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Mostrando postagens de outubro 14, 2013
O CHAMADO DE ABRAÃO Abrão era jornalista e por muitos e muitos anos trabalhou na grande imprensa fazendo reportagens nas mais diversas áreas. Era até bem sucedido na sua profissão, mas não havia atingido o auge da carreira para alguém com mais de quarenta anos. Prevendo dias piores, fez um curso de pós-graduação em gestão para eventualmente ter o seu próprio negócio caso perdesse o emprego. A família de  Abrão era tradicional e pertencia a antigos troncos paulistas, cujas origens remontavam os primeiros tempos coloniais.             Sua vida amorosa estava caminhando, pois tinha um velho relacionamento com uma professora que já se estendia por mais de dez anos. Em verdade parecia mais uma relação de amizade do que um caso amoroso, mas convenhamos que o nosso personagem não estava muito apaixonado e queria mesmo era uma companheira inteligente para passar o resto dos seus dias. Sarah era professora, uma pessoa independente e culta que gostava de caminhar com suas próprias pern
O CASAMENTO A família de Maria, apelidada por Mariquinha desde criança, mudou de cidade por causa da transferência do pai, que era professor primário. A vida era bastante difícil para uma família grande e a mãe contribuía para o orçamento doméstico dedicando-se à costura. Mariquinha, então com dezesseis anos, já ajudava a mãe nas costuras e também fazia as entregas de encomendas. Numa dessas entregas conheceu Epaminondas, filho de uma antiga família local, que outrora esteve muito bem financeiramente, mas vivia das glórias do passado. O moço não gostava de trabalho e os vários empregos que o pai lhe arranjara, acabava abandonando-os alegando, ora que o salário era pouco, ora que o serviço era por demais pesado. Trabalho com hora para chegar e para sair não fazia parte da vocação deste bom vivant. Mas ao conhecer Mariquinha começou a pensar em constituir uma família, pois já estava passando da idade. Assim insistiu com o pai que pedisse aos pais de Mariquinha a sua mão em casame
O ALPINISTA SOCIAL Marco, decididamente, era um alpinista social, mesmo sem saber o que significava isso.  De família muito humilde decidiu que precisava fazer qualquer coisa para melhorar de vida. Rapaz bonitão, loiro de olhos azuis, fazia sucesso com as mulheres, mas estava mesmo interessado em dar o famoso golpe do baú. Não é que a oportunidade surgiu quando descobriu que uma família freqüentadora da igreja era muito abastada. O velho Aristóteles tinha lojas e uma construtora em ascensão, além de vários imóveis espalhados pela cidade. A moça era feia, desajeitada e, além de tudo, não era muito equilibrada. Para Marco não havia problema algum em desposar a moça, um pouco mais velha do que ele e com todos os predicados mencionados. O que interessava mesmo era o patrimônio do sogro que tinha dinheiro escapando pelo ladrão, conforme se comentava pelo bairro. Tudo indica, meus caros leitores, que a família estava com muita pressa em selar o compromisso da Cremilda com o moçoilo p
O LUTO DE ESTEFÂNIA Pobre da dona Estefânia, perdeu um filho com apenas dezoito anos num trágico acidente. Ele foi junto com alguns amigos nadar numa represa em São Bernardo e acabou se afogando. Conhecia o Paulinho apenas de vista, pois eu era ainda um frangote na época.  Foi muito triste, pois era apenas um garoto com muitos sonhos pela frente.  Ele saiu com uma turma para nadar e aconteceu o inesperado.  Disseram que ele mergulhou fundo e se enroscou em um galho de árvore.              Logo depois o seu marido, um velho advogado de porta de cadeia, morreu com câncer, que em casa se chamava doença ruim, ou aquela doença que ninguém gostava de falar o nome. Fui com meu pai visitá-lo uma vez. Era um homem alegre e simpático que mesmo acamado sem poder andar, ainda fumava e dizia besteiras na frente de um menino. Meu pai ficava desconfortável e tentava a todo custo mudar de assunto, mas vira e mexe ele soltava um palavrão sonoro. Dona Estefânia, sua mulher chorou muito no velóri
A INSACIÁVEL Aninha, filha de um casal de portugueses morava numa casa de esquina, onde repousavam frondosas árvores, junto com os pais depois de um casamento que durou pouco e teve um final escandaloso. O marido, desconfiado da traição da mulher, colocou um gravador no quarto logo que saiu para o trabalho. A armadilha funcionou e de posse da gravação, desmascarou a mulher que o traia com um dos seus empregados, deixando-a sem eira nem beira.                Com o fim do casamento, Ana continuou tendo seus casos, que sempre terminavam de forma pouco civilizada, pois não aceitava as separações de forma pacífica. Quando o amante era casado, ela não deixava por menos e ia na porta da casa do ex para dizer todas as coisas que ficaram entaladas em sua garganta. Era uma mulher temível. Tanto pela sua fúria sexual, como pelas conseqüências resultantes da separação. Como era extremamente possessiva era inevitável que as relações não tivessem longa duração. Em pouco tempo os amantes pr
NADA É PARA SEMPRE Conheci Ernesto quando estudantes no antigo ginásio. Ele vinha transferido de um seminário católico, pois havia desistido da carreira eclesiástica e se matriculou no colégio estadual.  Ser padre não era mesmo sua vocação e jogou a toalha bem antes de se criar muita expectativa na família, profundamente católica. Fez como Bentinho, o casmurro personagem de Machado de Assis, que desistiu da igreja pela paixão por Capitu, a moça dos olhos de ressaca.                Mas não havia uma Capitu na vida de Ernesto, pelo menos enquanto fazia o ginásio. Mas no final do colégio a sua Capitu, aliás, a Madalena, apareceu em sua vida. Era uma moça um pouco mais velha que ele. Não era nenhuma beldade e também não tinha o olhar enigmático da personagem do romance Dom Casmurro. Usava longos cabelos, que quase cobriram seu rosto fino e comprido. Tinha um sorriso bonito e simpático, sugerindo ser uma pessoa amável e generosa. Inteligente e dedicada, logo se formou na escola no
OS DEVANEIOS  DE JACOB Jacob tinha pouco mais de um metro e meio. Teve paralisia infantil e ficou com uma perna mais curta do que a outra. Andava com dificuldade, mancando. O corpo adaptou-se ao defeito na perna e ele ficou com uma das nádegas mais alta do que a outra.  Ele andava com o pé esticado, quase na ponta, para compensar a diferença de tamanho entre as pernas. A natureza não lhe foi generosa. Tinha um nariz enorme e ainda usava dentadura com pouco mais de trinta anos.  Teve até um proposta de casamento, mas a moça era muito velha, segundo ele que preferia uma mais novinha. Ainda por cima era o moço exigente. Mas ele era uma pessoa boa e honesta e não se importava quando caçoavam dele. Sabia-se feio e era conformado com a vida. Morava com a mãe e uma irmã numa casa que comprara com o fruto de um bilhete premiado. Contava que foi uma grande alegria em sua vida. Além de comprar a casa, conseguiu ajudar as suas irmãs.            Gostava de freqüentar prostíbulos e contava-
UM BANQUINHO E UM VIOLÃO Não há quem não conheceu o Zelão por estas plagas. Tocava violão divinamente e sua voz então era encantadora. Ele colocava sua alma nas canções. Quando tomava o instrumento, o silêncio vinha como a chamado para que todo o espaço fosse ocupado pela sua voz suave e afinada. As mulheres se derretiam diante de suas cantorias e ficavam prontas para qualquer aventura com o bardo para a uma pontinha de  inveja dos demais rapazes, que também o admiravam.                Contava-se que outrora o Zelão teve uma grande decepção amorosa. Sua musa, motivada por razões de dinheiro, o abandonou para se casar com um comerciante endinheirado. A moça, após as núpcias que parecem tê-la decepcionado,  deu para telefonar e escrever ao Zelão e fazer-lhe longas e tenebrosas juras de amor. Ela havia abandonado o namorado para se casar com outro, mas não queria deixá-lo ao sabor de hienas ávidas por tão precioso despojo. Mesmo na segurança do seu lar ela mantinha o Zelão sob c