A VIZINHA DO LADO Todo bairro tinha a sua moça elegante, sempre bem vestida, maquiada que usava corretamente o vernáculo. Havia mais de uma, mas a Frida era especial, principalmente porque morava quase em frente a nossa casa e desfrutávamos de alguma intimidade com ela e sua família. Era uma secretária, mas também uma equilibrista, pois não era fácil andar de salto alto naquelas calçadas mal conservadas da velha Vila Marlene. Ela navegava perto dos trinta anos e todos a consideravam uma solteirona ou uma balzaquiana, sem muita chance de subir ao altar para os padrões da época. Mas Frida não dava bola para a torcida e tampouco para os rapazes vizinhos que não estavam à altura do seu cabedal. “Imagine que eu me casaria com um pé rapado para passar os meus dias lavando cuecas. Nem pensar”, repetia sempre quando alguém lhe perguntava sobre casamento. A nossa musa, apesar da elegância e modos educados, não dispensava uma cervejinha e se tivesse uma cachacinha antes, melhor ainda.