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Mostrando postagens de maio 14, 2018
ADÃO E EVA Era uma das primeiras histórias que se ouvia. Em casa tínhamos uma bíblia ilustrada e tão logo aprendíamos a ler, já queríamos saber mais detalhes sobree essa fantástica história.   Adão, criado do barro   com um sopro divino. Eva   ou a mãe de todos, foi criada com uma costela de Adão. Uma serpente teria induzido Eva a comer o fruto proibido, desobedecendo as ordens expressas do criador. Filho de mãe católica praticante e pai quase agnóstico, viví num ambiente sem muitas certezas com relação às crenças religiosas. Enquanto minha mãe obrigava os filhos a irem à missa toda semana, fazer o catecismo e a Primeira Comunhão, meu pai fazia ouvidos de mercador às queixas dela com relação à desobediência dos filhos no tocante à religião. As minhas irmãs seguiram os padrões da época,   mas eu e meus irmãos fizemos as obrigações religiosas aos trancos e barrancos. Fugíamos das aulas de catecismo para brincar na rua ou no próprio pátio da igreja. Me recordo que tempos depois
DESCOBRIMENTO DO BRASIL Quando a professora Maria Lúcia, no segundo ano primário, deu sua aula de história do Brasil, fiquei impressionado. Ela contou em detalhes quando as caravelas portuguesas partiram do Porto em direção à costa africana. Mas algo estranho aconteceu. Uma forte calmaria fez com que as naus fossem desviadas para oeste, bem longe do contorno do continente africano que era o caminho em direção às Índias. Depois de dias e mais dias, o comandante da expedição Pedro Alvares Cabral começou a observar pedaços de madeira no mar. Depois pássaros e finalmente, terra a vista. Primeiro pensaram se tratar de uma ilha que deram o nome de Vera Cruz, depois perceberam que era uma grande extensão de terra e deram o nome de Terra de Santa Cruz. E sempre que ela falava no navegador lusitano, Pedro Alvares Cabral, todos olhavam para   um colega que se chamava Nelson Cabral, como se ele tivesse alguma relação com o descobrimento. Muito esperto ele falou orgulhoso: “Foi meu av
QUEM NUNCA ENGOLIU UM SAPO? A expressão engolir um sapo significa simbolicamente que se trata de aceitar alguma coisa não digerível ou contra a vontade. Quem nunca engoliu um sapo no trabalho, na família, nas salas de aula ou nos grupos de relacionamento? Passamos a vida engolindo sapos e lagartos, mas que foram necessários para a sobrevivência ou para a manutenção da paz, mesmo que forçada. Na política isso é mais comum se engolir sapos do que fazer política no seu estrito senso. Resgatando um pouco da história, o velho Luiz Carlos Prestes, fundador do Partido Comunista no Brasil, teve que engolir um tremendo sapo ao concordar, por uma decisão partidária, a apoiar o Getúlio Vargas nas eleições de 1950. Justo o algoz que mandara para a câmara de gás a sua esposa grávida, Olga Benário.   Eu diria que não foi um sapo e mais apropriado seria dizer um porco espinho. Mas os políticos acabam esquecendo tudo. Quem acompanhou as eleições de 1979, há de se lembrar de que o Collor c
A TRISTE HISTÓRIA DE HAN ZICHENG Leio no jornal que um chinês de 85 anos escreveu em pedaços de papel que queria ser adotado por alguma família. Para isso colou-os no ponto de ônibus, no armazém e outros locais do bairro.    Han Zicheng não queria morrer sozinho, mas também não queria ir para um asilo. Ele não tinha mulher, filhos ou netos. Na China até pouco tempo era proibido ter mais de um filho. Isso passou a valer depois da chamada Revolução Cultural nos anos 1960. A medida foi tomada para reduzir a população do país que já estava com mais de um bilhão de habitantes. Como o governo sabia que não conseguiria fazer o país crescer para dar conta das necessidades de emprego e produção de alimentos, optou por reduzir na marra a quantidade de gente. Isso criou outro problema, pois para os chineses os filhos do sexo masculino são essenciais para cuidar dos pais na velhice. Quando os casais tinham uma filha, entravam em pânico, pois a cultura milenar lembrava que as filhas se c
QUE TAL ENTRAR EM UM LIVRO E VIVER A HISTÓRIA? Num sábado preguiçoso, vi o filme “Coração de tinta”, baseado no livro homônimo que conta a fantástica história de um leitor que tinha poderes mágicos, sendo capaz de fazer os personagens saírem dos livros e viverem entre os mortais ou os mortais entrarem nos livros ao ler em voz alta.   E foi assim que um malabarista saiu do livro e passou a viver perambulando pelas ruas com seu bichinho de estimação, lembrando sempre da mulher que ficou no livro e nunca mais encontrou. Ao mesmo tempo escapou do livro o perigoso bandido Capricórnio e seu bando que sequestrou a mulher do leitor. O pobre homem passa anos ao lado da filha procurando outro exemplar do livro para tentar localizar a mulher. Enquanto isso é perseguido pelo malabarista que quer que ele leia o livro para que possa retornar. Ele tem medo de ler o livro, pois não sabe o que pode acontecer. Que história maluca! Fui para a cama pensando na possibilidade de entrar na história
JOSÉ DE SOUZA MARTINS: O SOCIOLOGO DA SOCIABILIDADE DO HOMEM SIMPLES. A convite da poeta e agitadora cultural Dalila Veras, fui no último sábado para o Encontro com o eminente sociólogo José de Souza Martins. Neste evento ele lançou o seu novo livro de memórias “Moleque de Fábrica – Uma arqueologia da Memória Social”. Esse livro que ele mesmo define como memórias sem pretensões de uma pessoa sem grande relevância para o Brasil ou para o mundo. Muita modéstia o autor dizer isso, depois de uma brilhante carreira docente e mais de 30 livros publicados, que o coloca ao lado de Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso e Antônio Cândido como um dos maiores sociólogos brasileiros. Cheguei bem antes do horário e pudemos tomar um café juntos e conversarmos sobre trivialidades.   Fiz questão de lembrar-lhe  que em meados dos anos 1970 o encontrei numa palestra na Fundação Santo André. Ele estava munido de uma vitrola portátil e tocou um disco de música sertaneja, chamado “Boi de Ca
VELHAS CARTAS E POSTAIS Ao acaso encontrei uma pasta com algumas cartas bem antigas. E para comemorar o achado resolvi relê-las e comentá-las.   A primeira é de um amigo espanhol que não vejo há séculos. Escrevendo de Madrid sobre um amigo nosso que estava passando por lá em 1982 e que precisava de umas dicas sobre como sobreviver na cidade. Eles acabaram não se encontrando. Ele menciona que recebeu uma carta da Celia avisando sobre esse amigo, que era nada mais nada menos do que o Élcio Thenorio. A carta que ele recebeu foi postada na Áustria e aí ele não entendeu nada mesmo. Acontece que uma amiga nossa em viagem para a Áustria acabou postando a carta por lá. Outra carta, de outro velho amigo, Geraldo Magela, matemático e mineiro dos bons, nos escreveu deliciosas missivas durante sua estadia na Alemanha, na cidade de Stuttgart, contando particularidades sobre o povo alemão, que nos consideravam como índios de arco e flecha. Muitos lhe perguntavam como era viver nas selvas
O PRÉDIO CAIU EM CHAMAS João, Maria e uma criança moravam naquele prédio, esquina entre a Avenida Ipiranga e a Rio Branco. Se fosse na esquina da Avenida São João com a Ipiranga ele iria se sentir inspirado e cantar Sampa, principalmente o verso “Alguma coisa acontece com o meu coração...”. Mas o prédio onde a família de João morava não inspirava a lembrança de versos nem de poetas. Lá ninguém vê o por do sol, que já se escondeu envergonhado com tanto concreto e tanta miséria. Lá as pessoas passavam ao longe, com medo. Medo de que? São todos pobres e infelizes que encontraram um abrigo precário, com salas sendo transformadas em quartos e cozinhas, com poucos banheiros compartilhados por dezenas de pessoas. Era um prédio invadido, mas alguém espertamente se colocou como uma espécie de síndico improvisado que cobrava até quatrocentos reais por família, como se fosse um aluguel. Com tanto dinheiro arrecadado daria até para consertar o elevador e fazer sua manutenção para que Joã