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Mostrando postagens de maio, 2008
As Isabellas são mais comuns do que se pensa. A tragédia de Isabella Nardoni, longe de ser um caso excepcional em que o pai e a madrasta podem ter trucidado a garota, não é nada absolutamente novo em nossa sociedade. Somente nos últimos dias vieram à tona vários casos de crianças assassinadas, agredidas ou torturadas dentro de casa aqui e no mundo. Então por que tanta celeuma em torno do crime? Parece-me que o caso ganhou tanta projeção apenas por se assemelhar a um folhetim policial ou uma novela da Rede Globo. Todo mundo desconfia do casal, mas eles não confessam e alegam inocência. Ai gera a expectativa de que num determinado momento eles vão confessar o crime. Cria-se uma torcida e há inconscientemente o desejo de todos para que confessem publicamente que foram os autores da tragédia. A polícia faz aí o papel do mocinho que descobre todas as provas, mas a defesa e os suspeitos (os maus da novela) continuam negando e dissimulando. Fica a impressão de que os telespectadores ficam ang
HILLARY, OBAMA OU McCAIN? As eleições norte-americanas vem despertando grande interesse entre nós, talvez muito mais do que nas eleições anteriores. Qual seria a razão para que vários articulistas se dediquem ao tema, quase que diariamente? É claro que a presença de uma mulher candidata ao cargo é uma grande novidade, pois pela primeira vez em mais de duzentos anos da democracia americana, uma se apresenta com alguma probabilidade de vencer. A outra novidade, obviamente, é a candidatura de um negro, também com chances de chegar lá. A pergunta que todos fazem é se a sociedade americana está amadurecida para ser governada por uma mulher ou por um homem negro. Os articulistas inicialmente descartaram a possibilidade do Barack Obama vencer, pois a questão racial fatalmente viria à tona, considerando que Hillary Clinton teria maior probabilidade de vencer o candidato republicano McCain, pois poderia atrair os votos tanto de brancos como de negros e latinos, que normalmente apóiam os democr

CARANDIRU, impressões de um visitante

Abriram-se as portas do Carandiru e uma grande horda de tribos das mais diversas origens afluiu para ver, com os próprios olhos, como viviam os excluídos da história. Com os próprios olhos tem um sentido relevante, pois ver com os olhos alheios pode implicar em digerir leituras diferentes, com base em narrativas carregadas de emoções, visões místicas, espiritualistas ou materialistas dos fatos. Afinal, como diz Walter Benjamim, cada narrador carrega nas suas tintas, deixando no vaso as marcas de suas próprias mãos. Numa longa fila, estavam jovens, brancos, negros, mestiços, homens, mulheres, católicos, protestantes, leigos, religiosos, piedosos ou sádicos. Todos esperavam ansiosos para conhecer os labirintos de um dos maiores centros penitenciários do país, aonde chegaram a viver (será?) mais de 7 mil presos. O ambiente ainda guardava um cheiro meio envelhecido de seres humanos que ali se amontoavam. Celas sujas, com roupas velhas abandonadas, revistas, jornais, papéis e alguns utensíl
Abotoou o paletó ou a história moderna da vestimenta, uma analogia ao De Pallio de Tertuliano Ao encontrar o amigo Zéca, despudoradamente, sem paletó no casamento do filho de um amigo, brinquei com a sua falta de “compostura”. Onde já se viu ir a um casamento sem paletó e gravata? Diante do seu sorriso matreiro, insisti que um paletó era uma indumentária essencial. Afinal, mesmo para partir desta para melhor, é preciso de um. O amigo riu da observação, mas continuou achando que a clássica peça do vestuário masculino era desnecessária e excessivamente burguesa para o seu gosto. E ainda avisou que contaria comigo para o caso de precisar de tal peça para o enterro. “Depois a gente se acerta no purgatório”, completou se divertindo. Essa conversa me conduziu à infância e me fez lembrar de um presente que meu pai deu a cada um dos meus dois irmãos menores. Era uma pequena gaita de plástico, uma coisa sem muita importância. Entretanto, aquilo me magoou profundamente. Ao perceber o meu desapo

Jogava um pano legal em cima de mim ou uma singela homenagem ao Edson José da Silva, o Zéca

Era o casamento do filho de um amigo. Aí eu me pergunto: Com que roupa? Ponho a gravata ou não? Será que não ficaria um pouco exagerado ir de gravata num casamento e sem ser padrinho? Finalmente decidi colocar a gravata no pescoço meio envergonhado em usar uma roupa tão formal para encontrar com velhos amigos. Chegando a igreja percebi que todos estavam vestidos com costume risca de giz, impecáveis. O meu terno, marrom escuro, que pensei estar muito chique, ficou obscurecido pela elegância reinante. Mas no meio da igreja, sentado muito a vontade, com uma camisa listrada e arregaçada nas mangas, estava o Zéca, desafiando o mundo. Até o filho, um adolescente de dezessete anos estava impecável. Ele optou por uma vestimenta trivial, despojada, ainda que elegante, como sempre. Mas o Zéca é assim mesmo, detesta formalismo, detesta bares e restaurantes em que os garçons se vestem de pingüim e o chamam de doutor. “Não tenho nada contra os veados, mas detesto mesmo a veadagem”, costuma dizer qu