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Mostrando postagens de 2016
QUE HORAS ELA  VAI CHEGAR? O filme se baseia numa história comum em nosso cotidiano. Uma empregada doméstica numa residência burguesa, que deixou a filha em Pernambuco aos cuidados de uma irmã. Mas a filha fica moça e resolve prestar vestibular para ingressar na USP. Estaria tudo certo se a empregada doméstica tivesse a sua própria casa para receber a filha. Mas não. Ela mora no emprego desde que chegou do Nordeste ajudando a criar o filho do casal, pois a mãe trabalha fora e o pai, um rico burguês que recebeu uma herança, não faz absolutamente nada, tampouco cuidar do filho. A dona da casa concorda que a filha da empregada venha morar em sua casa por um tempo suficiente para que ela se arranje. A partir daí as relações com a empregada começam a mudar. Antes ela era vista como uma pessoa da família, que ajudara a criar o filho do casal. Ela era ótima, pois não criava problemas e servia a família quase como um serviçal dos tempos coloniais. Com a filha, avessa aos padrõe
CIGARRO DE PALHA José, chefe de comitiva de boiadeiros, levava uma boiada para o Mato Grosso, quando deu uma parada para ver um boi que tinha se desgarrado. Foi aí que  apareceu o cavaleiro bem falante, que o abordou: - O senhor teria fumo? - Tenho, sim senhor, respondeu, oferecendo ao viajante. - O senhor por acaso teria um canivete? -Pois não, aqui está. O homem picou o fumo caprichosamente, devolvendo o canivete e o tolete de fumo para José e mais uma vez perguntou: - Não querendo abusar, o senhor teria palha? - Tenho sim senhor, respondeu, entregando a palha ao homem. Depois de enrolar o cigarro, o viajante ainda fez um novo pedido. - O senhor me faria o obséquio de emprestar o fogo? - Pode deixar que eu acendo, respondeu, pegando a binga e colocando o cigarro nos lábios. Acesso o cigarro, José deu uma tragada e acenou para o viajante dizendo: - Pode deixar que eu fumo pro senhor. E partiu a galope pela
A POLÊMICA DA FEIJOADA A feijoada é o prato da preferência nacional, não importa a classe social, a origem, a cor, a idade. Todos apreciam uma feijoada. Bem quase todos. Eu mesmo não sou um fã ardoroso do cozido de feijão com paio, linguiça, carne, toucinho, pé, joelho e outras partes do porco. Aliás, um suíno, parente do javali europeu que o nosso herói gaulês, Asterix e seu inseparável companheiro Obelix, preferiam assado na brasa. Para harmonizar uma feijoada os brasileiros preferem a indispensável cerveja bem gelada, mas há controvérsias. Um amigo somelier prova, com bons argumentos, que o melhor acompanhamento para a feijoada, um prato de sabores fortes, é um bom Cabernet Sauvignon. A cerveja fermenta no estômago e deixa o comensal estufado, segundo ele. Mas há também aqueles que não dispensam uma caipirinha antes e durante a orgia gastronômica. A origem da feijoada gera muita discussão. Meu querido amigo, o maestro Orlando Marcus Mancini, teimoso como ele só, diz que
FEITO EM CASA Tornou-se um costume lá em casa criar um porquinho nos fundos do quintal, apesar das leis municipais proibirem a prática em área urbana. Mas meu pai fazia ouvidos de mercador mantendo um chiqueirinho com uma boa drenagem de água para criar um leitão à base de milho. A grande preocupação era manter o local sempre limpo e desinfetado para que nenhum vizinho reclamasse e acabasse por gerar uma multa e um prazo de 48 horas para se desfazer do bichinho. Os porquinhos chegavam bonitinhos, engraçadinhos, mas acabavam crescendo e muito, tornando-se enormes, chegando a pesar mais de cem quilos. Nos primeiros dias ficava solto no quintal e nos divertíamos correndo atrás do animal. Mas logo ele era confinado e nosso trabalho consistia em limpar o local e abastecer o cocho com água e alimento. Mas sempre chegava a hora triste, quando bicho, já enorme e arrastando a barriga no chão seria sacrificado para o deleite dos apreciadores de carne suína. Um dia antes meu pai combi
Caminhas entre os mortos e com eles conversas... Quando criança os mortos me assustavam e com eles tinha pesadelos que terminavam com um grito no meio da noite.  Hoje, com tantos entes queridos e amigos mortos perdi o medo e também a esperança de que eles voltam para puxar as nossas pernas como as histórias que as minhas irmãs mais velhas contavam para assustar os irmãos mais novos. Minha mãe volta e meia sonhava com mortos: pai, mãe, irmãos e pelo menos com duas irmãs tinha sonhos frequentes. Uma dela se matou por ver seu amor proibido pela família e a outra se mudou para o Mato Grosso e nunca mais a viu. Com a última ficou uma pendência não resolvida. Era o remorso pela falta do perdão e de despedida. A que se matou era quase a sua mãe. Por ser a mais velha e minha mãe a mais nova, era quem cuidava dela enquanto a mãe cuidava da casa e das suas costuras. Quando minha mãe começou a ter demência senil, os seus encontros com os mortos ocorriam mesmo quando estava acordada. Qua
UMA CACHAÇA DA BOA Já estava perto do horário de almoço, quando chegou ao balcão do bar um homem de uns quarenta anos, se muito. Bem educado, perguntou pro Manoel, proprietário do bar se ele tinha uma cachaça da boa, daquelas de alambique pequeno, artesanal. “Mas tem que ser da boa mesmo, pois na minha terra é que tem cachaça de verdade. Sou lá de Minas, Salinas, a terra da cachaça, conheces”? Manoel não conhecia Salinas, mas tinha uma cachaça de um fornecedor pequeno, mas de excelente qualidade, explicou orgulhoso. “Só ofereço pra quem entende, não é pra qualquer gajo”, disse no seu sotaque lusitano pegando uma garrafa na prateleira. - Se é boa mesmo, então pode servir que eu quero provar, disse o estranho. Ao encher o cálice, o aroma da cachaça impregnou o ambiente, deixando o homem entusiasmado. Nisso ele oferece a bebida para uns três frequentadores do bar, que prontamente aceitaram a oferta, diante do olhar incrédulo do Manoel. - Pode servir, por favor. E faço ques
UM CRIME QUASE PERFEITO Todas as sextas-feiras ele fazia serão. Ligava para Margarete e dizia que tinha uma reunião de final de semana para acertar os detalhes para a segunda feira. Além disso, sempre dizia, “vou para o happy hour com o pessoal do escritório”. Em verdade, era tudo conversa fiada. Margarete sempre acreditava ou fazia de conta, pois por mais que procurava se enganar, o cheiro de perfume de mulher nas roupas dele era indício de que havia algo mais do que um inocente encontro com a turma do escritório. Mas ela era uma mulher conformada com a vidinha que levava. Não faltava nada em casa. Podia comprar suas coisinhas, ir ao cabelereiro, fazer as unhas e ainda tinha a sua mãe que morava com eles e os filhos. Nestor era um bom marido e não havia do que reclamar. Na sexta-feira ele chegava por volta das onze e meia. Tomava um banho rápido e caia na cama, pois no sábado, bem cedinho, tinha o compromisso de ir com a família para a chácara em Ibiúna. Era uma rotina. Levant
PIEDADE, MEU PÉ DE SERRA QUE NEM DEUS SABE ONDE ESTÁ. Aposto que apenas os poucos que me leem conhecem Piedade, uma cidadezinha logo depois de Ibiúna, aquela que ficou conhecida no final dos anos sessenta por abrigar o histórico congresso nacional da UNE, em 1968.  Na ocasião foram presos mais de 600 estudantes, incluindo lideranças como José Dirceu e Luiz Travassos. Foram os moradores de Ibiúna que telefonaram para a polícia, denunciando o evento. Enquanto Ibiúna ganhou fama como a cidade que entregou os estudantes, Piedade continuou no ostracismo, mas por pouco tempo. Piedade fica a 30 quilômetros de Ibiúna, com altitude de 781 metros e tem invernos bastante rigorosos, mas nada que se assemelhe a famosa São Joaquim em Santa Catarina. Graças ao clima, lá se produz caqui, maças, peras, cerejas, framboesas entre outras frutas, graças, também, a contribuição das laboriosas colônias italianas, alemãs, suíças, austríacas e japonesa. Mas em outros tempos, foi considerada a capi
MARIA DOMITILA, A NOSSA ANNA BOLENA. Quando li o romance histórico A marquesa de Santos com quinze ou dezesseis anos, fiquei espantado com o nosso primeiro imperador.  No dia da Independência despachou o seu ajudante de ordens para marcar um encontro com a Maria Domitila, uma bela moça separada do marido e pertencente a uma tradicional família paulista. Ficou apaixonado e sempre que podia, arranjava uma desculpa para vir até a pauliceia para rever a amante. Como a viagem a cavalo do Rio a São Paulo levava quase uma semana, resolveu levá-la para a corte com toda a família. Para isso adquiriu a chácara dos Porcos, que ficava a uma hora da residência imperial. Não demorou muito para Dom Pedro colocá-la como dama de companhia da imperatriz Leopoldina, que sem dúvida deve ter ficado p. da vida. Em seguida o pai, o Coronel João de Castro Canto e Mello virou barão, dando status de nobreza a toda a família. Ela também foi agraciada com o título de Baronesa de Santos de depois Mar
PARA QUE UM ESTADO TÃO GRANDE? A história da chapeuzinho vermelho ao perguntar para o lobo mau que estava deitado na cama da sua avó, disfarçado: “Para que uma boca tão grande vovó?”. O resto da fábula todos conhecem.  Da mesma forma os brasileiros perguntam ao nosso Leviatã (Estado brasileiro): Para que tanto dinheiro se não recebemos nada em troca? O Estado brasileiro abocanha tudo que for possível e até o impossível para sustentar sua imensa teia de privilégios, mal gastos e incompetências. Numa contabilidade prática, boa parte dos brasileiros trabalha até maio para pagar os impostos. Daí em diante tem o direito de gastar o que sobrar para alimentação, habitação, segurança, educação, saúde, investimento, etc. Segurança, Educação e Saúde deveriam, em tese, ser obrigação do Estado, mas diante da precariedade desses serviços públicos, a classe média é obrigada a colocar seus filhos em escolas particulares, pagar planos de saúde e pagar seguros residenciais e para veículos, cada v
SOCIETÁ ITALIANA DI BENEFICENZA Havia em casa uma medalha de bronze com a inscrição: “Societá Italiana di Beneficenza - 1898” que minha mãe conservava em sua caixinha de segredos. Ela dizia que era do seu pai, mas ela mesma não sabia como e nem por que estava em suas coisas quando ele faleceu. Como não havia conversado em vida com ele sobre a medalha, ficou sem saber a sua origem. Sabia que meu avô era um farmacêutico prático, que criava comprimidos fitoterápicos para curar doenças. Não sei se tais comprimidos faziam  algum efeito, mas com eles ele ganhava a vida e podia comprar seus livros, jornais e assinar uma revista espanhola. Filho de pai abastado, na infância ele estudou com um preceptor (professor particular) que lhe ensinou as primeiras letras, depois Latim e espanhol, mas nunca frequentou escolas. Lia tudo que lhe caia nas mãos e era uma pessoa muito bem informada nos confins do interior paulista. Soube da televisão muito antes da tecnologia chegar por aqui, mas os ca
SE PARAR O BICHO PEGA, SE CORRER O BICHO COME O país está realmente numa sinuca de bico.  O governo provisório está cada vez mais enrolado com ministros sendo denunciados por envolvimento em corrupção, delações premiadas, gravações secretas etc e tal. A oposição, que antes era governo está também num lodaçal. Se derrubarem o Temer vai assumir o atual presidente da câmara, o tal de Maranhão, pois legalmente é o primeiro na linha sucessória. Ele está todo enrolado com denúncias de propinas, funcionário fantasma da universidade do Maranhão, sem contar o filho que trabalha em São Paulo e recebe um salário no TC do Maranhão. Bom, se conseguirem uma liminar que o retire da linha sucessória, temos o seguinte que é um sujeito porreta que pagava uma pensão duas vezes superior ao seu salário de senador para sua amante. Como ninguém acreditou, inventou uns bois voadores de sua fazenda e os vendeu a peso de ouro. Além de tudo isso, ainda está sendo investigado pela operação lava-jato. Bom,
UM AMIGO ALEMÃO Meu amigo alemão não é alemão e nem fala a língua de Goethe, mas era assim que o chamávamos, pois seu pai era alemão, mas a mãe era brasileira de origem italiana. O pai,  seu Walter, contava ele, chegou da Alemanha nos anos quarenta pelo Rio de Janeiro. Sem dinheiro, sem falar português, acabou morando em uma favela e passou uma semana comendo bananas, a única coisa que dava para comprar com seus parcos recursos. Depois acabou vindo para São Caetano do Sul, onde se estabeleceu com uma serralheria e se casou. A mulher morreu cedo vitimada por um câncer, deixando o seu Walter com três filhos para criar. Seu Walter acabou morando perto de minha casa e seu filho mais jovem, Edson Broesdorf e foi no retorno do colégio que acabamos nos conhecendo. Foi na casa dele que experimentei, pela primeira e felizmente última vez, um chucrute alemão preparado pelo seu pai. Tempos depois nos envolvemos no movimento estudantil com outros colegas do ABC. Frequentávamos uma igreja e
PASÁRGADA: VELHOS AMIGOS, VELHAS LEMBRANÇAS O poema “Vou-me embora para Pasárgada” é quase uma canção de exílio, pois lá sou amigo do rei e tem tudo, é outra civilização... Assim, quando estou triste, triste de não ter jeito, dou uma escapadinha e vou para lá esquecer e, também, para lembrar. E nesse último domingo, fomos todos, mulher, filha, genro e neto para essa civilização imaginária onde tudo é permitido, nada é pecado ou engorda. Fica pertinho daqui, logo ali depois de Embu das Artes e fomos guiados pela Celinha que conhece todos os caminhos que levam à Pasárgada, lembrando os desvios e atalhos por onde o tempo traça seus roteiros. Lá encontramos os queridos amigos José Geraldo Rocha, a Valnice Vieira, a Bola, a Amaranta, a Janaina, o Ricardo, o Gabriel e a menina Cecilia. Essa família maravilhosa que vive do e no teatro, sempre encenando mundos fantásticos, cheios de emoções e atravessam o tempo declamando poesias e histórias da carochinha. Lá tem tudo e até pés de
O PRAZER DE FUMAR Por volta dos quatorze anos experimentei o primeiro cigarro por influência de um amigo de infância e adolescência, um alemão de origem polonesa  chamado Bogdan Warzocha. Na opinião dele homem para ser homem precisava fumar e beber. O cigarro foi para mim uma tortura, pois não conseguia sentir prazer em fumar, pois me deixava um gosto horrível na boca. Tragar então, além de ser difícil, me deixava tonto e com dor de cabeça. Assim, disfarçava com o cigarro entre os dedos e dava algumas baforadas para impressionar os colegas e quem sabe as garotas. Com a bebida a experiência foi parecida. Também levado pelo mesmo Bogdan tentei beber rum, vodca e cachaça sem sucesso. Num ano novo ele passou em casa para fazermos uma via sacra, bebendo em todos os bares que encontrássemos. Conseguir beber até no segundo, enquanto ele bebeu em pelo menos em meia dúzia de bares alternando doses de vodca, gim e rum. Fiquei enjoado e abominei a experiência. Acho que a minha dificuldade
O MENINO DE SUA MÃE Um menino de apenas quatro anos brincava feliz em frente da casa dos seus avós numa comunidade pobre do Rio de Janeiro. De repente um tiro perdido atingiu o seu peito. Seu avô, quando ouviu os primeiros disparos correu para pegar a criança e levá-la para dentro de casa, mas era tarde demais. O sangue já escorria quente pelo seu corpinho indefeso e nada mais poderia ser feito. Levaram-no para o hospital, mas nada mais poderia ser feito. Depois a parte mais difícil: avisar a mãe que talvez nunca perdoe o avô por não ter protegido o neto que estava sob seus cuidados. As mães sempre acreditam que ninguém pode cuidar dos filhos melhor do que elas. E com razão. Pode ser que ela nunca diga nada para o pai, mas pensará nisso pelo resto dos seus dias. “Por que eu não estava lá para que a bala tirasse a minha vida e não a dele?”, deve ter falado ou pensado. As tragédias humanas nunca são esquecidas. Elas vão e voltam com intensidades variadas, mas sempre com muita d
LUIZ DE MIRANDA FIGUEIREDO, UM EXECUTIVO EXEMPLAR Figueiredo, como era conhecido, amadureceu cedo e com dezessete anos resolveu tentar a vida em outras plagas. Foi para os Estados Unidos terminar o curso colegial. Ele comentou-me uma vez que seu pai sempre dizia com relação a ele: “Esse menino vai andar com as próprias pernas”, numa alusão à perspectiva de que ele ia construir sua vida sem depender de ninguém, nem mesmo dos pais. E assim foi. Nos EUA terminou o colégio e ingressou numa escola de engenharia, estudando a noite e trabalhando durante o dia para pagar os seus estudos. Depois foi engenheiro de operações em uma grande empresa petrolífera onde adquiriu a experiência que nortearia seu futuro profissional. De volta ao Brasil, já experiente e dominando o idioma inglês como um nativo, assumiu um cargo executivo na Shell, com sede no Rio de Janeiro. Depois convidado para a gerência geral das Tintas Ypiranga em São Bernardo do Campo. Tempos depois foi convidado para assu
JOÃO CABRAL DE MELO NETO Um dos maiores poetas brasileiros, rigoroso na técnica de construir versos trabalhando o sentido das palavras de forma fria e pragmática. O canavial, o melado e o açúcar corriam no seu sangue. Pernambucano da zona açucareira, cresceu observando os mares verdes de cana. Consta que Cabral não gostava de música. Dono de uma enxaqueca vitalícia, tomou milhares de comprimidos para amenizar a dor e escrever seus versos. Era um sofredor. A música devia lhe torturar a caixa craniana e por isso, talvez, o desprezo por essa arte. Por azar ou por sorte, teve seu Auto de Natal pernambucano: Morte e Vida Severina, musicada por um compositor quase adolescente, o Chico Buarque, e tudo por insistência do amigo dramaturgo e psicanalista Roberto Freire que queria apresentar o Auto num festival em Paris onde acabou sendo premiado.  Nunca se soube se gostou ou não gostou da peça musicada. Quando perguntado sempre respondeu com evasivas. Amigo de Vinicius de Moraes, o cri
ESTUPRO DE MENOR CAUSA INDIGNAÇÃO NO PAÍS E NO MUNDO Uma menina de dezesseis anos foi estuprada no Rio de Janeiro e as fotos do crime foram postadas na rede social. Absurdo, barbárie, insanidade... Não haveria adjetivos suficientes para qualificar o absurdo ocorrido na cidade maravilhosa, maior ponto turístico do país, futura sede das Olímpiadas, competição esportiva cujo objetivo, desde sua criação pelos gregos, é de integrar todos os povos, buscando a paz e a harmonia. Fato semelhante aconteceu recentemente na Índia, quando uma estudante foi violentada por um pequeno grupo em um ônibus. A indignação mundial obrigou a polícia local a prender e julgar os criminosos.  Não sei se ainda estão presos, pois a Índia é um mais corrupto do que o Brasil. Aliás, entre os BRICS, o Brasil é considerado o menos corrupto. Mas o Brasil vai ser sede das Olímpiadas, com atletas e turistas do mundo inteiro. Ninguém estará seguro, devem pensar europeus, norte-americanos, japoneses. Somos um dos
MAIORIA ABSOLUTA Com cinquenta por cento mais um, são tomadas decisões em nome da maioria que podem afetar a todos, incluindo aqueles que votaram contra. Quem estabeleceu essa medida matemática que as decisões da maioria simples são as melhores, as mais válidas, as mais racionais e que representam a totalidade? Assim, muitas decisões são tomadas em nome de uma pretensa maioria que pode gerar sérios problemas para todos, pois a maioria pode ter sido manipulada por engenhosos sistemas de comunicação. Vence quem teve o melhor discurso, mas se o discurso foi ideológico, no sentido em que a ideologia é uma forma de manipulação da realidade, quando se oculta parte da realidade e mostra apenas um lado? O exemplo do Reino Unido é sintomático, pois os defensores do Brexit não contaram tudo para os eleitores, mas apenas o que lhes interessavam. Não disseram aos eleitores ingleses que a saída geraria um queda significativa no PIB, o risco da Escócia e Irlanda do Norte saíram do Reino Un
FESTANÇA JULINA, Festa junina é tudo de bom. Tem quentão, vinho quente, pinhão, batata doce, cuscuz e outras iguarias. Mas o que a gente vê por aí são festas artificiais, sem aquela graça da cultura caipira que os paulistas trouxeram do interior profundo para as cidades e assim resgatando a memória dos tempos de roça, de pomar, de gado pastando no atalho, da seriema correndo pela invernada, do jequitibá do lado da porteira, da pesca de anzol no riacho, do milho verde assado, do fogão a lenha, da galinha de angola e outras coisas que estão desaparecendo com o progresso. No último fim de semana o bom e velho amigo Sinézio Dozzi Tezza e a Ana Amélia resolveram abrir a casa nos arredores da Paulistânia para uma festa julina (porque foi no dia 2 de julho) a rigor, com todos os quitutes que se tem direito. E para deixar todo mundo com inveja, convidou dois bons violeiros e cantadores para alegrar a moçada e a vechiaria. Quem é que ouve hoje em dia canções como Romaria de Renato Teixe
Eta cafezinho bom! O café está glamorourizado. Virou uma bebida sofisticada com degustação e outros adereços. Um barista é capaz de descobrir no aroma de um café, notas de amêndoas, sabor de cítricos ou um leve toque de cacau fresco. Alguns se arriscam em afirmar que determinada marca de café gourmet tem traços de alma penada com sofrimentos frutados. Brincadeira? Pode até ser, mas algumas fragrâncias detectadas por alguns baristas, imitando os someliers são dignas da imaginação criadora, não acessíveis aos comuns dos mortais. Já ficaram conhecidas variedades de café cujas amêndoas passaram pelo aparelho digestivo de alguns animais, como gatos selvagens de uma região asiática ou mesmo de uma gralha brasileira do Espirito Santo. Nos dois casos os bichos ingerem os frutos dos cafeeiros, digerem a casquinha adocicada e evacuam os grãos, que são recolhidos, limpos e higienizados para serem consumidos como um dos cafés mais caros do mundo. Os saboreados pelos gatos selvagens chegam
O BAIRRO DA LIBERDADE e OUTRAS HISTÓRIAS O bairro da Liberdade, por estranho que possa parecer, não leva esse nome em razão de movimentos libertários. Assim, não foi por causa da independência, da República ou da Abolição da escravidão que o bairro ganhou esse nome A origem do bairro tem uma razão que não lembra em nada seu nome.  Tudo começou com uma forca, construída em madeira de lei por ordem do governo imperial no início do século XIX.  De largo da Forca, onde ainda hoje existe a capela dos Enforcados, é que surgiu o nome Liberdade. Nas frias manhãs paulistanas, o povo se reunia para assistir os enforcamentos determinados por julgamentos nada confiáveis. Por incrível que pareça, era um evento turístico na cidade assistir as execuções. Vinha gente de todos os cantos do pequeno povoado paulistano para compor a plateia do “espetáculo” como são mostrados nos filmes que retratam tempos idos. Alguns até faziam piqueniques às margens do Tamanduateí, na época ainda um rio. Os en