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Mostrando postagens de janeiro, 2011

O FRANGO-PARATI

“Quem for a Ilha do Cardoso, paraíso ecológico do litoral sul de São Paulo e não  saborear o parati frito da bodega do seu Malaquias, na enseada da Baleia, podes crer, não conheceu a ilha. O sabor do peixe é inconfundível e o jeitinho do proprietário em prepará-lo o torna uma das melhores iguarias da culinária caiçara”. Meu amigo Dedo, antigo freqüentador da ilha sempre cantou em prosa e verso as virtudes do parati frito do seu Malaca e na última vez que fui para lá resolvi tirar a prova. Só que é longe, muito longe de onde estávamos hospedados, se é que se pode dizer hospedados na ilha. Na Ilha do Cardoso a gente não se hospeda, a gente se ajeita num canto, se acomoda. Para ficar na ilha a pessoa não pode ser luxenta, enjoada, fresca... Tem estar pronto para o que der e vier. Como já disse  a bodega do seu Malaquias fica longe e bota longe nisso. São quase doze quilômetros caminhando pelas praias. Assim foram três horas de andanças, contemplando o mar, a natureza quase virgem, m

O SABOR DA GALINHA - D’ANGOLA

Nunca mais saboreei galinha-d’angola depois que abandonei o hábito de passar as férias no interior, na casa de parentes. Na verdade nem me lembro mais do sabor dessa galinha.  Imagino  que é um pouco mais dura do que o frango comprado no mercado e tem um leve  sabor de caça (será?).  As galinhas-d’angola eram criadas nas fazendas, soltas e viviam em bandos; elas conseguem voar um pouco mais do que as galinhas comuns, empoleirando nas árvores próximas as casas. As galinhas d’angola vieram mesmo do continente africano, trazidas pelos portugueses durante a colonização e se espalharam pelo país de norte a sul e são também conhecidas por sakué ou guiné. Quando menino ia passar as férias na fazenda de um tio no interior de São Paulo e uma das coisas que a minha memória auditiva gravou para sempre foi o “to-fraco, to-fraco”.  Fazenda sem esse som para mim não é fazenda, pois não consegue despertar em mim as sensações de férias, de natureza, de aventura, de liberdade. Minha mãe, logo dep

A TERCEIRA MARGEM DO RIO

A metáfora de “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa, uma obra prima do conto brasileiro, é o esquecimento ou alheamento de tudo. Uma tentativa de buscar um mundo de sonhos, de afastamento das coisas reais para viver numa outra dimensão. É a história de um homem que, sem mais, nem menos, para o estranhamento da mulher, dos filhos e dos amigos, manda fazer uma canoa, despede-se e parte para uma viagem sem retorno. Uma viagem que não é uma viagem. É um desligamento da vida, das coisas materiais, das relações pessoais.  Ele estava ali, a vista, mas distante de tudo e de todos.             A alienação  é constante na literatura. Em Rei Lear , de Shakespeare, o pai resolve, em vida, repartir seu reino entre suas filhas. Uma delas, a sua preferida,  considera a sua  decisão insensata. Ofendido por isso, ele a deserda. No final , já demente,  é abandonado pelas filhas herdeiras e é amparado pela filha deserdada.              Dom Quixote de La Mancha , ao embriagar-se das novela