Passo rápido pela Rua da Eternidade. Um sacrilégio. Deveria passar por esta rua, calmamente, sem pressa, sem compromissos, leve, solto, nada nos bolsos ou nas mãos. Essa rua começa em uma pequena praça em minha cidade e termina na Estrada das Lágrimas. Não é sugestivo? Depois da eternidade, chega-se as lágrimas ou pode-se ser o inverso: depois das lágrimas à eternidade. Quando menino eu avistava do quintal de minha casa, do alto do pé de sabugueiro, o que é hoje a “rua eterna”. Na época, era apenas um depósito de lixo da cidade e um pouco mais acima, avistava-se uma velha casa de fazenda abandonada, com muitas portas e janelas que todos diziam ser mal-assombrada. A garotada do bairro fazia apostas: quem teria a coragem de ir até lá na escuridão da noite? Todos se arrepiavam de medo e eu, só de pensar, passava noites insones. Para chegar até lá era preciso também, atravessar um pequeno matagal, que para os meus olhos de menino, era uma imensa floresta, repleta de bichos vivos e fantasm