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No meu tempo de menino o Sete de Setembro era comemorado com hasteamento
da bandeira, hino nacional e discurso da diretora do colégio ou de alguma outra
autoridade. A mão direita no peito varonil e lá vinha “Elvira do Ipiranga,
margens glácidas, de um povo heroico e brabo...”. Era assim que um menino que
ficava do meu lado na fila cantava. Era preciso se segurar para não rir e levar
um puxão de orelha.
A história da independência era uma coisa muito séria. Ninguém sabia
coisas como o caso da amante de Dom Pedro, a Marquesa de Santos e que no
caminho da volta de Santos, foi vítima de uma diarreia que obrigava a comitiva
a parar de tempos em tempos para que ele pudesse se aliviar. Parece que a coisa
foi brava. Há quem diga que foi uma peixada mal amanhecida. Dom Pedro I, como
era ensinado, foi um grande herói que libertou o Brasil do domínio português,
acabando com a exploração da metrópole. A viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro
levava uma semana, com paradas para dormir. Mas cavaleiros treinados iam a galope
à frente para levar a notícia à Corte e preparar a recepção. Dá para imaginar
quanto tempo levou para as províncias do norte e nordeste receberem as notícias
da independência.
Estava com uns catorze anos, quando li o interessante romance histórico
do Paulo Setúbal, o pai do banqueiro e político que um amigo me emprestou. É a
história romanceada do nosso primeiro imperador, sua paixão pela Maria
Domitila, as encrencas com José Bonifácio, o seu envolvimento com a maçonaria e
as más companhias como a do Francisco Gomes da Silva, que o guiava pelos
prostíbulos do Rio. Mas o Chalaça, como era conhecido era um sujeito culto e
poliglota e teria sido ele quem traduziu a constituição inglesa para D. Pedro
elaborar a nossa primeira constituição liberal, que como se sabe não deu certo.
Dom João VI deixou o filho herdeiro por aqui com as melhores das
intenções (obviamente para o filho), pois todos devem se lembrar da frase:
“Antes que seja para ti do que para qualquer outro aventureiro”. Mas nem tudo
ocorreu do jeito que queria o pai e as cortes lusitanas com mais poder depois
da Revolução Francesa, que limitou o poder absolutista em quase toda a Europa
queria o príncipe regente de volta a terrinha, pois estaria sendo mal
influenciado por brasileiros e outros interesses não portugueses.
Proclamada a independência com um grito às margens do riacho Ipiranga, o
príncipe chega à acanhada e provinciana São Paulo onde é aclamado pelas elites
locais, incluindo a bela Maria Domitila de Castro Canto e Melo recém-separada
do marido ciumento e violento. Azeitado pelo Chalaça na histórica noite de sete
de setembro de 1822, o príncipe foi recompensado pelo seu ato heroico com o
encontro com a bela paulistana para uma noitada de amor. Assim, alguns detalhes
da independência eram proibidos para menores de 14 anos.
Sabe-se que havia muita gente envolvida com o movimento de
independência, incluindo a maçonaria. A nobreza, os grandes proprietários de
terras, comerciantes, mineradores e a pequena classe média ascendente
trabalhavam para o fim dos vínculos com Portugal, pois quase toda a América do
Sul, já estava livre da Espanha. Contudo, a independência foi fruto do conchavo
entre vários interesses sem nenhuma participação popular. Não tivemos uma
revolução de independência como a dos EUA e outros países.
E lá vem a pergunta que não quer calar: Por que o Brasil não proclamou
uma república ao invés de passar primeiro pela monarquia? A resposta possível é
que uma república não conseguiria manter o sistema escravocrata, como queriam
as elites. A monarquia manteria a unidade do país em torno sistema
escravocrata. Os movimentos derrotados
de independência no norte e nordeste tinham como plataforma o fim da
escravidão, pois muitos escravos participaram desses movimentos. A Guerra dos
Farrapos, um movimento separatista nos anos 1840, libertaria os escravos caso
vencesse, pois muitos deles participaram na luta contra a coroa brasileira.
Assim, somente uma monarquia costurada pela aristocracia manteria o sistema
funcionando até o seu completo esgotamento como modelo de produção baseado no
trabalho escravo. Uma república naquele
momento poderia ter dividido o país em várias repúblicas, tal como ocorreu com
as colônias espanholas. Teria sido melhor ou pior? Nunca vamos saber, pois em
História não existe SE.
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