Abriram-se as portas do Carandiru e uma grande horda de tribos das mais diversas origens afluiu para ver, com os próprios olhos, como viviam os excluídos da história. Com os próprios olhos tem um sentido relevante, pois ver com os olhos alheios pode implicar em digerir leituras diferentes, com base em narrativas carregadas de emoções, visões místicas, espiritualistas ou materialistas dos fatos. Afinal, como diz Walter Benjamim, cada narrador carrega nas suas tintas, deixando no vaso as marcas de suas próprias mãos. Numa longa fila, estavam jovens, brancos, negros, mestiços, homens, mulheres, católicos, protestantes, leigos, religiosos, piedosos ou sádicos. Todos esperavam ansiosos para conhecer os labirintos de um dos maiores centros penitenciários do país, aonde chegaram a viver (será?) mais de 7 mil presos. O ambiente ainda guardava um cheiro meio envelhecido de seres humanos que ali se amontoavam. Celas sujas, com roupas velhas abandonadas, revistas, jornais, papéis e alguns utensíl