Onde estará o Carlos? Há séculos que
não o vejo. No meu casamento se perdeu e não conseguiu chegar a tempo e foi uma
pena, pois havia se comprometido em fazer as fotos do casório. Como era um
ótimo fotógrafo, teria hoje boas imagens desse momento importante da vida.
Na época, Carlos estava casado
com a professora Hamide Assaim José, minha inesquecível professora de
literatura portuguesa no colégio. Carlos participou da minha juventude de forma
bastante significativa. Ensinou-se alguns truques da arte de fotografar e,
também, de escrever. Na época eu editava
o jornalzinho do colégio, que ele lia prazerosamente e fazia seus comentários
críticos. Um deles foi quando escrevi “ ...pelo Brasil afora...”. Ele me
lembrou que “Brasil afora” seria no exterior e não dentro do país. Ainda hoje ouço e leio jornalistas
conceituados repetindo esse erro. Provavelmente não são da escola do Carlos.
Carlos editava a Revista
“Dirigente Municipal”, um árduo trabalho que exigia viagens pelo Brasil
adentro, entrevistando prefeitos e fotografando pessoas e paisagens urbanas.
Voltava editava a revista e retornava para a labuta. Manifestou várias vezes
seu desejo que eu seguisse a carreira de jornalista, mas ao mesmo tempo tinha
receio de que, muito jovem na profissão, pudesse me perder pela vida.
Referia-se ao ambiente nada recomendável para a minha idade. Por essa razão,
deixou para depois um estágio no jornal em que trabalhava.
Acabei seguindo outros caminhos
profissionais e o jornalismo ficou apenas nos sonhos. Por sua vez o Carlos deu
alguns tropeços depois que encerrou sua carreira no jornal e na revista.
Decidiu testar seus conhecimentos de gestão empresarial por conta de um curso
de pós-graduação na FGV, montando um supermercado, que acabou não sendo bem
sucedido. Por fim, como a aposentadoria não dava para seu sustento, voltou ao
jornal, trabalhando como copy desk, uma atividade que hoje desapareceu das
redações. Em paralelo, passou a fazer terapias ocupacionais, inaugurando um
tipo de couching, usando técnicas psicanalíticas como a hipnose.
O casamento também acabou, apesar
de do casal ter oficializado a união bem maduros. Apareceu alguma pedra no
caminho que encerrou uma relação bastante antiga, com idas e vindas. Hamide foi
morar em Embu das Artes, onde o casal tinha uma casa de veraneio e ele ficou morando
no apartamento que o casal alugava próximo à Avenida Paulista.
A última notícia que tive dele
deu conta que havia se casado novamente, teve filhos e que estava se dedicando a
coisas como Florais de Bach e a Radiestesia. Numa das últimas visitas que fiz à
Hamide, em Embu das Artes, encontrei o irmão do Carlos, o ex-publicitário
William Lacerda, que foi professor na ESPM. William disse apenas que o Carlos estava
lidando com seus problemas, mas estava bem.
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