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Mostrando postagens de agosto, 2017
Marcia Gonçalves: uma luz que passou por aqui.   A querida Márcia partiu. Partiu cedo demais para alguém que tinha muita alegria e uma irradiante simpatia nos tempos em que desfrutava de uma vida saudável. A doença foi implacável com a nossa amiga. Mas ela foi feliz até o seu dia derradeiro, sempre amparada pelo seu jardineiro fiel, Carlinhos Kalunga, que cultivava flores no jardim da vida enquanto esperava por sua recuperação. Convivemos pouco, mas foi o suficiente para selar uma grande amizade. A mudança para o Rio de Janeiro em razão dos compromissos profissionais do seu marido músico a afastou do convívio com muitos dos seus amigos, mas ela sempre continuou presente em nossas lembranças. A última vez que a vimos foi às vésperas de um ano novo, quando o casal se mudou para Santo André. Foi uma noite alegre, cheia de música e sempre, sempre, a sua simpatia aconchegante que fazia com que seus amigos fizessem parte da sua vida. Recordo-me de algumas vezes em que o casal
DOCE MEL II Ao escrever a crônica anterior sobre amigos apicultores e méis não me dei conta de que um dos endereçados de meus escritos, o Nhô Dédo Thenório, conhece muito mais do que eu poderia imaginar sobre as melipônias nativas. O nhô que tomei a liberdade de usar antes do seu nome tem uma razão linguística e cultural, pois em nosso meio caipira é utilizado como tratamento de pessoas que gozam de considerável respeito nas comunidades rurais e, via de regra, são portadores de singulares sabedorias. Foi aí que ele me alertou que a jataí é, entre as abelhas nativas, uma das mais higiênicas, o que faz da afirmação do meu amigo apicultor, infelizmente já falecido, um palpite infeliz, como diria o poeta popular Noel Rosa. E para completar, citando consagrado pesquisador sobre o tema, explicou que a arapuá, sim, utiliza fezes de animais para ajudar na construção de suas colmeias. Como o Paulo era um naturalista autodidata e pesquisador por crença no conhecimento, com certeza ele
RICOS E POBRES   Nas novelas da Globo ricos e pobres frequentam os mesmos ambientes e o mesmo espaço público. As famílias de milionários convivem com famílias de pobretões sem eira nem beira. É a democracia global, afinal; mas somos todos iguais em tudo na vida e como disse o poeta João Cabral de Melo Neto, “morremos de morte igual, mesma morte Severina, que é a morte de que se morre, de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte e de fome um pouco por dia...”.   Mas em verdade os seres humanos só se igualam mesmo é na morte, pois todos apodrecem da mesma forma, devorados pelos vermes. O que muda mesmo é o velório, a qualidade do caixão e o custo do evento, depois o resto é silêncio. Mesmo assim algumas igrejas prometem, a quem pagar em vida, um bom terreno no céu, próximo de Jesus, eternizando a divisão social da sociedade. Essa história me faz recordar de um filme do Wood Allen em que um judeu, condenado à morte por crimes hediondos se converte ao catolicismo
ENFIM, UM FIM DE SEMANA Na atual fase da vida, meus fins de semana   em geral são mornos, sem grandes emoções. Mas neste   último saímos da rotina. No sábado fomos para a Rua Augusta no lançamento do livro de contos Primeiramente e levamos a amiga jornalista e escritora Sonia Nabarrete. Foi um gostoso papo de São Bernardo até a metrópole. Lá encontramos vários amigos e companheiros da antologia de contos. Entre os amigos e novos amigos, encontramos a querida Elizabeth Pudles,   também jornalista que estava lá prestigiando o evento. Apesar do tempo e das nossas rugas, um rosto amigo é sempre o mesmo, com a vitalidade da juventude ainda fresca no olhar que não vai desaparecer enquanto a nossa memória conseguir manter o registro. Lá estava também a querida Nádia Novaes, uma guerreira dos velhos tempos, sempre sorridente, entusiasmada e feliz, acreditando na amizade, na poesia e no futuro. O Paulo Lai Werneck, arquiteto, escritor e artista da madeira, a Manu com suas duas filhas a
MEL, DOCE MEL Quem não gosta de mel? Se não gosta deve ser diabético ou não tem glândulas gustativas. Eu gosto de mel e adoro saborear os favos. Meu falecido amigo apicultor e poeta Paulo Duarte, além de me fornecer mel trazia também os favos cortados em pequenos cubos. Era supimpa. Depois de ter passado alguns meses nos porões da ditadura, onde foi barbaramente torturado, resolveu usar um sitio da família para se dedicar às abelhas. Ficava feliz em observar o trabalho dos bichinhos fabricando mel, própolis e cera, com sua rígida divisão do trabalho social. Confessou-me que chegava a sonhar com a sociedade humana organizada como as abelhas. Eu sempre repetia: muita organização é totalitarismo meu amigo. Ele ria e tentava me convencer do contrário. Naqueles tempos em que frequentava nossa casa, surgiu do nada no jardim, uma colmeia de jatai. O Paulo tratou de estudar uma forma de domesticá-las, já que as abelhas nacionais são, em geral, pouco laboriosas e nada disciplinadas co
ERETOS Sonia Nabarrete, jornalista, fotógrafa, contista e poeta lançou recentemente a sua primeira novela. Um livro forte, utilizando uma linguagem sem censura, como é do seu jeito de ser. Ela se refere às coisas com os nomes que são utilizados nos guetos, nos bares, nas ruas, nos prostíbulos e na alcova. Sua carreira de jornalista sempre foi pautada por reportagens arrojadas, como a que escreveu sobre os índios tupis no litoral norte nos anos 1970 e que teve alguma repercussão. Neste trabalho expôs de forma nua e crua a realidade desse grupo indígena explorado pela população local e turistas. Nos últimos anos, depois de passar por um período como jornalista corporativa, editando órgãos internos de empresas, Sonia Nabarrete voltou a escrever poesias e contos, tendo alguns trabalhos premiados. Sua primeira novela e espero que publique outras, porque talento e criatividade não lhe faltam, é arrojada e totalmente despojada do lirismo comedido. O sexo é tratado de forma n