Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de agosto 28, 2010

AS GUERRILHEIRAS

Nos anos setenta conheci uma guerrilheira que utilizava o codinome Rosa. Era uma moça afável e meiga. Era alta e tinha um corpo roliço e um pouco gordinha. Eu era estudante secundarista, ainda adolescente e ela já havia iniciado uma faculdade que não me lembro qual. Entre suas leituras preferidas havia um escritor considerado reacionário, o russo Boris Pasternak, autor do romance Doutor Jhivago, que é a história de um poeta e médico que perde o encanto pela revolução depois que ela atinge a sua vida pessoal. “A vida pessoal acabou na Rússia”, era a fala de um personagem revolucionário, Stenicoff no filme homônimo. Fiquei triste ao ler o livro e descobrir que o roteirista inventou a frase. Mas até hoje não entendi porque a Rosa me emprestou um livro de filosofia do Pasternak, um escritor católico conservador, sendo ela ligada a uma corrente revolucionária chinesa, super radical. Outra que conheci era de um movimento trotskista que também acabou optando pela luta armada. Essa era fei

O APAGÃO

De repente as luzes começaram a se apagar e a escuridão invadiu todos os espaços, esparramando-se pelas avenidas, praças, vielas, prédios e quintais como uma nuvem que desceu dos céus. Mas aos poucos algumas pequenas e tímidas luzes foram surgindo e tive a sensação de que voltávamos para o século XIX, antes da eletricidade ser trazida pelos ingleses. Foi como se aos poucos, depois do susto inicial, as pessoas estivessem saindo do estado de letargia ou preguiça tecnológica e começassem a buscar soluções para o caos. As velhas, antiquadas e poluidoras velas de parafina, com cheiro de velório, sempre presentes nas gavetas como lembranças de outros apagões, ganharam a cena e ajudaram as pessoas a se olharem numa outra perspectiva. Os penteados, as maquiagens, as roupas, deixaram de ter importância. O que passou a valer de verdade foram as vozes, as palavras, os gestos que se faziam presentes como num teatro de sombras. As ruas da Vila Madalena, reduto boêmio da cidade estavam salpicada