe
CIGARRO DE PALHA José, chefe de comitiva de boiadeiros, levava uma boiada para o Mato Grosso, quando deu uma parada para ver um boi que tinha se desgarrado. Foi aí que  apareceu o cavaleiro bem falante, que o abordou: - O senhor teria fumo? - Tenho, sim senhor, respondeu, oferecendo ao viajante. - O senhor por acaso teria um canivete? -Pois não, aqui está. O homem picou o fumo caprichosamente, devolvendo o canivete e o tolete de fumo para José e mais uma vez perguntou: - Não querendo abusar, o senhor teria palha? - Tenho sim senhor, respondeu, entregando a palha ao homem. Depois de enrolar o cigarro, o viajante ainda fez um novo pedido. - O senhor me faria o obséquio de emprestar o fogo? - Pode deixar que eu acendo, respondeu, pegando a binga e colocando o cigarro nos lábios. Acesso o cigarro, José deu uma tragada e acenou para o viajante dizendo: - Pode deixar que eu fumo pro senhor. E partiu a galope pela
A POLÊMICA DA FEIJOADA A feijoada é o prato da preferência nacional, não importa a classe social, a origem, a cor, a idade. Todos apreciam uma feijoada. Bem quase todos. Eu mesmo não sou um fã ardoroso do cozido de feijão com paio, linguiça, carne, toucinho, pé, joelho e outras partes do porco. Aliás, um suíno, parente do javali europeu que o nosso herói gaulês, Asterix e seu inseparável companheiro Obelix, preferiam assado na brasa. Para harmonizar uma feijoada os brasileiros preferem a indispensável cerveja bem gelada, mas há controvérsias. Um amigo somelier prova, com bons argumentos, que o melhor acompanhamento para a feijoada, um prato de sabores fortes, é um bom Cabernet Sauvignon. A cerveja fermenta no estômago e deixa o comensal estufado, segundo ele. Mas há também aqueles que não dispensam uma caipirinha antes e durante a orgia gastronômica. A origem da feijoada gera muita discussão. Meu querido amigo, o maestro Orlando Marcus Mancini, teimoso como ele só, diz que
FEITO EM CASA Tornou-se um costume lá em casa criar um porquinho nos fundos do quintal, apesar das leis municipais proibirem a prática em área urbana. Mas meu pai fazia ouvidos de mercador mantendo um chiqueirinho com uma boa drenagem de água para criar um leitão à base de milho. A grande preocupação era manter o local sempre limpo e desinfetado para que nenhum vizinho reclamasse e acabasse por gerar uma multa e um prazo de 48 horas para se desfazer do bichinho. Os porquinhos chegavam bonitinhos, engraçadinhos, mas acabavam crescendo e muito, tornando-se enormes, chegando a pesar mais de cem quilos. Nos primeiros dias ficava solto no quintal e nos divertíamos correndo atrás do animal. Mas logo ele era confinado e nosso trabalho consistia em limpar o local e abastecer o cocho com água e alimento. Mas sempre chegava a hora triste, quando bicho, já enorme e arrastando a barriga no chão seria sacrificado para o deleite dos apreciadores de carne suína. Um dia antes meu pai combi
Caminhas entre os mortos e com eles conversas... Quando criança os mortos me assustavam e com eles tinha pesadelos que terminavam com um grito no meio da noite.  Hoje, com tantos entes queridos e amigos mortos perdi o medo e também a esperança de que eles voltam para puxar as nossas pernas como as histórias que as minhas irmãs mais velhas contavam para assustar os irmãos mais novos. Minha mãe volta e meia sonhava com mortos: pai, mãe, irmãos e pelo menos com duas irmãs tinha sonhos frequentes. Uma dela se matou por ver seu amor proibido pela família e a outra se mudou para o Mato Grosso e nunca mais a viu. Com a última ficou uma pendência não resolvida. Era o remorso pela falta do perdão e de despedida. A que se matou era quase a sua mãe. Por ser a mais velha e minha mãe a mais nova, era quem cuidava dela enquanto a mãe cuidava da casa e das suas costuras. Quando minha mãe começou a ter demência senil, os seus encontros com os mortos ocorriam mesmo quando estava acordada. Qua
UMA CACHAÇA DA BOA Já estava perto do horário de almoço, quando chegou ao balcão do bar um homem de uns quarenta anos, se muito. Bem educado, perguntou pro Manoel, proprietário do bar se ele tinha uma cachaça da boa, daquelas de alambique pequeno, artesanal. “Mas tem que ser da boa mesmo, pois na minha terra é que tem cachaça de verdade. Sou lá de Minas, Salinas, a terra da cachaça, conheces”? Manoel não conhecia Salinas, mas tinha uma cachaça de um fornecedor pequeno, mas de excelente qualidade, explicou orgulhoso. “Só ofereço pra quem entende, não é pra qualquer gajo”, disse no seu sotaque lusitano pegando uma garrafa na prateleira. - Se é boa mesmo, então pode servir que eu quero provar, disse o estranho. Ao encher o cálice, o aroma da cachaça impregnou o ambiente, deixando o homem entusiasmado. Nisso ele oferece a bebida para uns três frequentadores do bar, que prontamente aceitaram a oferta, diante do olhar incrédulo do Manoel. - Pode servir, por favor. E faço ques
UM CRIME QUASE PERFEITO Todas as sextas-feiras ele fazia serão. Ligava para Margarete e dizia que tinha uma reunião de final de semana para acertar os detalhes para a segunda feira. Além disso, sempre dizia, “vou para o happy hour com o pessoal do escritório”. Em verdade, era tudo conversa fiada. Margarete sempre acreditava ou fazia de conta, pois por mais que procurava se enganar, o cheiro de perfume de mulher nas roupas dele era indício de que havia algo mais do que um inocente encontro com a turma do escritório. Mas ela era uma mulher conformada com a vidinha que levava. Não faltava nada em casa. Podia comprar suas coisinhas, ir ao cabelereiro, fazer as unhas e ainda tinha a sua mãe que morava com eles e os filhos. Nestor era um bom marido e não havia do que reclamar. Na sexta-feira ele chegava por volta das onze e meia. Tomava um banho rápido e caia na cama, pois no sábado, bem cedinho, tinha o compromisso de ir com a família para a chácara em Ibiúna. Era uma rotina. Levant