Nunca visitei as Cataratas do Iguaçu e tampouco as do Niágara, mas descobri na última consulta ao oftalmologista, que apareceu uma “em minhas retinas fatigadas”, como diria o velho Drummond. É pequena e apenas no olho direito, mas suficiente para deixar a visão embaçada. Ainda bem que é apenas em um olho, pois caso contrário não estaria conseguindo escrever esse texto.
A catarata, para quem não sabe, é a perda do cristalino, que tem um papel importante na formação da imagem na retina. Mão sei se foram as cataratas dos rios que deram o nome para as dos olhos ou o contrário. A palavra vem do grego Katarakte que significa coisa que cai. Os antigos acreditavam que o humor do organismo escorria para os olhos. A danada ocorre por conta do vencimento do prazo de validade do ser humano. Quem passar dos sessenta terá a sua. Preparem-se...
A cirurgia para a retirada da catarata é antiga e já era conhecida entre os egípcios, mas com pouquíssima eficiência. Somente no século XVIII, o oftalmologista Jacques Daviel (1696-1762), conseguiu extrair com sucesso uma catarata. Mas foi apenas em 1949, que o médico Nicholas Harold Lloyd Ridley introduziu uma lente intraocular.
Hoje é uma cirurgia relativamente simples, mas que exige grande habilidade do profissional médico. Isso quer dizer que ainda ocorrem casos de perda ocular em cirurgias de catarata, como aconteceu com minha mãe. Ela tinha a opção de fazer a cirurgia pelo convênio médico, mas como teria o custo da lente, optou pela intervenção gratuita num mutirão da prefeitura em São Caetano do Sul. A economia custou muito, muito caro. No dia seguinte à cirurgia, quando foi retirado o tampão, constatamos que que já havia perdido o olho esquerdo. Em seguida, foi preciso uma nova intervenção para a retirada do olho e colocação de uma prótese para dar apoio a uma lente, por questões estéticas.
Como a catarata no olho direito estava grande e dificultava a leitura, ela foi submetida a outra cirurgia para a extração. Mas desta vez com um médico bastante experiente. Foi uma intervenção rápida, de apenas quinze minutos entre a extração da catarata e a colocação de uma nova lente. No dia seguinte, preocupados em razão do histórico infeliz, deixamos para o médico a retirada do curativo. Felizmente, ela voltou a enxergar. Tinha sido bem-sucedida dessa vez.
Ingenuamente, ela acreditava que poderia fazer um transplante ocular, pois sempre havia alguém que, por ignorância, lhe afirmava ser possível. Era inútil tentar convencê-la de que os transplantes são apenas da córnea e não do globo ocular. Até sua morte ela ainda tinha esperanças de que algum médico lhe faria o transplante milagroso.
O mesmo médico que fez a cirurgia bem-sucedida da minha mãe já me alertou que no próximo ano precisarei retirar a tal catarata. Como ele não trabalha com meu convênio, vou preparar os bolsos para mais essa. Como gato escaldado tem medo de água fria, não me atrevo a colocar meu olho nas mãos de um estagiário.
Num dia desses visitava um sebo para passar o tempo, quando, surpreso, vi o livro Comunicação Visual e Expressão, do professor José de Arruda Penteado. Comprei o exemplar e pus-me a recordar os tempos de faculdade em que ele era professor e nosso mentor intelectual. Era uma figura ímpar, com seu vozeirão impostado e uma fina ironia. Rapidamente estreitamos contato e nas sextas-feiras saíamos em turma para tomar vinho e conversar. Era um dos poucos professores em que era possível criticar, sem medo, a ditadura militar. Penteado era um educador, profissão que abraçara com convicção e paixão. Seu ídolo e mestre foi o grande pedagogo Anísio Teixeira, que ele enaltecia com freqüência em nossos encontros semanais. Defendia um modelo de educação voltado para uma prática socialista e democrática, coisa rara naqueles tempos. Depois disso, soube que estava coordenando o curso de mestrado em Artes Visuais da Unesp e ficamos de fazer contato com o ilustre e inesquecível mestre. Mas o t...
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