Ao poeta do povo, Carlos Drummond de Andrade. Todos sabem que tu não eras do povo O povo, esse desconhecido... Era a tua poesia Mas as preocupações do povo Nunca foram os teus versos Porque tu sabes, como “poeta do povo” Que o povo não ama seus poetas Nem a poesia. Mas aqueles que o amaram (Que não eram do povo) Não se conformaram Com a morte do poeta E foram para as ruas do povo Declamar teus poemas Gritaram nos teatros, no rádio, na TV Que eras um poeta do povo. As crianças do povo Acredite, te amariam Mas os pais do povo Não tem olhos para a poesia. Mas minha filha ouve teus poemas E sorri quando leio o verso: “O vento brinca nos bigodes do construtor” E confessa ter entendido tudo Pois há poesia em tudo Até onde não há vestígios de poesia. Depois, cansada de ouvir versos Adormece nos ombros da poesia. Ela soube que o poeta morreu Ou melhor, adormeceu Para que o sempre o velasse Não chorou, por que as crianças não choram E os poetas não morrem