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HILLARY, OBAMA OU McCAIN?


As eleições norte-americanas vem despertando grande interesse entre nós, talvez muito mais do que nas eleições anteriores. Qual seria a razão para que vários articulistas se dediquem ao tema, quase que diariamente? É claro que a presença de uma mulher candidata ao cargo é uma grande novidade, pois pela primeira vez em mais de duzentos anos da democracia americana, uma se apresenta com alguma probabilidade de vencer. A outra novidade, obviamente, é a candidatura de um negro, também com chances de chegar lá. A pergunta que todos fazem é se a sociedade americana está amadurecida para ser governada por uma mulher ou por um homem negro. Os articulistas inicialmente descartaram a possibilidade do Barack Obama vencer, pois a questão racial fatalmente viria à tona, considerando que Hillary Clinton teria maior probabilidade de vencer o candidato republicano McCain, pois poderia atrair os votos tanto de brancos como de negros e latinos, que normalmente apóiam os democratas.
Por outro lado não podemos esquecer que um candidato negro poderia representar uma mudança importante na forma como os norte-americanos são percebidos, principalmente nos países chamados periféricos. Por sua origem afro-americana, de pai muçulmano e mãe hippie, Obama poderia merecer uma maior boa vontade por parte dos povos mais antiamericanos, abrindo a possibilidade de um maior entendimento, caso ele tenha mesmo a vontade política de mudar a visão do mundo em relação aos seus patrícios.
De acordo com os analistas especializados em política norte-americana, Obama deve sair à frente como o candidato democrático que enfrentará McCain, pois Hillary não tem conseguido se impor como uma alternativa viável para as eleições, fato comprovado pela redução drástica das doações ao seu partido. Obama, por sua vez vem encantando os jovens, brancos e negros pelo seu discurso atraente e inovador.
Hoje, conversando um brasileiro residente em Boston, EUA, ouvi a opinião de alguém que está presente no cotidiano da vida americana, conversando com homens, mulheres, jovens e idosos, nos supermercados, no trabalho, nas ruas. Flávio Dirose, um engenheiro civil que buscou no mercado americano uma alternativa para a década perdida no Brasil durante a recessão dos anos 80, afirmou com convicção, que McCain ganhará as eleições americanas contra Obama, pois o último tem um discurso de retórica bonita e bem articulada, mas vazia de conteúdo. Afirma o meu interlocutor que Obama não tem uma proposta clara para o sistema de saúde norte-americano, que se apresenta como um dos graves problemas do país. Não acredita também que Obama esteja preparado para enfrentar a gravíssima crise econômica desencadeada pelos empréstimos hipotecários. Outro motivo que deixa Dirose descrente quanto à possibilidade do candidato democrata vencer é que os jovens que o apoiam, em sua maioria, não votam.
Da minha parte, sem dúvida alguma pagaria para ver o impacto interno e externo da vitória de um negro na mais antiga democracia liberal do planeta. Considerando que os negros conquistaram os direitos civis somente nos anos 60 do século passado e as cicatrizes da segregação racial ainda não estão totalmente curadas (observe-se a fala do pastor da igreja de Obama), a vitória poderia representar um resgate histórico e a recuperação da auto-estima da população de origem africana em todos os níveis sociais. No plano externo seria até possível uma reunião de Obama com Bin Laden na busca de um amplo entendimento entre os povos do terceiro mundo e a grande potência ocidental(rss). Brincadeiras a parte, as negociações poderiam sim ser mais produtivas sem o cinismo do George W. Bush.

Comentários

  1. A indicação de OBAMA já seria uma grande novidade, nos remetendo aos anos sessenta,fazendo recordar-nos da luta pelos direitos civis e pelas grandes manifestações pelo fim da guerra do Vietnã...mas tbem do assassinato dos Kenedy e de Martin Luther King como resposta da direita racista.A opnião de seu amigo é pragmático...repúblicano...rsrs

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  2. É old Thomas, pertencemos a uma geração que teve o privilégio da contemporaneidade com o melhor e o pior da civilização.

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