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Mostrando postagens de maio 12, 2012
OS DIÁRIOS DO ALMIRANTE A história vista pelos diários de bordo. Relendo os Diários de Bordo do Capitão e depois Almirante Graham Eden Hamond* escritos nos longínquos anos de 1825 e 1838, revi umas passagens interessantes em que o oficial inglês escreve sobre o Brasil e seu povo.  Na primeira parte do diário (1825), Hamond ainda era capitão e foi responsável por trazer a comitiva encarregada do reconhecimento da independência do Brasil. A maior parte do diário se refere aos encontros protocolares e alguns aspectos técnicos de navegação, mas como era do seu estilo fazer comentários sarcásticos sobre pessoas e costumes, não resisti e anotei alguns deles, muitos não são politicamente corretos para um oficial estrangeiro em viagem de representação, mas que representavam a visão eurocêntrica e elitista de uma potência imperial européia. Era agosto de 1825 e ele avista uma carruagem puxada por quatro cavalos que era dirigida por nada menos que o nosso jovem e fogoso imperador, inf
VIDA DE BOIADEIRO Meu amigo Álvaro Pequeno, por contradição um grande sujeito, no tamanho e na generosidade, defendeu uma tese um tanto atípica nos meios acadêmicos sobre os peões de boiadeiro em sua trajetória desde os tempos heróicos dos tropeiros. Os atuais peões de boiadeiro usam roupas de grife americanas, com botas que chegam a custar até dois mil dólares. As festas que são realizadas em Barretos chegam a reunir mais público dos que os grandes clássicos de futebol. Os peões colocam suas vidas em jogo por alguns segundos de fama em cima de um boi selvagem. Quando conseguem vencer a disputa e sobrevivem no lombo do boi, podem ganhar uma pequena fortuna. Quando não, podem sobrar umas costelas, pernas  quebradas ou até uma paralisia.  Os pobres peões são parte do espetáculo, mas dormem embaixo dos caminhões enquanto aguardam sua vez de entrar na arena e quando são acidentados são abandonados pelos organizadores. Quando soube da sua pesquisa lhe ofereci umas fotog
VIZINHOS Não conheço meus vizinhos. Não sei o que eles fazem, o que pensam, em quem votam ou do que não gostam. Alguns são silenciosos, outros são barulhentos, mas é somente isso que posso lembrar sobre eles. Quando era criança sabia a vida de todos os habitantes das redondezas. Meu bairro era uma pequena aldeia e todos estavam conectados. Hoje estamos todos conectados globalmente e perdemos o contato pessoal com as pessoas próximas. Pensando nisso, resolvi revisitar a mesma rua onde morei até os vinte e sete anos.  Era uma rua com pouco movimento e lá podíamos brincar de taco o dia inteiro sem o risco de passar um carro em velocidade. O taco era um tipo de basebol adaptado às circunstâncias e recursos disponíveis. Fui abrindo o livro da memória e resgatando os velhos tempos.  Naquela rua jogávamos também futebol com bolas de borracha, de couro ou feitas com meias. Trânsito só tinha mesmo nas ruas laterais, por onde transitavam os ônibus circulares. Algumas vezes os vizinhos r
O MARQUINHOS Marquinhos era “mariquinha”. Era assim que todos os garotos do bairro se referiam a ele. A molecada era cruel, mas ele nem dava bola para a galera. Com sete ou oito anos, passava batom na boca e usava os sapatos de salto de sua irmã mais velha. Muita gente da turma falava em “comer” o Marquinhos, mas era só conversa, principalmente, porque ele nem sabia direito o que era isso. E continuava com seu jeitinho efeminado, dengoso e sempre na dele. Pobre Marquinhos morava num cortiço com mais seis irmãos em apenas um quarto. O banheiro era dividido com outras famílias. Sua mãe dona Encarnacion, era uma espanhola magra e doente que trabalhava duro para sustentar a família. O marido de vez em quando aparecia para ver os filhos, mas ajudava pouco ou nada. O dono do cortiço quase sempre aparecia para cobrar os aluguéis atrasados. Parava o Chevrolet Bel Air e descia engravatado com o filho e um empregado. Era um acontecimento na vizinhança.  Era comer ou pagar o aluguel. Don