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Mostrando postagens de novembro, 2008

OS NOSSOS PRESIDENTES

Lembro-me ainda criança no final dos anos 60 o quanto era difícil escrever Kubitschek, o sobrenome de origem tcheca do presidente da República. Quem não conseguia escrever corretamente perdia pontos na prova e por isso me esmerava em escrever o nome complicado do primeiro mandatário. Naquela época via o presidente apenas em jornais e revistas, pois não tínhamos televisão em casa. Ainda criança cheguei a ver o JK na televisão numa entrevista. Ele falava com bastante desenvoltura e de forma muito otimista sobre o Brasil, apesar de ter ficado longe do país durante muito tempo. Uma das frases que disse foi: “Ao viajar de automóvel por São Paulo, fiquei espantado com o progresso, tive a impressão de estar nos Estados Unidos, com boas estradas e fazendas bem cuidadas”. Era um sujeito simpático, elegante e bem humorado, mas os seus críticos não perdoaram o caos financeiro que deixou pela construção de Brasília. O presidente que o sucedeu, JQ era muito carrancudo, sempre mal humorado e com o c

OBAMA E A GRANDE VIRADA

Na pele de um negro ou Black like me, de John Howard Griffin , foi a história de um jornalista norte-americano branco nos anos 1960 que raspou os cabelos e escureceu a pele através de processos químicos e foi viver como um negro no sul do seu país. Este livro construiu o meu imaginário adolescente sobre os Estados Unidos, uma nação que segregava a minoria negra de forma cruel e violenta. Relembro uma passagem em que ele estava sentado em um ônibus e olhou para uma mulher branca para oferecer-lhe o lugar. Ele foi prontamente repudiado simplesmente por se atrever a olhar para uma mulher branca. É através do olhar que nos identificamos como seres humanos e esse olhar lhe foi negado. Griffin sentiu uma profunda solidão, num mundo que era hostil a ele e a cor da pele que não era dele, mas apenas uma representação. Como um ator , ele voltou ao mundo real e publicou o que viu e sentiu na pele de um negro. Não sei se todos os afro-americanos, depois de mais de quarenta anos da universaliza

O IRAQUE NUNCA ESTEVE TÃO PERTO

O Iraque não está tão longe. A expressão "está para lá de Bagdad" perdeu o sentido no mundo globalizado. Infelizmente, a violência que campeia por lá, também está por aqui. De repente podemos ser uma das vítimas ou nossos parentes, amigos e conhecidos. Estamos todos com as cabeças enfiadas na terra, como avestruzes, sem querer enxergar que chegamos a beira do abismo. Há tempos estamos vendo notícias que informam que grupos marginais roubaram quartéis do exército e das polícias militares. Outras dão conta de que os bandidos utilizam armas muito mais sofisticadas do que as disponíveis para nossos policiais. O embate torna-se desigual, desequilibrando o confronto. De um lado, temos policiais militares que têm esposa, filhos ou pai e mãe. Do outro, temos marginais que estão por conta da vida, ou seja, estão para o que der e vier, pois vieram de um ambiente em que a vida não tem mais nenhum valor, em que os vínculos familiares, quando existem, são bastante tênues. De um lado, prof

A MORTE INOVADA

“Funeral é um negócio como qualquer outro e precisa ser inovado constantemente”. A frase, ouvida num jornal na TV me deixou um tanto chocado, pois me habituei a ouvir e ver a morte como algo funesto, desagradável e que coveiro ou o agente funerário eram as piores profissões do mundo, com todo respeito que todas as profissões merecem. Quando criança passava longe das funerárias e só de pensar que um ente querido poderia ser encaixotado me causava arrepios. Lembro-me que ao descobrir que um colega do colégio era filho do proprietário de uma agência, provocou o meu distanciamento dele tal como o diabo foge da cruz. Um carro funerário passando pela rua me provocava asco e olhava para o outro lado. A cor rocha até hoje me é desagradável, por mais que queiram me convencer que é uma cor da moda. Algum trauma de infância diagnosticaria um psicanalista interessado em algumas sessões de análise. Um medo infundado creio eu, mas pode ter origem nas histórias que eu ouvia quando criança, pintando a

LUPICÍNIO RODRIGUES REVISITADO

Eu não sei se o que trago no peito É ciúme, despeito, amizade ou horror Eu só sei que quando eu a vejo Me dá um desejo de morte ou de dor O crime de Lindembergue Alves, que assassinou sua ex-namorada Eloá e feriu gravemente a amiga dela, Mayara, me fizeram lembrar dos versos do grande compositor gaúcho, Lupicínio Rodrigues, que foi classificado como shakesperiano por Augusto de Campos. O moço não sabia, tal como o poeta, o que ele trazia no peito, depois do fim de uma relação afetiva. O poeta, como diria Fernando Pessoa, é um fingidor, mas o amante nem sempre consegue sublimar a sua dor através da poesia ou outra forma não violenta. O desejo de morte ou de dor tomou conta do rapaz que não viu alternativa, a não ser mostrar para a jovem todo o seu sofrimento, ficando exposto ao risco de perder a vida e levá-la para o mesmo caminho. A relação tinha tudo para não dar certo. Ele com vinte e dois anos e ela com quinze. Ele, um garoto mal amado que procurava na família da namorada um aconche