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Mostrando postagens de 2021

"MINHA ALDEIA" de Valnice Vieira Bolla

Recebi o livro Minha Aldeia da minha querida amiga Valnice ou simplesmente Bolla, atriz, cenógrafa, figurinista, bonequeira e escritora. Sentado na rede, comecei a ler a brochura e fui recordando quando eu a conheci. Quanto tempo! quantas histórias! quanta generosidade! desse casal ( ela e o Zé Geraldo) que dedicou e dedica a vida às artes, sem concessões, por descuido ou poesia. Enfim, Bolla saiu do armário e colocou para fora seu lado de poeta e escritora. Quantas coisas bonitas ficaram nos seus alfarrábios escondidos nas gavetas do tempo! Mas enfim, temos em mãos as suas lembranças poéticas e suas reflexões expressas de forma muito particular, repletas de simbologias, da visão de mundo de uma criança que ela continua teimando em ser e, quiçá, nunca mude. Bolla me lembra um pouco a sua conterrânea Cora Coralina, pois nasceu em Goianésia no mesmo estado da poeta. De lá trouxe nas malas, na mente e nos bolsos, velhas lembranças como da casa de chão batido onde morou, do avô com seu t

RUTH V. C. L. CARDOSO: A ANTROPÓLOGA E PRIMEIRA-DAMA

Ruth Cardoso, mestre e doutora em Antropologia pela Universidade de São Paulo, com passagens como professora visitante em universidades americanas e europeias, detestava ser chamada de primeira-dama, invenção norte-americana que foi imitada pelo mundo ocidental. O papel da chamada primeira-dama basicamente é acompanhar o presidente nas viagens internacionais, nas recepções de autoridades estrangeiras no palácio do Planalto e outras atividades relacionadas. Ruth tinha vida própria e não queria ser apenas uma figura decorativa no centro do poder político. Como professora, Ruth Villaça Correia Leite Cardoso, era extremamente dedicada aos seus alunos e orientandos. Estava sempre preocupada se estavam aprendendo. Gostava de discutir, conversar, ouvir os seus interlocutores, pois acreditava que ensinar era também uma forma de aprendizado. Até então, havia a LBA, Legião Brasileira de Assistência, em geral coordenada pela mulher do presidente quando esta tinha disposição e capacidade para

CRISTÃO: SER OU NÃO SER?

Quem já leu “A Servidão Humana” de Somerset Maughan, há de se lembrar do personagem principal, Phillip Carey, e as suas intermináveis discussões com Deus. Órfão de pai e mãe, ainda menino, é criado pelo tio paterno, um rígido clérigo conservador na Inglaterra vitoriana do final do século XIX, Phillip começa a ler tudo que cai em suas mãos, o que o leva a grandes dúvidas metafísicas. Depois de um breve período na Alemanha após concluir o ensino médio, onde descobre o teatro de Ibsen e a filosofia alemã, desiste da carreira eclesiástica e resolve ser pintor em Paris, mas já com sérias dúvidas sobre sua religiosidade, o que conflita com toda a sua formação em colégios confessionais. Para Phillip, o que havia mesmo restado da educação religiosa, era a moral cristã, mas não mais o cristianismo na sua essência. A releitura do romance, quase autobiográfico de Somerset, autor de outro grande romance, “O fio da navalha!”, me fez lembrar das ideias religiosas do meu pai. Ele era um livre atira

EVALDO, APENAS UM MUSICO

Era um domingo, dia bonito, ensolarado, um bom dia para passear. Eram cinco da tarde quando Evaldo com a mulher, filho e sogro foram num chá de bebê. Um casal de amigos estava esperando uma criança e organizaram uma festinha, como é tradição, para angariar presentes para o bebê. O músico Evaldo, de 51 anos, não tinha compromisso profissional no dia e seu cavaquinho havia ficado em casa descansando suas cordas. Chegando no bairro do Guadalupe, Evaldo viu uma patrulha do Exército, mas deu pouca importância para o fato. Como era um carro de família, com mulher criança e um idoso, nem seria parado e chegariam no horário combinado da festinha. Mal teve tempo de pensar quando ouviu vários disparos. Devem estar atirando em algum bandido que forçou a passagem, mas quando percebeu que os tiros estavam atingindo a lataria do veículo, desconfiou que o problema era mais sério e parou o carro. Em seguida uma bala o atingiu. Sentiu uma dor terrível e ainda teve tempo de pensar: “Quem fez isso comi

VAGALUMES OU PIRILAMPOS

Quem nunca viu um vagalume desconhece uma das coisas mais interessantes da natureza. Os vagalumes ou pirilampos, são insetos que produzem uma luz fluorescente verde na porção abdominal e que aparecem no início da noite nas regiões com plantas e árvores. É curioso como um bichinho de 1 a 3 centímetros consegue emitir luz. Essa luz é provocada por uma substância chamada de luciferase que oxidada pelo oxigênio, provoca a luminescência. Em São Caetano do Sul ainda existia, na divisa com São Bernardo, próximo onde é hoje o cemitério e a Faculdade de Engenharia Mauá, um enorme matagal de onde vinham os vagalumes que invadiam as ruas próximas e os quintais. Isso acontecia no início da noite no verão, quando eles saem para o acasalamento. As fêmeas não voam e a luz é para atrai-las para o acasalamento. O que nunca entendi é como se as fêmeas não voam, como os machos são atraídos se ficam voando? Um mistério. Toda a garotada da rua saia para tentar capturar os bichinhos numa tentativa de pr

UM VELHO LIVRO DE FRANCÊS

Encontrei recentemente entre meus livros, um didático de francês que pertenceu a um jovem que trabalhava na mesma empresa que o meu pai. O nome dele era Dirceu Rossoni, escrito em uma caligrafia caprichada numa das páginas.Tudo indica que era um aluno estudioso, pois todas as lições tinham anotações de traduções de palavras para o português. Quem era o Dirceu Rossoni? Lembro-me muito bem dele, pois esteve em casa algumas vezes. Meu pai sempre comentava que eu devia seguir o exemplo do Dirceu. Um rapaz estudioso, honesto e trabalhador. Os pais sempre procuram orientar seus filhos para seguirem bons exemplos e assim evitarem que caiam em maus caminhos pela vida. Dirceu era bem jovem, estando por volta dos 17 ou 18 anos. Quando entrei no ginásio, que atualmente corresponde ao 5.o. e 8.o ciclo do ensino fundamental, ele trouxe uma caixa de livros que havia usado no ginásio para que eu pudesse aproveitar. Usei alguns e outros ficaram na gaveta ou foram doados e não sei por qual razão o de

SALVE O DIA DA BANDEIRA!

A bandeira brasileira tem um velho e saudoso significado para mim. Lembra minha mãe com uma saia de linho verde que ela gostava de usar e a deixava elegante e charmosa. Mas um dia ela enroscou a saia em algum lugar, fazendo um rasgo irrecuperável. Ficou triste, muito triste. E para consolá-la pedi que me fizesse uma camisa com o tecido. Não é ela topou! Mãos a obra. Sentada em sua Brivenix, uma máquina de costura inglesa, onde eu li as primeiras palavras na língua de Shakespeare: Made in England, ela costurou, em poucas horas uma bela camisa de linho verde. A cor me deixava preocupado, pois poderia sugerir que eu havia trocado de time, abandonando o velho clube do Parque São Jorge, mas eu gostava do verde e ponto final. Mas um fato novo estava para acontecer. A minha professora do segundo ano primário avisou que no dia seguinte comemoraríamos o dia da Bandeira Nacional e nos fez decorar o quase desconhecido hino, cujos versos ainda me encantam: “Salve lindo, pendão da esperança/ Salv

AS CATARATAS

Nunca visitei as Cataratas do Iguaçu e tampouco as do Niágara, mas descobri na última consulta ao oftalmologista, que apareceu uma “em minhas retinas fatigadas”, como diria o velho Drummond. É pequena e apenas no olho direito, mas suficiente para deixar a visão embaçada. Ainda bem que é apenas em um olho, pois caso contrário não estaria conseguindo escrever esse texto. A catarata, para quem não sabe, é a perda do cristalino, que tem um papel importante na formação da imagem na retina. Mão sei se foram as cataratas dos rios que deram o nome para as dos olhos ou o contrário. A palavra vem do grego Katarakte que significa coisa que cai. Os antigos acreditavam que o humor do organismo escorria para os olhos. A danada ocorre por conta do vencimento do prazo de validade do ser humano. Quem passar dos sessenta terá a sua. Preparem-se... A cirurgia para a retirada da catarata é antiga e já era conhecida entre os egípcios, mas com pouquíssima eficiência. Somente no século XVIII, o oftalmologi

DIÁRIO DA QUARENTENA

Acordo com a sensação de que o fim de semana não tem mais fim. Parece que estamos emendando um com o outro e desapareceram as segundas, terças, quartas... Terminamos o Verão, o outono e estamos entrando no Inverno e tudo parece igual, com as mesmas folhas da quaresmeira inundando o quintal. Felizmente não estamos sozinhos, pois filha, genro e neto ajudam a passar o tempo, principalmente o menino arteiro que todos os dias aparece com uma nova artimanha para deixar todos de cabelos em pé. Minha rua é pequena e sem saída. O movimento maior é por conta do caminhão de lixo que passa quatro vezes por semana, sendo uma de material reciclável. Esses materiais aumentaram bastante, pois temos comprado tudo por telefone. A padaria fez até umas graças enviando de brinde potes de café gourmet do Vale do Paraíba, mas pararam, pois, deve ter acabado o estoque. Alguns vizinhos saem para a rua sem máscaras e parecem pouco preocupados com a pandemia. Reconheço que pelo movimento da rua, não correm nen

CORAÇÕES SUJOS

Acabei de ler o livro Corações Sujos do Fernando Moraes sobre a comunidade japonesa no Brasil nos anos 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. Mesmo depois do ataque americano com bombas atômicas sobre e Hiroxima e Nagasaki, muitos japoneses residentes no Brasil ainda acreditavam que o Japão havia vencido a guerra e que as informações que aqui chegavam eram manipulações do imperialismo americano. Aqueles que não concordavam que o Japão havia vencido a guerra eram chamados de "Corações sujos" e muitos foram assassinados como traidores da pátria do Sol Nascente. No oeste paulista, onde estava grande parte da colônia, esse sentimento era muito forte, causando sérios problemas, obrigando a polícia a intervir de forma muitas vezes violenta e desproporcional. A repressão criou um sentimento entre os japoneses de que os brasileiros não gostavam deles. Fazendo uma analogia com a atualidade, a informação de que o Japão teria sido o vencedor da guerra, era uma fake news e aqueles q

DESIGN INTELIGENTE

Design inteligente é um conceito que tenta se contrapor à Teoria da Evolução formulada por Charles Darwin no século XIX, argumentando que houve sim uma evolução, mas orientada por um criador do universo que já tinha em mente como seriam os seres vivos na Terra. Essa visão não tem base científica, pois admite, a priori, que tudo se deu pela vontade expressa de um possível criador do universo. Ao contrário, a Evolução se torna uma teoria a partir das comprovações empíricas de Darwin que observou mudanças em algumas espécies em função das necessidades da adaptação e seleção natural. O assunto vem à tona em razão de um congresso “científico” organizado pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul em que um químico defende de forma apaixonada o Design Inteligente, tentando desconstruir a Teoria da Evolução de Darwin que é aceita pela maioria dos pesquisadores. Essa expressão surgiu após a Suprema Corte dos USA considerar o criacionismo uma visão religiosa, sem nenhuma base científica.

QUE MISTERIOS TEM CLARICE e os 80 anos de Clarice Herzog

Em outubro de 1975, era assassinado nos porões da ditadura, o jornalista de origem judaica, Vladimir Herzog, logo depois que ele se apresentou para atender a uma intimação. Avisou sua mulher que iria se apresentar e não estava muito preocupado, pois não tinha cometido nenhum crime, pelo menos no seu modo de ver as coisas. Não voltou mais e algumas horas depois Clarice recebia a notícia de que ele havia se “suicidado”. A família Herzog que saiu da Iugoslávia para fugir do antissemitismo alemão durante a guerra e perdera um filho nas circunstâncias mais absurdas. A notícia comoveu o país e o mundo, pois Herzog era diretor de jornalismo da TV Cultura, um canal do governo do Estado de São Paulo. Na época, o presidente da República era o General Ernesto Geisel e o governador o empresário Paulo Egydio Martins, escolhido pelo presidente. O Secretário da Cultura era o empresário José Mindlin, dono da Metal Leve, também judeu, a quem Herzog era subordinado. A morte de Herzog teve grande reper

LULA E O SONHO DE BOLSONARO

Pode parecer estranho que Bolsonaro torça para que Lula seja de fato o seu adversário em 2022, pois o petista, de acordo com as pesquisas de opinião, tem grandes chances de derrotá-lo no segundo turno. Um candidato mais ao centro no segundo turno poderia, em tese, atrair os votos do centro, centro direita, direita e centro esquerda, ampliando as chances de vencer Bolsonaro no segundo turno. É bom não esquecer que em 2018 Bolsonaro surfou na onda do antipetismo depois do fracasso político e econômico da Dilma Rousseff e dos processos da operação lava-jato que atingiram Lula e o PT. Muitos eleitores de centro ou da maioria silenciosa, votaram nele por falta de opção. No entanto, depois do seu desastrado governo, Bolsonaro dificilmente receberia novamente todos esses votos, a não ser que os mais conservadores fiquem entre a cruz e a espada. Enfrentando Lula no segundo turno Bolsonaro deve estimular seus partidários e os eleitores conservadores de que ele seria a única opção contra um c

O LADO PRECONCEITUOSO DOS ARGENTINOS: O PAPA E O PRESIDENTE

Os argentinos estão em alta na produção de declarações racistas, preconceituosas e estereotipadas. O simpático Papa Francisco respondeu em forma de piada que os brasileiros não tinham salvação, pois ao invés de orar, ficam bebendo cachaça. A percepção argentina de que os brasileiros são cachaceiros é menos ruim do que quando nos chamam de macacos em razão da forte presença africana no Brasil. Não bebo cachaça, uma bebida nacional com registro de origem, muito apreciada no mundo inteiro, mas ela deve ter lá suas qualidades exaltadas pelos cachaçaciers. Um velho amigo, Silvio Franco, lançou várias cachaças com sabores, sendo a de Cambuci, uma das mais apreciadas. A “Reserva do Cabrunco”, tem também, a cachaça com uvaia entre outras. Recordo-me de uma multinacional alemã onde trabalhei, em que as secretárias corriam em desespero atrás de boas cachaças para seus chefes levarem nas bagagens, pois seria indelicadeza voltar do Brasil sem os esperados presentes para os amigos e parentes. Ma

MARISA DEA. POR QUE TÃO CEDO?

MARISA DEA. POR QUE TÃO CEDO? Conheci a Marisa como professora de literatura brasileira na Fundação Santo André. Cursei dois anos e desisti do curso de Letras, mas não esqueci das aulas dela, principalmente quando analisamos um poema do Drummond, A flor e a náusea, que ela considerava a sua obra prima. Outra aula inesquecível foi sobre o conto “’O Iniciado do Vento”, de Aníbal Machado, um grande escritor mineiro pouco conhecido, mas genial. Marisa sempre lembrava os escritores franceses, principalmente os poetas como Racine e Mallarme, que eram citados a larga. Depois de formado fui dar aulas num colégio estadual em São Caetano do Sul como mestre em caráter precário. Lá encontrei novamente a Marisa, que era professora concursada do estado. Tivemos longos papos na sala dos professores, sempre falando de literatura, principalmente Drummond, Fernando Pessoa, Flaubert, Balzac entre outros. Fiquei apenas um ano no colégio, pois era muito estressante ter dois empregos e optei por ficar apen

STRANGE FRUIT E BILLIE HOLLIDAY

O filme “Billie Holiday contra o Estado” tem como tema a perseguição sofrida pela cantora de jazz pelo departamento de narcóticos do FBI nos anos 1940 e 1950. Billie era mesmo viciada em heroína, mas a perseguição tinha um foco mais pessoal, pois a cantora representava, aos olhos do Estado, uma ameaça à estabilidade política e social e o comissário tinha como objetivo maior, destruir a artista, pois sua voz tinha uma força, uma penetração muito grande entre os seus irmãos negros. Holiday, nascida em 1915, filha de pais adolescentes, teve uma infância trágica, pois com dez anos foi estuprada por um vizinho. Com catorze anos começa a se prostituir para sobreviver, mas é presa e passa quatro meses na prisão. Aos quinze anos começa a cantar em bares até ser descoberta. Para a polícia e o stablishment, a canção Strange Fruit era perigosa, pois poderia estimular a revolta. Revolta der quem? Obviamente dos negros massacrados pelo apartheid americano. Strange Fruit composta pelo professor ju

NÃO VERÁS PAÍS NENHUM

O livro do novo imortal da Academia Brasileira de Letras, Ignácio Loyola Brandão, estava em minha estante desde 1981 e só agora, em plena pandemia, resolvi enfrentá-lo. Não é fácil, pois o romance narra com profundo pessimismo o futuro do país. Quem leu O Processo de Franz Kafka, 1984 de George Orwel e o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, deve saber do que se trata. Dá a impressão de que Brandão se inspirou nesses três clássicos da literatura para construir sua narrativa. O mundo brandonista, termo que estou lançando (rs), seria caótico, pois o clima estaria totalmente mudado com a seca atingindo a grande parte do planeta, rios com leitos secos, as chuvas teriam desaparecido e as florestas teriam ficado como reles lembranças nos livros didáticos ou na memória dos mais velhos. O mundo estaria se alimentando basicamente de alimentos que o autor chama de factícios, pois seriam produzidos em laboratórios com todos os riscos para a saúde humana. A floresta amazônica hoje cantada em p

MINHA ANCESTRALIDADE

Por curiosidade de antropólogo, fiz o meu exame do DNA de ancestralidade global para ver as informações sobre a origem dos meus antepassados. Sabia que meus trisavós paternos eram portugueses, mas no Brasil se misturaram com outras etnias. Pelo lado materno são brasileiros há bem mais de 200 anos com origem ibérica, mas também com várias miscigenações. Com a moderna tecnologia de exame do DNA, um processo bem simples em que cotonetes são esfregados por cinco minutos na parte interna das bochechas é possível identificar as etnias ancestrais mais distantes em suas trajetórias pelo mundo. O resultado indicou que 79% da minha ascendência é europeia, sendo 38% ibérica (Espanha e Portugal), 18% da Europa Ocidental, possivelmente França e 18% da Itália, pois muitos ibéricos têm DNA da península itálica. Além disso, 3% do meu DNA vem da Sardenha, a grande ilha italiana que fica no mar Mediterrâneo, cujo povo permaneceu isolado do continente durante muito tempo. Para completar, 3% do meu DNA

MARCIAL CANTERAS, UM ADVOGADO QUE AMAVA A POESIA

O velho Marcial, bom de bola, bom de versos, que se defendia bem nos sambas, partiu para uma viagem sem volta. Não gosto de dizer que deixou alguém, porque nessas viagens ninguém gosta de ir junto. Mas ficaram suas duas filhotas lindas e muito queridas pelo amoroso pai. Nascido em Santo André, Marcial travou conhecimento com a turminha da música, incluindo aí o velho Saulo de Tarso, que a covid tirou da gente e ainda não terminou a dor da perda pelos amigos e parentes. Nessa turma estava ainda o Sinésio Dozzi Tezza, Erasmão, Edélcio Thenório, Oscar de Vitto e outros tantos. Conheci o Marcial em Barra do Uma, onde a nossa turma relaxava nos feriados prolongados acampando no quintal do Heitor Tolezano, um andreense que largou tudo para viver a vida de papo pro ar naquela maravilhosa praia às margens do Rio Uma. Depois de instalados eu e a Celinha fomos ao único boteco na época, o Bar do Xandoca, onde estava toda a turma. O Saulinho ao violão, acompanhava um garotão descolado que cantava

TECENDO O AMANHÃ: ROMANCE DE MOACYR PINTO

O escritor Moacyr Pinto depois de escrever Contos de vista (histórias do Brasil que elegeu Lula), Hiena: minha revolta não se vende, Ditadura Nunca mais, entre outros, lançou seu primeiro romance ambientado num bairro operário, sendo os personagens também operários, operárias e donas de casa. A proposta do escritor em sua primeira incursão pela literatura de ficção, foi dar protagonismo a uma classe social, invariavelmente colocada como coadjuvante nas narrativas que ele considera como burguesas ou da pequena burguesia. Tecendo o amanhã se propõe a dar voz para aqueles que labutam no chão de fábrica com os seus medos, suas esperanças e seus conflitos sociais, econômicos, familiares e afetivos. O falecido historiador Sérgio Buarque de Holanda manifestou numa entrevista que tinha a esperança de ver uma história escrita pelo povo e não, como até então, narrada pela visão de intelectuais da classe média ou da elite dominante. Tem sido assim ao longo da nossa história, quando os fatos pol