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Mostrando postagens de outubro, 2010

MARIA DE FÁTIMA: UMA MULHER BRASILEIRA

Maria de Fátima, não era bonita, ou melhor, dizendo, estava mesmo mais para a feiúra do que para a beleza. Era magra, quase esquelética, usava óculos de aros escuros e muito pesados. Tinha dois filhos e era casada com um policial militar. Ela estava com quase trinta anos, quando resolveu voltar a estudar e mudar sua pacata vida de dona de casa. Fez o ginásio e o curso normal à noite, pois seu sonho era ser professora primária. Foi até longe demais para as suas condições, mas tudo isso teve o seu preço. Seu marido, no início, até que tolerou a decisão da mulher, mas aos poucos começaram os conflitos. Ele a acusava de abandono do lar para arranjar amantes na escola. Para ela ficava cada vez mais difícil cuidar da casa, dos filhos do trabalho e dos estudos que não pretendia abandonar. Um outro problema a deixava em conflito. O marido, desde há muito tempo, queria apimentar a vida sexual do casal e insistia, de toda forma, que ela concordasse em praticar sodomia, o que ela abominava. C

A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A violência doméstica é uma constante em todas as camadas sociais e as residências das famílias são os locais mais perigosos para as crianças. Cerca de 30% das crianças são vítimas de maus tratos dentro da própria casa e seus algozes podem ser pai, mãe, padrastos, madrastas, tios, avós, irmãos etc. Infelizmente isso não é privilégio do Brasil. Também nos EUA e na Europa isso ocorre com freqüência quase semelhante. A história de Helenice faz parte deste quadro estarrecedor. Ela tinha o lado esquerdo do rosto deformado por uma grave queimadura. No trabalho ninguém ousava perguntar a causa, pois todos imaginavam que falar sobre o assunto causaria um sofrimento desnecessário à moça. Assim os colegas conviveram com ela durante meses fazendo de conta que não havia nada de diferente nela. Almoçavam juntos, participavam do happy-hour e tomavam o cafezinho na cantina e nada de se falar sobre o seu rosto. Mas um dia, durante o almoço, sem que ninguém houvesse tocado no assunto, ela desando

A CAMISA VERDE

A saia verde de minha mãe enroscou em uma cerca lá de casa e ela ficou desconsolada, pois gostava muito da peça. Era um linho verde de boa qualidade e muito bonito. Mas como ela era uma mulher muito prática, olhou bem para a saia e pensou na melhor forma de aproveitá-la. “Vou fazer uma camisa para você”. Achei o máximo ter uma camisa verde e aceitei de cara o presente. Como ela mesma sabia costurar combinamos qual seria o modelo. Depois de pronta, pensei eu, poderia fazer inveja aos meus colegas palmeirenses, apesar de ser, na época, um fanático corintiano. A camisa ficou tão supimpa que no dia seguinte, resolvi usá-la para ir à escola. Na época, no segundo ano primário, minha professora era muito rígida e furiosa. Ela usava um ponteiro de madeira com o qual batia nas cabeças e mãos dos alunos indisciplinados. Às vezes, em ataques de fúria, jogava até o sapato sobre as indefesas crianças. A escola era pública e da periferia de São Caetano do Sul e não havia a obrigatoriedade de utili

MENTIRAS

“Saber mentir é um gesto de nobreza pra não ferir alguém com a franqueza. Mentira não é crime, é bem sublime o que se diz mentindo pra fazer alguém feliz " (Noel Rosa) Mentira tem perna curta, diz o adágio popular. Será mesmo? Muitas mentiras atravessam séculos sem nunca serem desmentidas. Pois é, não foi recentemente que pesquisadores comprovaram que Joseph Stalin fez um acordo secreto com Hitler para a invasão da Polônia? Já faz mais de setenta anos e a mentira ficou embaixo do tapete todo esse tempo. Mas a verdade é que todos mentem, uns mais outros menos. Políticos então mentem sempre que for necessário para os interesses do Estado, do poder e também pessoais. Maquiavel, que não era necessariamente maquiavélico, escreveu que um Príncipe deve mentir ou falar a verdade, mas ser sempre honrado. A ética do poder tem lá suas razões para permitir a mentira. O pensador florentino sabia das coisas e se baseava em exemplos históricos em que os soberanos incapazes de cometer

A MEMÓRIA

Não há nada mais extraordinário e complexo do que a memória. Somos um imenso arquivo de idéias, fatos, imagens, rancores, alegrias, odores, sons, músicas, conhecimentos, enfim, tudo o que podemos registrar através dos nossos sentidos. Ao longo de uma existência vamos construindo uma imensa biblioteca virtual. É realmente um mundo fantástico. Nossa capacidade memorizar parece ser infinita, mas com o passar dos anos, vamos gradativamente perdendo essa dádiva que a vida nos dá. Sem memória não somos nada. É a memória que possibilita a nossa existência como “homo-sapiens” e que tornou o ser humano um animal dominante, presente em todos os espaços do planeta. Nós somos, concretamente, a nossa memória, que foi agregando ao longo de nossa existência, a capacidade de ler, escrever, recordar informações, fatos, imagens, odores, alegrias, tristezas etc. Aos poucos, com o avançar da idade vamos esquecendo nomes de pessoas conhecidas com as quais temos contatos menos frequentes. Nomes de artist

CINE ÁTILA, O MEU CINE PARADISO

O CINE ÁTILA E O CINEMA PARADISO Também tive o meu cinema Paradiso, mesmo sem os encantos e a poesia de uma pequena cidade italiana, onde o diretor Giuseppe Tornatore desenvolve sua trama. O filme traça a trajetória de um garoto apaixonado por cinema tendo por pano de fundo uma humilde sala de exibição nos anos cinqüenta. Ali se desenvolvem vários dramas humanos, conflitos de classe, choques culturais com a influência norte-americana através dos filmes, relações afetivas etc. As minhas primeiras viagens ao mundo do cinema foram em um velho pulgueiro chamado Átila, na Vila Gerty, bairro periférico de São Caetano do Sul. Pulgueiro era como se designava os cinemas mal frequentados e não muito limpos. Lá, quase todos os domingos, eu ia com minhas irmãs mais velhas assistir às matinês. Era uma festa de emoções e surpresas. O aroma de pipoca embriagava minha mente inquieta enquanto aguardava na fila a abertura da porta que possibilitava a entrada no mundo dos sonhos. Eram duas sessõe