Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2008

OS VELHOS COMPANHEIROS

Apesar da garoa fina e do frio, lá vamos nós para uma festa na casa de amigos. Às vezes falta coragem, mas sempre vale a pena quando a alma não é pequena. Nada tão saboroso como os doces encontros com os amigos e amigas de antigas jornadas. Abraços demorados, repletos de afeto e alegria por rever pessoas que fazem parte da nossa história, dos nossos sonhos, das nossas aventuras e desventuras. Sempre festejamos os aniversários, os casamentos, os nascimentos e muitas vezes era apenas para comemorar um retorno, um dia bonito, uma noite de lua cheia ou simplesmente a vontade de rever os velhos companheiros. Todos são, ou melhor, eram bons de copo. Alguns são vigiados atentamente pelas mulheres, que aproveitando a lei seca, impuseram severo controle sobre o vinho, o uísque e a cerveja. Um copinho só não faz mal... Até o final da festa já passou o efeito... E a conversa vai pegando ritmo. Não se fala mais de política, de violência e de corrupção porque ninguém agüenta mais. Fala-se mais de p

O EXTERNATO MATTOSO E A VELHA MOOCA

Num taxi em direção à Mooca, um velhinho no volante foi me falando com seu sotaque italianado sobre o bairro que conhecia como a palma de sua mão. Ele nasceu e foi criado lá. Hoje, motorista de táxi pertence à cidade, rodando por tudo quanto é canto da São Paulo desvairada. Paramos em frente ao antigo Externato Mattoso, na Rua dos Trilhos e ele se pôs a falar sobre sua infância quando lá estudava. - As professoras eram muito rigorosas e ainda hoje tenho marcas de grãos de milho nos joelhos, comentou saudoso. Quem passava até pouco tempo atrás pela Rua dos Trilhos, ainda via uma construção antiga com a inscrição: Externato Mattoso. Lá funcionou de 1910 até meados dos anos sessenta, a primeira escola do bairro. Lá três irmãs, a Etelvina, a Arlinda e a Marianna da Costa Mattoso, ensinavam as crianças a ler e a escrever. Naquela época, na Mooca, um bairro tipicamente operário, se falava mais o italianês do que o português. Na verdade a língua predominante era o dialeto Vêneto

Histórias de Piedade (II)

Dedo estava em novas atividades no banco. Agora era um inspetor de financiamento rural e seu trabalho consistia em visitar os clientes do banco para verificar se estavam aplicando corretamente os recursos. Pegou a pastinha com a relação dos clientes a serem visitados, subiu na motocicleta e saiu para mais um dia de trabalho. As estradas vicinais são difíceis, mal conservadas e sem nenhum tipo de sinalização ou indicação. Para localizar as pessoas nos sítios era preciso ir perguntando para quem encontrava pelo caminho. Muitos dos clientes são conhecidos por apelidos, o que torna a tarefa ainda mais difícil. Um tal de Antonio José dos Santos foi muito difícil de achar. Ninguém conhecia o homem até que um senhor se lembrou e disse: - Deve ser o Toto do Titico. Ele mora lá em riba. Chegando lá encontrou uma senhora de meia idade varrendo o quintal em frente a casa. Estava tão concentrada em seu trabalho que nem percebeu a moto chegar. Ela parou de varrer e apoiando as mãos na vassoura

Histórias de Piedade I

Histórias de Piedade Murilo deu um bocejo e sentiu que já estava passando da hora de fechar a bodega. Fazer as contas, pegar o caminho de casa e descansar para mais um dia de labuta. Já ia pegando a chave quando entrou um velho com uns setenta e poucos anos. O homem chegou meio cambaleando e parou no balcão. Tirou o chapéu e pediu um café bem forte. O Murilo pensou com seus botões, mais essa agora... Na horinha de fechar. Café até que tinha um restinho que havia sobrado, mas servir, sujar copo e ainda agüentar conversa de bêbado? De jeito nenhum. - Não tem mais café não meu amigo. Acabou. O homem fez de conta que nem ouviu a resposta do dono do bar e emendou em seguida um novo pedido: - Então o senhor me faz um misto quente com bastante queijo. O Murilo já foi perdendo a paciência de Jô e, pedindo desculpas, disse que a chapa já estava fria e que não dava para fazer o lanche não. Bem agora o homem vai embora e eu posso fechar as portas, pensou. Ledo engano, o velhinho não desistiu