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Mostrando postagens de 2008

TENTATIVAS POÉTICAS

Bananeira O pé de banana Deu cachos Doces bananas E a lesma se lambuza No ácido doce E o bem-te-ví Regala-se Na jabuticabeira E o jabuti É apenas um nome em um indecifrável Dicionário. O mar O mar molha A praia dos meus sentidos E meus ouvidos Ouvem o marulhar Mas o mar Não chega ao planalto Alto e insone plano Para que o mar? Se a vida já secou Secou? Ou as dores do corpo Perderam O sentido do mar? Meu avô Meu avô Dormia um sono Sono de pedra Entre ossos E lembranças Que eram gravadas Na fina teia Do cálcio. Minha mulher Minha mulher Não é minha Pois ela é que me tem Povoa-me de beijos Arrasta-me Loucamente Para sua teia De desejos Eu que não sou nada Perco-me na lambança De seu território Infinito Onde se escondem Inefáveis prazeres. Minha filha Traça Silenciosamente Minha continuidade Mas se recusa A sê-la Ela quer ser Nada mais do que ela E eu Sigo a narrativa Inenarrável Dos seus olhos Cor de mel. dezembro de 2008

OS NOSSOS PRESIDENTES

Lembro-me ainda criança no final dos anos 60 o quanto era difícil escrever Kubitschek, o sobrenome de origem tcheca do presidente da República. Quem não conseguia escrever corretamente perdia pontos na prova e por isso me esmerava em escrever o nome complicado do primeiro mandatário. Naquela época via o presidente apenas em jornais e revistas, pois não tínhamos televisão em casa. Ainda criança cheguei a ver o JK na televisão numa entrevista. Ele falava com bastante desenvoltura e de forma muito otimista sobre o Brasil, apesar de ter ficado longe do país durante muito tempo. Uma das frases que disse foi: “Ao viajar de automóvel por São Paulo, fiquei espantado com o progresso, tive a impressão de estar nos Estados Unidos, com boas estradas e fazendas bem cuidadas”. Era um sujeito simpático, elegante e bem humorado, mas os seus críticos não perdoaram o caos financeiro que deixou pela construção de Brasília. O presidente que o sucedeu, JQ era muito carrancudo, sempre mal humorado e com o c

OBAMA E A GRANDE VIRADA

Na pele de um negro ou Black like me, de John Howard Griffin , foi a história de um jornalista norte-americano branco nos anos 1960 que raspou os cabelos e escureceu a pele através de processos químicos e foi viver como um negro no sul do seu país. Este livro construiu o meu imaginário adolescente sobre os Estados Unidos, uma nação que segregava a minoria negra de forma cruel e violenta. Relembro uma passagem em que ele estava sentado em um ônibus e olhou para uma mulher branca para oferecer-lhe o lugar. Ele foi prontamente repudiado simplesmente por se atrever a olhar para uma mulher branca. É através do olhar que nos identificamos como seres humanos e esse olhar lhe foi negado. Griffin sentiu uma profunda solidão, num mundo que era hostil a ele e a cor da pele que não era dele, mas apenas uma representação. Como um ator , ele voltou ao mundo real e publicou o que viu e sentiu na pele de um negro. Não sei se todos os afro-americanos, depois de mais de quarenta anos da universaliza

O IRAQUE NUNCA ESTEVE TÃO PERTO

O Iraque não está tão longe. A expressão "está para lá de Bagdad" perdeu o sentido no mundo globalizado. Infelizmente, a violência que campeia por lá, também está por aqui. De repente podemos ser uma das vítimas ou nossos parentes, amigos e conhecidos. Estamos todos com as cabeças enfiadas na terra, como avestruzes, sem querer enxergar que chegamos a beira do abismo. Há tempos estamos vendo notícias que informam que grupos marginais roubaram quartéis do exército e das polícias militares. Outras dão conta de que os bandidos utilizam armas muito mais sofisticadas do que as disponíveis para nossos policiais. O embate torna-se desigual, desequilibrando o confronto. De um lado, temos policiais militares que têm esposa, filhos ou pai e mãe. Do outro, temos marginais que estão por conta da vida, ou seja, estão para o que der e vier, pois vieram de um ambiente em que a vida não tem mais nenhum valor, em que os vínculos familiares, quando existem, são bastante tênues. De um lado, prof

A MORTE INOVADA

“Funeral é um negócio como qualquer outro e precisa ser inovado constantemente”. A frase, ouvida num jornal na TV me deixou um tanto chocado, pois me habituei a ouvir e ver a morte como algo funesto, desagradável e que coveiro ou o agente funerário eram as piores profissões do mundo, com todo respeito que todas as profissões merecem. Quando criança passava longe das funerárias e só de pensar que um ente querido poderia ser encaixotado me causava arrepios. Lembro-me que ao descobrir que um colega do colégio era filho do proprietário de uma agência, provocou o meu distanciamento dele tal como o diabo foge da cruz. Um carro funerário passando pela rua me provocava asco e olhava para o outro lado. A cor rocha até hoje me é desagradável, por mais que queiram me convencer que é uma cor da moda. Algum trauma de infância diagnosticaria um psicanalista interessado em algumas sessões de análise. Um medo infundado creio eu, mas pode ter origem nas histórias que eu ouvia quando criança, pintando a

LUPICÍNIO RODRIGUES REVISITADO

Eu não sei se o que trago no peito É ciúme, despeito, amizade ou horror Eu só sei que quando eu a vejo Me dá um desejo de morte ou de dor O crime de Lindembergue Alves, que assassinou sua ex-namorada Eloá e feriu gravemente a amiga dela, Mayara, me fizeram lembrar dos versos do grande compositor gaúcho, Lupicínio Rodrigues, que foi classificado como shakesperiano por Augusto de Campos. O moço não sabia, tal como o poeta, o que ele trazia no peito, depois do fim de uma relação afetiva. O poeta, como diria Fernando Pessoa, é um fingidor, mas o amante nem sempre consegue sublimar a sua dor através da poesia ou outra forma não violenta. O desejo de morte ou de dor tomou conta do rapaz que não viu alternativa, a não ser mostrar para a jovem todo o seu sofrimento, ficando exposto ao risco de perder a vida e levá-la para o mesmo caminho. A relação tinha tudo para não dar certo. Ele com vinte e dois anos e ela com quinze. Ele, um garoto mal amado que procurava na família da namorada um aconche

A CASA DO BARÃO

Passando por Monteiro Lobato, bucólica cidadezinha do Vale do Paraíba, vimos uma pequena placa “Sítio do Pica Pau Amarelo”. As lembranças do seriado na TV, dos livros do Monteiro Lobato, fizeram com que nossas resistências fossem minadas e pegamos a estradinha poeirenta para conhecer o tal sítio. A viagem foi mais longa do pensávamos, uma estrada que há muito não é conservada e entre subidas e descidas avistamos o casarão colonial que reina majestoso num pequeno vale. Fomos bem recebidos por vários cães que quase impediram que saíssemos do carro. Mas a proprietária, que não é parente do escritor, nos convidou a visitar a casa por módicos três reais. Contou-nos ela que seu avô comprou a fazenda de um negociante que por sua vez havia comprado do escritor, depois do seu fracasso como fazendeiro. Ainda bem, pois caso contrário o Brasil e o mundo teriam deixado de conhecer as fantásticas aventuras de Narizinho, Pedrinho, a boneca Emília, o Visconde de Sabugosa e outros personagens que povoa

DORIVAL CAYMMI

Meu amigo Zéca cobrou-me uma crônica sobre o velho bardo da canção praieira da Bahia. Eu cá sem nenhuma inspiração para escrever sobre uma das maiores figuras da nossa música popular brasileira. Quem não conhece Caymmi? Minha mãe, já velhinha, não sabe quem é. Pois é, mesmo assim, apesar de não se lembrar, ela ainda consegue cantarolar algumas velhas canções como Maracangalha, Marina, Peguei um Ita no norte e outras. Ainda me recordo de ouví-la cantar em casa enquanto cuidava dos afazeres domésticos. Tinha uma voz de soprano e pelo que me consta era razoavelmente afinada. E assim, eu cresci ouvindo o Caymmi, pelo rádio ou através da voz materna. Que privilégio. Sua obra é mais conhecida do que ele mesmo. Caymmi foi um letrista inspirado que compunha com a simplicidade dos mestres, que sabia tocar forte em qualquer pessoa minimamente sensível. Quem não sente uma saudade danada ao ouvir “Peguei um Ita no Norte”, mesmo que nunca tenha morado no norte ou que tenha ido para o Rio de Janeiro

LYGIA FAGUNDES TELLES

Barra de São João, uma pequena vila da cidade de Casemiro de Abreu no Rio de Janeiro, era onde passávamos nossas férias de verão. Um lugar bucólico, com a arquitetura colonial preservada em algumas casas, talvez pelo fato das praias não serem tão atrativas aos turistas como da sua vizinha Rio das Ostras. Mas era ali que ficava a casa onde morou o poeta Casemiro de Abreu e também onde ele estaria sepultado (diz o povo que o corpo foi roubado). Mas foi também ali, em frente ao Rio São João, num casarão colonial abandonado pelo descaso do poder público, que o grande pintor Pancetti morou por algum tempo, buscando inspiração para suas belas marinhas. Lá tudo andava devagar e devagar as janelas se abriam e fechavam observando lentamente os passantes. E foi ali, numa de nossas férias que o nosso querido Fiico, um sósia do Martinho da Vila, um sujeito simpático e bom de conversa, além de violonista de primeira nos contou que a escritora Lygia Fagundes Telles estava hospedada na pousada onde h

MEU PRIMEIRO NERUDA

Comprei meu primeiro Neruda em meados dos anos 80, não me lembro ao certo e foi um acontecimento. Li os primeiros poemas ainda em pé na livraria e prometi, na hora de fazer o pagamento, que devoraria o livro e que satisfaria a minha ansiedade da poesia do grande poeta chileno. Qual o que! Li algumas páginas e o Canto Geral, era esse o nome do livro, ficou acumulando a poeira do tempo na estante. De tempos em tempos olhava para a brochura e continua prometendo que o leria em breve e nada de cumprir a promessa. A vida moderna, com muito trabalho, o nascimento da única filha, o stress e tudo o mais e fui deixando, para o futuro, a leitura. Às vezes lia algum dos poemas para minha filha antes de dormir, mas, sinceramente, ela preferia o Drummond. O verso “O vento brinca nos bigodes do construtor” era o seu preferido e ela ria de modo a ouvir-se de longe. Tempos depois um amigo, suspeitando que eu fosse um apaixonado pela poesia de Neruda me presenteou com os Versos do Capitão, com uma bela

OS VELHOS COMPANHEIROS

Apesar da garoa fina e do frio, lá vamos nós para uma festa na casa de amigos. Às vezes falta coragem, mas sempre vale a pena quando a alma não é pequena. Nada tão saboroso como os doces encontros com os amigos e amigas de antigas jornadas. Abraços demorados, repletos de afeto e alegria por rever pessoas que fazem parte da nossa história, dos nossos sonhos, das nossas aventuras e desventuras. Sempre festejamos os aniversários, os casamentos, os nascimentos e muitas vezes era apenas para comemorar um retorno, um dia bonito, uma noite de lua cheia ou simplesmente a vontade de rever os velhos companheiros. Todos são, ou melhor, eram bons de copo. Alguns são vigiados atentamente pelas mulheres, que aproveitando a lei seca, impuseram severo controle sobre o vinho, o uísque e a cerveja. Um copinho só não faz mal... Até o final da festa já passou o efeito... E a conversa vai pegando ritmo. Não se fala mais de política, de violência e de corrupção porque ninguém agüenta mais. Fala-se mais de p

O EXTERNATO MATTOSO E A VELHA MOOCA

Num taxi em direção à Mooca, um velhinho no volante foi me falando com seu sotaque italianado sobre o bairro que conhecia como a palma de sua mão. Ele nasceu e foi criado lá. Hoje, motorista de táxi pertence à cidade, rodando por tudo quanto é canto da São Paulo desvairada. Paramos em frente ao antigo Externato Mattoso, na Rua dos Trilhos e ele se pôs a falar sobre sua infância quando lá estudava. - As professoras eram muito rigorosas e ainda hoje tenho marcas de grãos de milho nos joelhos, comentou saudoso. Quem passava até pouco tempo atrás pela Rua dos Trilhos, ainda via uma construção antiga com a inscrição: Externato Mattoso. Lá funcionou de 1910 até meados dos anos sessenta, a primeira escola do bairro. Lá três irmãs, a Etelvina, a Arlinda e a Marianna da Costa Mattoso, ensinavam as crianças a ler e a escrever. Naquela época, na Mooca, um bairro tipicamente operário, se falava mais o italianês do que o português. Na verdade a língua predominante era o dialeto Vêneto

Histórias de Piedade (II)

Dedo estava em novas atividades no banco. Agora era um inspetor de financiamento rural e seu trabalho consistia em visitar os clientes do banco para verificar se estavam aplicando corretamente os recursos. Pegou a pastinha com a relação dos clientes a serem visitados, subiu na motocicleta e saiu para mais um dia de trabalho. As estradas vicinais são difíceis, mal conservadas e sem nenhum tipo de sinalização ou indicação. Para localizar as pessoas nos sítios era preciso ir perguntando para quem encontrava pelo caminho. Muitos dos clientes são conhecidos por apelidos, o que torna a tarefa ainda mais difícil. Um tal de Antonio José dos Santos foi muito difícil de achar. Ninguém conhecia o homem até que um senhor se lembrou e disse: - Deve ser o Toto do Titico. Ele mora lá em riba. Chegando lá encontrou uma senhora de meia idade varrendo o quintal em frente a casa. Estava tão concentrada em seu trabalho que nem percebeu a moto chegar. Ela parou de varrer e apoiando as mãos na vassoura

Histórias de Piedade I

Histórias de Piedade Murilo deu um bocejo e sentiu que já estava passando da hora de fechar a bodega. Fazer as contas, pegar o caminho de casa e descansar para mais um dia de labuta. Já ia pegando a chave quando entrou um velho com uns setenta e poucos anos. O homem chegou meio cambaleando e parou no balcão. Tirou o chapéu e pediu um café bem forte. O Murilo pensou com seus botões, mais essa agora... Na horinha de fechar. Café até que tinha um restinho que havia sobrado, mas servir, sujar copo e ainda agüentar conversa de bêbado? De jeito nenhum. - Não tem mais café não meu amigo. Acabou. O homem fez de conta que nem ouviu a resposta do dono do bar e emendou em seguida um novo pedido: - Então o senhor me faz um misto quente com bastante queijo. O Murilo já foi perdendo a paciência de Jô e, pedindo desculpas, disse que a chapa já estava fria e que não dava para fazer o lanche não. Bem agora o homem vai embora e eu posso fechar as portas, pensou. Ledo engano, o velhinho não desistiu

MONTE VERDE

“Verde que te quiero verde/ Verde viento, verde rama” (Garcia Lorca) Pela primeira vez estou em Monte Verde. Apesar do frio quase suportável, principalmente à noite, e muita poeira na estrada, vale a pena deixar a paulicéia desvairada e dar uma relaxada na pequena vila incrustada na serra da Mantiqueira. É uma Campos do Jordão menor, menos estressada e mais bucólica. O ambiente é mais caseiro e é possível passar na Rua dos Bem-te-vis e visitar a casa da dona Nata, uma paulistana que adotou Monte Verde há muitos anos e curtir os beija-flores que invadem o seu quintal, além dos esquilos que vêm comer amêndoas na mão da gente. Depois é só comprar um potinho de geléia de amoras ou de framboesas (não é obrigatório, mas é educado) que o seu marido, o seu Renato, prepara ouvindo o canto das sabiás. Na Pousada Locanda Belvedere onde estamos hospedados, o ambiente é bastante aconchegante, com muita música popular brasileira sob a direção de um dos sócios, o Roberto Lapicirela, um boêmio, com

MANAUS E O ENCONTRO DAS ÁGUAS

Por hoje e talvez por amanhã também, nada será tão poético para mim como a expressão: o encontro das águas. Águas que vêm do sem-fim das Américas, das águas do degelo dos Andes, que vêm arrastando paus, pedras, vidas, flores, dores, amores por onde passam e de repente se encontram com outras águas, águas escurecidas, que vêm do norte, do sem fim do lado de lá do Equador. E foi isso que eu vi, com esses olhos que um dia a terra há de devorar que as águas do Solimões e as águas do Rio Negro se abraçam num enlace amoroso e permanente até chegar ao mar. Uma simpática senhora manauense me perguntou se era realmente verdade que das margens do Rio Negro seria possível mesmo ver o encontro das águas. A verdade está no olhar de cada um. O poeta finge que vê e que também não vê. Enquanto isso, o rio arrasta suas águas indefinidamente até o final dos tempos. O físico e quase poeta Stephen Hawking disse que o universo em expansão um dia faria o caminho inverso até o nada. Voltaríamos todos até o

REFLEXÕES SOBRE OS DIREITOS SOCIAIS

A sociedade moderna é um espetáculo de exclusões sociais constantes. A cada nova turbulência do capitalismo milhões de indivíduos são jogados numa vala comum. Essa imagem é metafórica, mas não perde conexão com a realidade concreta. Não se trata de um massacre clássico no sentido da violência física em que o carrasco se apropria do corpo do outro e o destrói. É um massacre sutil, mas igualmente destrutivo, pois nega ao outro os direitos fundamentais à vida. É o massacre em que são utilizados mecanismos retóricos que mascaram uma ideologia cruel e avassaladora, convencendo o outro da sua condição de paria social, de um desnecessário ao sistema produtivo, algo descartável no sentido exato que se dá a esse termo na sociedade de consumo, enfim, é a reificação do ser humano. O espaço público é negado da forma mais violenta, pelo não reconhecimento ou mesmo da negação da existência do outro. Como destaca Hannah Arendt (2001) a história do mundo moderno poderia ser descrita como a história

Oscar de Vito, um artista de talento

Depois de vinte e três anos fomos rever um amigo. Lá estava ele com os bigodes grisalhos, os olhos ainda mais miúdos e o sorriso simpático. O abraço ainda era forte e sincero, sugerindo que sentia prazer em rever-nos. Mal sabíamos por onde começar. Falar de trabalho, de lembranças antigas, da cidade, do barulho, da crise econômica, do medo do futuro? Mas as pessoas que não tiveram uma relação formal ou apenas superficial, mas profunda, acabam desatando os nós do tempo e articulando novas conversas e por fim conseguem se reencontrar como se o tempo não tivesse passado, que foi apenas um breve intervalo entre acontecimentos. A casa muito aconchegante, com quadros de barcos espalhados pelas paredes, sugerindo que estava ocupada por um velho marinheiro que abandonara suas lidas com o mar e se recolhera ao aconchego de antigas lembranças. Confesso que fiquei surpreso com o interesse do amigo por barcos, mar, marinheiros, pois tinha em mente que o Oscar era pouco ligado ao mar e preferia o i

JOSÉ DE ARRUDA PENTEADO, UM EDUCADOR

Num dia desses  visitava um sebo para passar o tempo, quando, surpreso, vi o livro Comunicação Visual e Expressão, do professor José de Arruda Penteado. Comprei o exemplar e pus-me a recordar os tempos de faculdade em que ele era professor e nosso mentor intelectual. Era uma figura ímpar, com seu vozeirão impostado e uma fina ironia. Rapidamente estreitamos contato e nas sextas-feiras saíamos em turma para tomar vinho e conversar. Era um dos poucos professores em que era possível criticar, sem medo, a ditadura militar. Penteado era um educador, profissão que abraçara com convicção e paixão. Seu ídolo e mestre foi o grande pedagogo Anísio Teixeira, que ele enaltecia com freqüência em nossos encontros semanais. Defendia um modelo de educação voltado para uma prática socialista e democrática, coisa rara naqueles tempos. Depois disso, soube que estava coordenando o curso de mestrado em Artes Visuais da Unesp e ficamos de fazer contato com o ilustre e inesquecível mestre. Mas o tempo
As Isabellas são mais comuns do que se pensa. A tragédia de Isabella Nardoni, longe de ser um caso excepcional em que o pai e a madrasta podem ter trucidado a garota, não é nada absolutamente novo em nossa sociedade. Somente nos últimos dias vieram à tona vários casos de crianças assassinadas, agredidas ou torturadas dentro de casa aqui e no mundo. Então por que tanta celeuma em torno do crime? Parece-me que o caso ganhou tanta projeção apenas por se assemelhar a um folhetim policial ou uma novela da Rede Globo. Todo mundo desconfia do casal, mas eles não confessam e alegam inocência. Ai gera a expectativa de que num determinado momento eles vão confessar o crime. Cria-se uma torcida e há inconscientemente o desejo de todos para que confessem publicamente que foram os autores da tragédia. A polícia faz aí o papel do mocinho que descobre todas as provas, mas a defesa e os suspeitos (os maus da novela) continuam negando e dissimulando. Fica a impressão de que os telespectadores ficam ang
HILLARY, OBAMA OU McCAIN? As eleições norte-americanas vem despertando grande interesse entre nós, talvez muito mais do que nas eleições anteriores. Qual seria a razão para que vários articulistas se dediquem ao tema, quase que diariamente? É claro que a presença de uma mulher candidata ao cargo é uma grande novidade, pois pela primeira vez em mais de duzentos anos da democracia americana, uma se apresenta com alguma probabilidade de vencer. A outra novidade, obviamente, é a candidatura de um negro, também com chances de chegar lá. A pergunta que todos fazem é se a sociedade americana está amadurecida para ser governada por uma mulher ou por um homem negro. Os articulistas inicialmente descartaram a possibilidade do Barack Obama vencer, pois a questão racial fatalmente viria à tona, considerando que Hillary Clinton teria maior probabilidade de vencer o candidato republicano McCain, pois poderia atrair os votos tanto de brancos como de negros e latinos, que normalmente apóiam os democr