Pode parecer estranho que Bolsonaro torça para que Lula seja de fato o seu adversário em 2022, pois o petista, de acordo com as pesquisas de opinião, tem grandes chances de derrotá-lo no segundo turno. Um candidato mais ao centro no segundo turno poderia, em tese, atrair os votos do centro, centro direita, direita e centro esquerda, ampliando as chances de vencer Bolsonaro no segundo turno. É bom não esquecer que em 2018 Bolsonaro surfou na onda do antipetismo depois do fracasso político e econômico da Dilma Rousseff e dos processos da operação lava-jato que atingiram Lula e o PT. Muitos eleitores de centro ou da maioria silenciosa, votaram nele por falta de opção. No entanto, depois do seu desastrado governo, Bolsonaro dificilmente receberia novamente todos esses votos, a não ser que os mais conservadores fiquem entre a cruz e a espada.
Enfrentando Lula no segundo turno Bolsonaro deve estimular seus partidários e os eleitores conservadores de que ele seria a única opção contra um candidato que ele considera erroneamente como comunista. Se mesmo assim não funcionar, sua última cartada é usar as forças armadas como mecanismo de pressão. Um levante da Vila Militar, mesmo que não chegue as vias de fato, pode produzir resultados entre os eleitores, empresariado e políticos.
Além disso, ele deve contar com a possibilidade de um golpe militar caso Lula se eleja ou esteja em vias de. Entre os altos oficiais há uma forte posição legalista, mas entre a média e baixa oficialidade há informações de que a maioria apoiaria Bolsonaro. Um levante desses oficiais que estão mais próximos das tropas pode causar sérios problemas caso os comandantes não consigam controlar a situação. É claro que se trata de uma mera hipótese e nada disso pode acontecer; mas que existe muita gente torcendo para esse desfecho, não há dúvidas.
Mas um golpe não deveria alegrar muito os apoiadores do Bolsonaro, pois uma vez que saírem dos quarteis, será mais difícil os militares retornarem; e depois de quebrarem as regras democráticas, com certeza não será o capitão que ficará no comando por uma simples questão de hierarquia, além da comprovada falta de competência política e administrativa.
Por outro lado, não há dúvida para quem entende um pouquinho de política externa e economia, que um golpe na atual conjuntura, seria um desastre para o país, além do risco de uma guerra civil, já que não se sabe se haveria consenso nas forças armadas para uma aventura desse tipo. Sem contar que, diferentemente de 1964, falta apoio de segmentos importantes da sociedade civil e ausência de sustentação no plano externo, principalmente dos EUA e Comunidade europeia.
Como ficaria a situação do país no plano internacional? O novo governo seria reconhecido pelo mundo civilizado, considerando que no momento nosso país perdeu o pouco prestígio que tinha? Ou ficaríamos isolados e pressionados por todos os lados, inclusive pelos nossos vizinhos? Talvez, por ironia, a Venezuela seja o único aliado entre eles.
O risco de uma guerra civil em razão da polarização não seria desprezível, o que colocaria o país em chamas, desorganizando a economia e o tecido social, sem contar com a possibilidade de intervenção internacional para preservação das reservas florestais, um ponto que vem gerando conflito com o mundo em razão das ameaças ao equilíbrio climático. As guerras civis todos sabem como começam, mas não como terminam. A Síria esta aí para servir de exemplo para os mais afoitos.
Enfim, talvez o melhor remédio para o perigo bolsonarista, seria mesmo uma candidatura que consiga estabelecer um ponto de equilíbrio entre o reacionarismo de parcela da sociedade brasileira e as grandes demandas sociais, políticas e ambientais. Será que os atuais atores políticos de oposição estão mesmo dispostos a renunciar ao individualismo para que o país encontre a paz necessária para a retomada do crescimento pós pandemia e concentre forças para derrotar o atraso?
Num dia desses visitava um sebo para passar o tempo, quando, surpreso, vi o livro Comunicação Visual e Expressão, do professor José de Arruda Penteado. Comprei o exemplar e pus-me a recordar os tempos de faculdade em que ele era professor e nosso mentor intelectual. Era uma figura ímpar, com seu vozeirão impostado e uma fina ironia. Rapidamente estreitamos contato e nas sextas-feiras saíamos em turma para tomar vinho e conversar. Era um dos poucos professores em que era possível criticar, sem medo, a ditadura militar. Penteado era um educador, profissão que abraçara com convicção e paixão. Seu ídolo e mestre foi o grande pedagogo Anísio Teixeira, que ele enaltecia com freqüência em nossos encontros semanais. Defendia um modelo de educação voltado para uma prática socialista e democrática, coisa rara naqueles tempos. Depois disso, soube que estava coordenando o curso de mestrado em Artes Visuais da Unesp e ficamos de fazer contato com o ilustre e inesquecível mestre. Mas o t...
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