As Isabellas são mais comuns do que se pensa.
A tragédia de Isabella Nardoni, longe de ser um caso excepcional em que o pai e a madrasta podem ter trucidado a garota, não é nada absolutamente novo em nossa sociedade. Somente nos últimos dias vieram à tona vários casos de crianças assassinadas, agredidas ou torturadas dentro de casa aqui e no mundo. Então por que tanta celeuma em torno do crime? Parece-me que o caso ganhou tanta projeção apenas por se assemelhar a um folhetim policial ou uma novela da Rede Globo. Todo mundo desconfia do casal, mas eles não confessam e alegam inocência. Ai gera a expectativa de que num determinado momento eles vão confessar o crime. Cria-se uma torcida e há inconscientemente o desejo de todos para que confessem publicamente que foram os autores da tragédia. A polícia faz aí o papel do mocinho que descobre todas as provas, mas a defesa e os suspeitos (os maus da novela) continuam negando e dissimulando. Fica a impressão de que os telespectadores ficam angustiados porque todos estão vendo os fatos e só a justiça e a defesa não consegue enxergar.
Ficam todos esperando a prova cabal em que os suspeitos vão assumir a culpa por estarem sem saída, sem argumentos. No momento da confissão ocorreria o gozo geral da sociedade que acompanha o caso. A prisão dos suspeitos não resolve o problema, porque não houve a expiação da culpa e sem isso, não há gozo possível. Fica um grito parado no ar, que não se concretiza, não se liberta. O gozo seria a catarse final, a libertação como processo apoteótico de espetáculo interativo, tipo “Você decide” ou o Big brother. Os apresentadores fazem suspense, anunciando que dentro de poucos instantes falará um psicanalista ou um perito criminal que dará informações importantíssimas sobre o caso. Mas qual o quê, nada de novo! As informações são repetitivas ou meras suposições que não levam a elucidação do caso.
Se acaso, o que considero pouco provável, surgisse alguém que viu ou que confessasse o crime, livrando o casal, o efeito também seria o mesmo. O gozo se daria através do choro emocionado de toda a sociedade que condenou alguém sem culpa. Só que aí a expiação seria dos expectadores e não dos criminosos, que seriam comuns, corriqueiros. Todos se comprometeriam em orações ou junto ao travesseiro que nunca mais condenariam ninguém sem provas definitivas (isso até o próximo espetáculo).
Se as coisas de fato ocorreram conforme os laudos indicam e que não houve tempo, nem motivo para o crime ter sido cometido por um terceiro ou por terceiros, não seria nada extraordinário, pois a família pode ser um lugar extremamente perigoso, principalmente para as crianças, que são frágeis e muitas vezes irritantes (principalmente as dos outros), que choram quando queremos dormir ou quando estamos vendo o nosso time preferido jogar ou durante um filme. Como nem todos têm a paciência de Jó ou chutam as paredes para não fazer nenhuma besteira, tragédias acontecem... As mães são, normalmente, mais tolerantes por força da própria biologia, mas não confiem muito, pois na semana passada uma delas jogou uma criança de três meses no rio para se livrar das responsabilidades maternas. Há uns quinze dias uma outra mãe prendia a filha com correntes na cama e a marcava com ferro quente. E atire a primeira pedra quem não levou uma surra de fazer xixi nas calças quando criança? Felizmente as surras deixam na maioria das vezes apenas marcas físicas ou psicológicas, mas um tapa de um adulto na cabeça de uma criança pode provocar uma tragédia.
Os outros mamíferos são muito interessantes quando observados sob a perspectiva de uma espécie superior que ainda imagino ser a nossa. Minha cadela teve filhotes os quais protegia com unhas e dentes contra as investidas do pai. A explicação funcional para esse comportamento, é que é comum o pai eliminar os filhotes machos por temerem uma possível concorrência, razão pela qual a mãe, instintivamente, reage agressivamente contra a mera aproximação do macho pai. Normalmente, os machos detestam os filhotes, mas aconteceu algo inusitado lá em casa; ao ter a oportunidade de se aproximar dos filhotes, o pai mostrou-se afetuoso com todos, inclusive os machos. Assim como no comportamento dos animais, as teorias não funcionam de forma linear e previsível. Podemos ser surpreendidos ao descobrir que pessoas estudadas e bem nascidas se revelam pais ou mães violentos contra os filhos ou vice versa, como foi o caso da Suzane que articulou o assassinato brutal dos pais. O ser humano é sempre uma incógnita; aliás, como todos os outros animais. Podemos ser cruéis ou generosos, tolerantes ou vingativos ou podemos ser tudo e nada disso. Somos todos, com certeza, caixas de Pandora, da qual pode tudo sair.
A tragédia de Isabella Nardoni, longe de ser um caso excepcional em que o pai e a madrasta podem ter trucidado a garota, não é nada absolutamente novo em nossa sociedade. Somente nos últimos dias vieram à tona vários casos de crianças assassinadas, agredidas ou torturadas dentro de casa aqui e no mundo. Então por que tanta celeuma em torno do crime? Parece-me que o caso ganhou tanta projeção apenas por se assemelhar a um folhetim policial ou uma novela da Rede Globo. Todo mundo desconfia do casal, mas eles não confessam e alegam inocência. Ai gera a expectativa de que num determinado momento eles vão confessar o crime. Cria-se uma torcida e há inconscientemente o desejo de todos para que confessem publicamente que foram os autores da tragédia. A polícia faz aí o papel do mocinho que descobre todas as provas, mas a defesa e os suspeitos (os maus da novela) continuam negando e dissimulando. Fica a impressão de que os telespectadores ficam angustiados porque todos estão vendo os fatos e só a justiça e a defesa não consegue enxergar.
Ficam todos esperando a prova cabal em que os suspeitos vão assumir a culpa por estarem sem saída, sem argumentos. No momento da confissão ocorreria o gozo geral da sociedade que acompanha o caso. A prisão dos suspeitos não resolve o problema, porque não houve a expiação da culpa e sem isso, não há gozo possível. Fica um grito parado no ar, que não se concretiza, não se liberta. O gozo seria a catarse final, a libertação como processo apoteótico de espetáculo interativo, tipo “Você decide” ou o Big brother. Os apresentadores fazem suspense, anunciando que dentro de poucos instantes falará um psicanalista ou um perito criminal que dará informações importantíssimas sobre o caso. Mas qual o quê, nada de novo! As informações são repetitivas ou meras suposições que não levam a elucidação do caso.
Se acaso, o que considero pouco provável, surgisse alguém que viu ou que confessasse o crime, livrando o casal, o efeito também seria o mesmo. O gozo se daria através do choro emocionado de toda a sociedade que condenou alguém sem culpa. Só que aí a expiação seria dos expectadores e não dos criminosos, que seriam comuns, corriqueiros. Todos se comprometeriam em orações ou junto ao travesseiro que nunca mais condenariam ninguém sem provas definitivas (isso até o próximo espetáculo).
Se as coisas de fato ocorreram conforme os laudos indicam e que não houve tempo, nem motivo para o crime ter sido cometido por um terceiro ou por terceiros, não seria nada extraordinário, pois a família pode ser um lugar extremamente perigoso, principalmente para as crianças, que são frágeis e muitas vezes irritantes (principalmente as dos outros), que choram quando queremos dormir ou quando estamos vendo o nosso time preferido jogar ou durante um filme. Como nem todos têm a paciência de Jó ou chutam as paredes para não fazer nenhuma besteira, tragédias acontecem... As mães são, normalmente, mais tolerantes por força da própria biologia, mas não confiem muito, pois na semana passada uma delas jogou uma criança de três meses no rio para se livrar das responsabilidades maternas. Há uns quinze dias uma outra mãe prendia a filha com correntes na cama e a marcava com ferro quente. E atire a primeira pedra quem não levou uma surra de fazer xixi nas calças quando criança? Felizmente as surras deixam na maioria das vezes apenas marcas físicas ou psicológicas, mas um tapa de um adulto na cabeça de uma criança pode provocar uma tragédia.
Os outros mamíferos são muito interessantes quando observados sob a perspectiva de uma espécie superior que ainda imagino ser a nossa. Minha cadela teve filhotes os quais protegia com unhas e dentes contra as investidas do pai. A explicação funcional para esse comportamento, é que é comum o pai eliminar os filhotes machos por temerem uma possível concorrência, razão pela qual a mãe, instintivamente, reage agressivamente contra a mera aproximação do macho pai. Normalmente, os machos detestam os filhotes, mas aconteceu algo inusitado lá em casa; ao ter a oportunidade de se aproximar dos filhotes, o pai mostrou-se afetuoso com todos, inclusive os machos. Assim como no comportamento dos animais, as teorias não funcionam de forma linear e previsível. Podemos ser surpreendidos ao descobrir que pessoas estudadas e bem nascidas se revelam pais ou mães violentos contra os filhos ou vice versa, como foi o caso da Suzane que articulou o assassinato brutal dos pais. O ser humano é sempre uma incógnita; aliás, como todos os outros animais. Podemos ser cruéis ou generosos, tolerantes ou vingativos ou podemos ser tudo e nada disso. Somos todos, com certeza, caixas de Pandora, da qual pode tudo sair.
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