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Mostrando postagens de 2017
ONDE ESTAREMOS EM 2050? O Congresso Inova FEI de 2017 propôs uma pergunta intrigante. Onde e como estaremos em 2050 em relação à cidade e o campo, mais precisamente como o campo estará em termos de inovação tecnológica e como se relacionará com os centros urbanos? Trinta e dois anos é um tempo relativamente curto, mas a forma rápida como a tecnologia evolui atualmente, muita coisa poderá acontecer nesse período. Há um consenso de que a maioria da população mundial estará residindo nas cidades, pois é uma realidade já presente em países economicamente mais desenvolvidos e é só acompanhar a evolução do êxodo rural nos últimos cinquenta anos no Brasil para se ter uma ideia de como a distribuição demográfica se alterou. Falou-se muito em veículos autônomos para o transporte terrestre de pessoas e mercadorias, como também o transporte aéreo que muito em breve prescindirá do ser humano para pilotar aeronaves, reduzindo os riscos de acidentes. A internet das coisas que envolve a apl
AO VENCEDOR AS BATATAS E OS ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL Num belo e ensolarado dia, o antropólogo de origem polonesa e radicado na Inglaterra, Bronislaw Malinovski,  desembarcou nas ilhas do Pacífico Ocidental numa expedição patrocinada pelo governo inglês para fazer uma pesquisa sobre a cultura dos povos da região no início do século XX. Para não se contaminar com os relatos de comerciantes patrícios, evitou manter com eles qualquer tipo de contato e foi diretamente à fonte.  O seu receio é que a visão etnocêntrica ou mesmo preconceituosa dos estrangeiros poderia influenciá-lo em sua missão de estudar a cultura desse povo. Assim, autorizado pelo chefe tribal, montou acampamento no meio da aldeia e a partir daí começou a árdua tarefa de aprender o idioma, os costumes, as estruturas familiares e de relações sociais, o sistema econômico etc., usando como forma de sedução o fumo que trazia em sua bagagem, muito apreciado pelos nativos. Os nativos fanáticos pela nicotina propor
PAIS E FILHOS Um velho amigo, quando jovem, contou numa roda que havia dando uma bronca num grupo de marmanjos que humilhavam um bêbado acompanhado do seu filho. Pelo que me recordo foram essas as suas palavras: “Vocês não podem fazer isso com esse homem perto do seu filho. O pai é o maior herói de uma criança. Vocês estão destruindo suas referências”. Fiquei orgulhoso do meu amigo que se arriscou ao desafiar uma turba ignara em defesa de uma criança. O escândalo protagonizado pelo ex-governador Sérgio Cabral Filho e que envolveu o desvio de milhões de reais a título de propinas fez com que muita gente se lembrasse do seu pai, o velho Sérgio Cabral, jornalista competente, especializado em música popular brasileira, letrista, redator do lendário Pasquim, o semanário que ousou bater de frente com a ditadura.  Pobre do Sérgio! Dizem todos os que o conheceram e leram suas colunas e reportagens.  É triste chegar ao fim da vida e ver o filho nas manchetes policiais como um dos maio
OS BONS E VELHOS ALFAIATES Foi-se o tempo em que se ia ao alfaiate para fazer uma roupa. Escolhía-se o tecido no próprio profissional ou levava o corte da preferência adquirido em lojas especializadas em tecidos, que hoje não sei se ainda existem.   Em seguida em tiradas as medidas. Braço esticado, braço encolhido, altura, largura etc. A próxima etapa era a primeira prova. Com o paletó semi-costurado fazia-se a primeira prova, depois a segunda e às vezes a terceira. Finalmente pronto, a última prova para não ter reclamações posteriores. Fazia-se um costume (ainda se chama de terno que a rigor é um costume de três peças, incluindo o colete) para um casamento próprio, para ser padrinho ou como convidado.  Era comum fazer um bom terno para uma festa de formatura dependendo de quem era o formando. No meu bairro havia um alfaiate chamado Genivaldo, uma figura simpática, gentil e de finíssimo no trato. Depois de entrar no seu atelier, ninguém escapava sem sair de lá com uma encomenda
CHAPÉUS RAMENZONI, UMA QUESTÃO DE CLASSE São Paulo até o início dos anos sessenta ainda era elegante. Nenhum homem de bem saia de casa sem um terno de casimira, gravata e um bom chapéu cobrindo a cabeça. Os chapéus eram um caso a parte, pois se tinha lá para todos os gostos e bolsos. Um Ramenzoni, confeccionado com lã de ovelha era o fino da elegância.  Lembro-me que ainda de calças curtas pedi um ao meu pai que respondeu que ainda não era tempo. Quem sabe um dia, quando me tornasse um homem de verdade poderia ter um ou até herdaria o seu Ramenzoni marrom,  aba estreita que ele cuidava com especial zelo. Para ele um menino de dez anos era apenas um projeto de homem. Ao chegar em casa ele tirava o chapéu, escovava-o e o repunha na sua caixa ovalada, colocando-o no guarda-roupa. Era um chapéu de passeio. No dia a dia usava outro mais simples e surrado.  Ai de quem tocasse nele! Mas como toda criança levada, fazia ouvidos de mercador e, na sua ausência, me admirava diante do espel
FOTOGRAFIAS Fotografar hoje em dia é brincadeira. Qualquer celular é capaz de fazer bons registros de pessoas, viagens, encontros, desencontros e inúteis paisagens. Antes da popularização das câmeras fotográficas, fazer retratos era coisa para profissionais e as famílias faziam os seus registros em estúdios, com fundo decorado e iluminação apuradíssima. Mas havia também os velhos lambe-lambes que percorriam ruas e praças para registrar imagens. O que será da fotografia? Com as câmeras digitais e celulares fazemos centenas ou milhares de fotografias, mas quase ninguém as revela em papel. Com o tempo poderão até desaparecer. Quem poderá garantir que daqui a cem anos poderemos acessar fotos que ficaram guardadas em câmeras digitais, computadores que ficaram obsoletos? É uma incógnita. A tecnologia coloca hoje os registros feitos em celulares em “nuvem”, mas se ocorrer um ataque de hackers que apague tudo? A história das imagens poderá ser perdida para sempre. De tempos em tempos
O DESAPARECIMENTO DE SULAMITA SCAQUETTI PINTO E já se foram sete anos que a Sulamita Scaquetti Pinto desapareceu. Não se sabe se ela estava triste, se estava alegre ou simplesmente estava sensível como diria Cecilia Meirelles.  Ia buscar o filho na escola e foi levada por outros caminhos até hoje desconhecidos. Ninguém sabe se perdeu o rumo, a memória, razão ou a vida. Simplesmente, a moça bonita, de belos olhos azuis nunca mais foi vista.          Os pais, os amigos e os parentes saíram pelas ruas perguntando a quem passava, mostrando a fotografia, mas ninguém viu. Alguns diziam que viram, mas não viram ou apenas acharam que era ela, mas não era. Participamos dessas desventuras quando tiveram notícias de que uma moça com a descrição da Sula havia aparecido num bairro distante. Era triste ver os pais desesperados por uma notícia da filha, com uma fotografia na mão, lembrando da tatuagem nas costas, dos cabelos loiros, dos olhos azuis, mas como de outras vezes, voltaram de mã
A PASSARINHA CHEGOU COM A PRIMAVERA Ao meio dia do início da Primavera uma amiga, dessas que riem de modo a ouvir-se de longe,  teve uma agradável surpresa: uma passarinha, dessas coloridas e desavisadas, cansada de voar para lá e para cá, entrou pela janela de sua sala, mesmo sem ser convidada e viu no vaso de uma pequena “árvore da felicidade”, a possibilidade de por os seus ovos e procriar. Lá fez o seu ninho sorrateiramente e se estabeleceu. Ficou aí provado que não são apenas os seres humanos que invadem terrenos desocupados para criar um lar, também, os passarinhos voam a procura de um teto e às vezes o encontram em locais menos prováveis.  Talvez já esteja se formando um movimento dos pássaros sem teto, o MPST. Com tantos movimentos por aí, mais um não vai atrapalhar e eu já me candidato a sócio colaborador. Os passarinhos sofrem muito com o desmatamento, pois as árvores estão se tornando cada vez mais raras em nosso meio ambiente. Além de raros, os ipês, oitis, cinamomo
MARIANA, A PRIMEIRA CAPITAL MINEIRA E SEUS FANTASMAS Há quem diga que Mariana, pequena cidade colonial distante doze quilômetros de Ouro Preto é mais bela do que a antiga Vila Rica, aquela cantada em prosa e verso pelos poetas da Inconfidência. Foi acreditando nisso que nos hospedamos por lá em 1997. Um belo e bem localizado hotel ao lado igreja matriz pareceu ser uma boa pedida para conhecer o local, visitar museus e igrejas. Mas Mariana foi, em verdade, a primeira cidade mineira e, também, sua primeira capital florescendo no ciclo do ouro e chegou a pertencer a Capitania de Itanhaém, tendo sido, portanto, uma extensão do território paulista. O seu nome foi uma homenagem do Rei Dom João V a sua mulher, Maria Ana, duquesa da Áustria. Estaria tudo maravilhoso se a praça da matriz não fosse o local escolhido pelos carnavalescos de Mariana para os ensaios que se estendiam pela madrugada. Era impossível dormir. O esperado sono só chegava mesmo quando os últimos foliões deixavam a
UM FUTURO JORNALISTA Estava com quatorze ou quinze anos quando decidi que seria jornalista. Por quê? Achava o máximo sentar diante de uma máquina de escrever (das antigas), fumando Mistura Fina (o cigarro do meu pai) e prevendo o futuro político do país numa redação repleta de grandes cabeças pensantes. Com esse futuro planejado fundei com o Tomás Padovani, um ex-seminarista, colega de classe, o meu primeiro jornal, que em verdade era um mensário, pois jornais devem ser publicados todos os dias (giorno). O nome era H.Zetinha e foi sugerido pelo Tomás. Publicamos poesias, curiosidades e entrevistas com professores. A primeira entrevista foi com a professora de português, Da. Takiko, uma nissei tímida e reservada e foi difícil tirar alguma coisa dela. Confesso que fui agressivo por ela não responder a maioria das questões propostas, mas depois me arrependi e pedi desculpas. O outro entrevistado foi o professor de História, Josué Augusto da Silva Leite que falou sobre tudo, menos
PARIS: UM LUGAR PARA SE DESPEDIR QUANDO O MUNDO ACABAR Paris deve ser mesmo uma cidade magica. Parece que o mundo todo um dia vai se encontrar em Paris. E se um dia se souber com antecedência que o mundo vai se acabar por um choque de um meteoro gigante contra a Terra, vai ser um congestionamento monstro no Aeroporto de Orly, pois todos que puderem vão se despedir da vida terrena e para a última taça de vinho, para uma última visita ao Museu do Louvre, ao Palácio de Versalhes, a Torre Eiffel, ao Museu D’orsey ou a Igreja de Notre Dame para os católicos mais fieis. Roma, Londres, Madrid, podem ser cidades interessantes, mas nenhuma se assemelha a velha Lutécia pelo seu charme, pela poesia, pela arte, enfim, pela sua magia. Mas para ser sincero penso que o filme Melancolia retrata melhor uma possível hecatombe com um planeta se aproximando lentamente da Terra. O planeta tem o nome de Melancolia, bem a propósito. Mas como escreveu Betty Milan: “Paris não acaba nunca”. Se visi
OS JAPONESES O extremo oeste de São Paulo foi a última área de expansão agrícola do Estado. No final dos anos vinte do século passado os índios e posseiros foram expulsos para darem lugar aos imensos cafezais, que mesmo com a crise de 1929, ainda representava a possibilidade de riqueza para os imigrantes que lá se estabeleceram. Grandes hordas de japoneses, italianos, espanhóis, portugueses e migrantes de outras regiões do Brasil ocuparam a região como trabalhadores diaristas, meeiros, parceiros, pequenos e grandes proprietários. O filme da cineasta Tizuko Yamasaki, Gaigin, retratou fielmente a vida de muitos colonos japoneses em São Paulo que foram explorados por fazendeiros inescrupulosos que se aproveitavam das dificuldades da língua e diferenças culturais do povo do Sol Nascente, instituindo uma semiescravidão. Mas esse problema não foi generalizado e esse povo trabalhador, obstinado e disciplinado se integrou bem em várias regiões, como a da Noroeste Paulista, p

Odebrecht: confissão dos erros

A Odebrecht está trabalhando ativamente para recuperar a sua imagem perante a sociedade brasileira e quem está à frente deste trabalho é Marcos Lessa, diretor de marketing, que esteve no Centro Universitário FEI para conversar com alunos e professores sobre esse programa. A empresa está mesmo dando a cara para bater, assumindo a responsabilidade pelos erros cometidos no passado e prometendo uma nova vida, reassumindo os valores e padrões de comportamento preconizados pelo fundador, Norberto Odebrecht, em um manual de três volumes. Infelizmente a condução agressiva dos seus executivos para o desenvolvimento de suas atividades, gerou posturas incompatíveis com os padrões básicos de responsabilidades corporativas no mundo dos negócios.  Em razão disso a organização acabou por ser cooptada por um sistema político ávido de poder e recursos, ameaçando a sua sobrevivência e gerou a destruição de mais de cem mil empregos. A punição para os executivos que tomaram decisões errôneas é jus

SETE DE SETEMBRO, SE...

. No meu tempo de menino o Sete de Setembro era comemorado com hasteamento da bandeira, hino nacional e discurso da diretora do colégio ou de alguma outra autoridade. A mão direita no peito varonil e lá vinha “Elvira do Ipiranga, margens glácidas, de um povo heroico e brabo...”. Era assim que um menino que ficava do meu lado na fila cantava. Era preciso se segurar para não rir e levar um puxão de orelha. A história da independência era uma coisa muito séria. Ninguém sabia coisas como o caso da amante de Dom Pedro, a Marquesa de Santos e que no caminho da volta de Santos, foi vítima de uma diarreia que obrigava a comitiva a parar de tempos em tempos para que ele pudesse se aliviar. Parece que a coisa foi brava. Há quem diga que foi uma peixada mal amanhecida. Dom Pedro I, como era ensinado, foi um grande herói que libertou o Brasil do domínio português, acabando com a exploração da metrópole. A viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro levava uma semana, com paradas para dormir. Mas
Marcia Gonçalves: uma luz que passou por aqui.   A querida Márcia partiu. Partiu cedo demais para alguém que tinha muita alegria e uma irradiante simpatia nos tempos em que desfrutava de uma vida saudável. A doença foi implacável com a nossa amiga. Mas ela foi feliz até o seu dia derradeiro, sempre amparada pelo seu jardineiro fiel, Carlinhos Kalunga, que cultivava flores no jardim da vida enquanto esperava por sua recuperação. Convivemos pouco, mas foi o suficiente para selar uma grande amizade. A mudança para o Rio de Janeiro em razão dos compromissos profissionais do seu marido músico a afastou do convívio com muitos dos seus amigos, mas ela sempre continuou presente em nossas lembranças. A última vez que a vimos foi às vésperas de um ano novo, quando o casal se mudou para Santo André. Foi uma noite alegre, cheia de música e sempre, sempre, a sua simpatia aconchegante que fazia com que seus amigos fizessem parte da sua vida. Recordo-me de algumas vezes em que o casal
DOCE MEL II Ao escrever a crônica anterior sobre amigos apicultores e méis não me dei conta de que um dos endereçados de meus escritos, o Nhô Dédo Thenório, conhece muito mais do que eu poderia imaginar sobre as melipônias nativas. O nhô que tomei a liberdade de usar antes do seu nome tem uma razão linguística e cultural, pois em nosso meio caipira é utilizado como tratamento de pessoas que gozam de considerável respeito nas comunidades rurais e, via de regra, são portadores de singulares sabedorias. Foi aí que ele me alertou que a jataí é, entre as abelhas nativas, uma das mais higiênicas, o que faz da afirmação do meu amigo apicultor, infelizmente já falecido, um palpite infeliz, como diria o poeta popular Noel Rosa. E para completar, citando consagrado pesquisador sobre o tema, explicou que a arapuá, sim, utiliza fezes de animais para ajudar na construção de suas colmeias. Como o Paulo era um naturalista autodidata e pesquisador por crença no conhecimento, com certeza ele
RICOS E POBRES   Nas novelas da Globo ricos e pobres frequentam os mesmos ambientes e o mesmo espaço público. As famílias de milionários convivem com famílias de pobretões sem eira nem beira. É a democracia global, afinal; mas somos todos iguais em tudo na vida e como disse o poeta João Cabral de Melo Neto, “morremos de morte igual, mesma morte Severina, que é a morte de que se morre, de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte e de fome um pouco por dia...”.   Mas em verdade os seres humanos só se igualam mesmo é na morte, pois todos apodrecem da mesma forma, devorados pelos vermes. O que muda mesmo é o velório, a qualidade do caixão e o custo do evento, depois o resto é silêncio. Mesmo assim algumas igrejas prometem, a quem pagar em vida, um bom terreno no céu, próximo de Jesus, eternizando a divisão social da sociedade. Essa história me faz recordar de um filme do Wood Allen em que um judeu, condenado à morte por crimes hediondos se converte ao catolicismo
ENFIM, UM FIM DE SEMANA Na atual fase da vida, meus fins de semana   em geral são mornos, sem grandes emoções. Mas neste   último saímos da rotina. No sábado fomos para a Rua Augusta no lançamento do livro de contos Primeiramente e levamos a amiga jornalista e escritora Sonia Nabarrete. Foi um gostoso papo de São Bernardo até a metrópole. Lá encontramos vários amigos e companheiros da antologia de contos. Entre os amigos e novos amigos, encontramos a querida Elizabeth Pudles,   também jornalista que estava lá prestigiando o evento. Apesar do tempo e das nossas rugas, um rosto amigo é sempre o mesmo, com a vitalidade da juventude ainda fresca no olhar que não vai desaparecer enquanto a nossa memória conseguir manter o registro. Lá estava também a querida Nádia Novaes, uma guerreira dos velhos tempos, sempre sorridente, entusiasmada e feliz, acreditando na amizade, na poesia e no futuro. O Paulo Lai Werneck, arquiteto, escritor e artista da madeira, a Manu com suas duas filhas a
MEL, DOCE MEL Quem não gosta de mel? Se não gosta deve ser diabético ou não tem glândulas gustativas. Eu gosto de mel e adoro saborear os favos. Meu falecido amigo apicultor e poeta Paulo Duarte, além de me fornecer mel trazia também os favos cortados em pequenos cubos. Era supimpa. Depois de ter passado alguns meses nos porões da ditadura, onde foi barbaramente torturado, resolveu usar um sitio da família para se dedicar às abelhas. Ficava feliz em observar o trabalho dos bichinhos fabricando mel, própolis e cera, com sua rígida divisão do trabalho social. Confessou-me que chegava a sonhar com a sociedade humana organizada como as abelhas. Eu sempre repetia: muita organização é totalitarismo meu amigo. Ele ria e tentava me convencer do contrário. Naqueles tempos em que frequentava nossa casa, surgiu do nada no jardim, uma colmeia de jatai. O Paulo tratou de estudar uma forma de domesticá-las, já que as abelhas nacionais são, em geral, pouco laboriosas e nada disciplinadas co
ERETOS Sonia Nabarrete, jornalista, fotógrafa, contista e poeta lançou recentemente a sua primeira novela. Um livro forte, utilizando uma linguagem sem censura, como é do seu jeito de ser. Ela se refere às coisas com os nomes que são utilizados nos guetos, nos bares, nas ruas, nos prostíbulos e na alcova. Sua carreira de jornalista sempre foi pautada por reportagens arrojadas, como a que escreveu sobre os índios tupis no litoral norte nos anos 1970 e que teve alguma repercussão. Neste trabalho expôs de forma nua e crua a realidade desse grupo indígena explorado pela população local e turistas. Nos últimos anos, depois de passar por um período como jornalista corporativa, editando órgãos internos de empresas, Sonia Nabarrete voltou a escrever poesias e contos, tendo alguns trabalhos premiados. Sua primeira novela e espero que publique outras, porque talento e criatividade não lhe faltam, é arrojada e totalmente despojada do lirismo comedido. O sexo é tratado de forma n
Brasileiro profissão esperança Ser brasileiro Não é apenas uma nacionalidade Ser brasileiro Não é apenas uma cultura, um idioma, Ser brasileiro Não é apenas samba, carnaval e futebol Ser brasileiro Não  é  só  trabalho, não é só dinheiro Ser brasileiro É esperar o tempo das coisas Coisas boas e ruins É ter uma oração pra cada tristeza É ter uma oração pra cada alegria É ver poesia em cada palmo de estrada É esperar o amanhã como se espera um filho Ser brasileiro é esperança Brasileiro: profissão esperança