MARISA DEA. POR QUE TÃO CEDO?
Conheci a Marisa como professora de literatura brasileira na Fundação Santo André. Cursei dois anos e desisti do curso de Letras, mas não esqueci das aulas dela, principalmente quando analisamos um poema do Drummond, A flor e a náusea, que ela considerava a sua obra prima. Outra aula inesquecível foi sobre o conto “’O Iniciado do Vento”, de Aníbal Machado, um grande escritor mineiro pouco conhecido, mas genial. Marisa sempre lembrava os escritores franceses, principalmente os poetas como Racine e Mallarme, que eram citados a larga.
Depois de formado fui dar aulas num colégio estadual em São Caetano do Sul como mestre em caráter precário. Lá encontrei novamente a Marisa, que era professora concursada do estado. Tivemos longos papos na sala dos professores, sempre falando de literatura, principalmente Drummond, Fernando Pessoa, Flaubert, Balzac entre outros.
Fiquei apenas um ano no colégio, pois era muito estressante ter dois empregos e optei por ficar apenas com o trabalho em RH. Nunca mais vi a Marisa, que mesmo muito pequena, parece que ela crescia quando falava sobre os temas que mais gostava. Tinha um especial prazer em falar de Paris, que ela considerava a sua segunda cidade, pois lá morou algum tempo estudando ou trabalhando.
Muitos anos depois, a descobri no Facebook e retomamos o contato, mas apenas virtual por algum tempo até que a revi na companhia de uma namorada de um velho amigo. Ficamos mais próximos, nos encontrando em teatros, principalmente em shows quando seu ex-aluno de colégio, o pianista Ogair Silva se apresentava e, também, a recebemos mais de uma vez em nossa casa. Marisa tinha lá o seu jeito de boêmia, porém não bebia nada de álcool, mas adorava um cigarrinho, que talvez não tenha sido muito bom para sua saúde.
No facebook, sempre nos brindava com bons textos, que acabaram se transformando no seu primeiro livro de contos, em cujo lançamento acabei não podendo ir. Com sua partida, fiquei ainda com mais remorso, pois ela esteve no lançamento do meu. Ela era combativa, aguerrida e quase que diariamente fazia postagens contra o desgoverno que se instalou em Brasília em 1918.
Nos últimos tempos, vinha se dedicando ao resgate do compositor Sergio Ricardo, que se tornou mais famoso pelo violão quebrado do que pelas suas belas canções. Marisa acompanhou o artista até a sua morte, descobrindo outras faces do artista como a de artista plástico de grande criatividade.
Perdemos a Marisa Déa, um nome pequeno como ela, mas de grande significado: deusa (Dea). Vai ser difícil abrir o Facebook e não a encontrar sempre questionando o festival da besteira que assola o país, como diria o Stanislaw Ponte Preta, alcunha do escritor Sérgio Porto. Não gosto de dizer que ela nos deixou porque ninguém gostaria de acompanhá-la nesta última viagem, mas bem que ela poderia ter gravado um poema do seu poeta favorito Mallarme com o charme do seu francês, segundo idioma.
Au revoir Marisa
Num dia desses visitava um sebo para passar o tempo, quando, surpreso, vi o livro Comunicação Visual e Expressão, do professor José de Arruda Penteado. Comprei o exemplar e pus-me a recordar os tempos de faculdade em que ele era professor e nosso mentor intelectual. Era uma figura ímpar, com seu vozeirão impostado e uma fina ironia. Rapidamente estreitamos contato e nas sextas-feiras saíamos em turma para tomar vinho e conversar. Era um dos poucos professores em que era possível criticar, sem medo, a ditadura militar. Penteado era um educador, profissão que abraçara com convicção e paixão. Seu ídolo e mestre foi o grande pedagogo Anísio Teixeira, que ele enaltecia com freqüência em nossos encontros semanais. Defendia um modelo de educação voltado para uma prática socialista e democrática, coisa rara naqueles tempos. Depois disso, soube que estava coordenando o curso de mestrado em Artes Visuais da Unesp e ficamos de fazer contato com o ilustre e inesquecível mestre. Mas o t...
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