Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2018
Fábio Vieira de Souza, um autonomista "Hoje o meu pai faria 91 anos... Bateu muita saudade e resolvi postar algumas fotos .... e relembrar momentos de sua vida...Ele nasceu em Bocaina, no estado de São Paulo, em 18 de novembro de 1927. Em 1940 mudou-se para São Caetano com sua família, estudou em escola pública e trabalhou desde muito cedo para colaborar com a família, primeiro na empresa Fidelidade e depois na Usina Colombina. Em 1945 formou-se contador na Escola de Comércio 30 de outubro. Em 1948, aos 21 anos, fez parte do Movimento Autonom ista de nossa cidade que, através de um plebiscito, desvinculou o subdistrito de São Caetano da cidade de Santo André, o qual passou a ser um município autônomo. Há poucos dias, houve a comemoração dos 70 anos da Autonomia... Infelizmente, não pude comparecer, mas, meu irmão, Adonis, representou a família e recebeu a homenagem em seu nome.. Na sua juventude, participava ativamente da vida cultural da cidade, inclusive do grupo de
O ADMIRÁVEL MUNDO NOVO Em 1932 o escritor Aldous Huxley publicou um livro polêmico, o Admirável Mundo Novo. Uma ficção que previa como seria o mundo em 632 DF. O DF seria depois de Ford, um novo Deus cultuado pela ciência e tecnologia. No mundo imaginado por Huxley a família estaria abolida e as pessoas seriam geradas em incubadoras. Os óvulos seriam divididos em tantas vezes que poderiam ser gerados milhares de gêmeos idênticos. Os indivíduos durante a incubação podiam se tornar Alfa, Beta, Gama e Delta, dependendo da quantidade de oxigênio injetada. Os indivíduos inferiores receberiam maior quantidade de álcool e teriam inteligência rudimentar, apenas suficiente para realizarem trabalhos repetitivos ou atuarem nas insalubres minas de carvão e outros serviços de alto risco.   Os livros seriam proibidos às “castas” inferiores, pois não seria apropriado que tivessem informação ou sensibilidade. O sexo ainda seria praticado, mas como algo mecânico sem nenhum tipo de afetividad
NÓS E OS RUSSOS O Garrincha, com o seu jeito simplório, respondeu ao técnico Vicente Feola da seleção brasileira de 1958 sobre as táticas que queria utilizar contra os times adversários: “Mas você já combinou com os russos?”. Essa frase tem servido para boas e bem humoradas respostas.   Ele se foi e sua frase ficou na história. Para ele os russos eram quase todos os estrangeiros, principalmente europeus, englobando suecos, suíços, ingleses etc. Quando criança em São Caetano do Sul tínhamos vizinhos russos. Eram simpáticos e me lembro bem da dona Amélia que frequentava nossa casa. O casal era espírita e minha mãe, às vezes, frequentava as sessões de orações na casa deles, mais para agradar a amiga, pois era católica convicta.   O marido, seu Dimitri, contava histórias sobre a Rússia, principalmente do Stalin e seu regime de terror.   Sobre o comunismo, outra vizinha, dona Maria, uma Checa, casada com um homem negro, também tinha suas narrativas de como fugiram da invasão soviét
Uma mãe bem diferente De Giselle Larizzatti Agazzi Escrever uma história com base na própria história foi um grande desafio para Giselle Agazzi. É uma história da história em que a dor está presente, mas escrever é um processo catártico, que alivia a alma e coloca compressas suaves nas feridas. A mãe da história da Giselle é uma mãe especial, diferente, que representa o lado triste da diversidade humana. Uma mãe que às vezes se esquece dos filhos, pois não consegue lidar com seus próprios fantasmas.   É a mãe que metaforicamente está na terceira margem do rio, tal como o personagem do conto de Guimarães Rosa, mas continua sendo mãe em seus momentos de lucidez ou normalidade. Em paralelo às agruras da relação com a mãe, a menina Clara, protagonista da história, sofre bullyng dos seus colegas por ter uma mãe fora dos padrões de normalidade social. Mas ao mesmo tempo Clara não é clara e talvez seja escura, pois a mãe é negra. Assim, ela precisa lidar com dois preconceitos ao
POEMAS PARA UMA CONTA DE MAIS Gosto de poesia, mas confesso que sou ignorante sobre o assunto. Gosto porque sinto que gosto, me emociono, me encanto, mas longe de mim teorizar sobre os escritos que vem do fundo da alma, que expressam às vezes o lado sombrio da existência.  Lembro-me do Rainer Maria Rilke em Cartas para um jovem poeta, presente de um velho amigo que me acreditava um poeta aprendiz. Confesso que depois de ler, fiquei tempos sem escrever, pois não sabia se o que escrevia era mesmo poesia. “Não faça poesia sobre acontecimentos, pois não é poesia...” Mas estou diante do livrinho de poesia da amiga Bete Cunha, Poemas para uma conta de mais, cujo nome sugere um poema cartesiano. Poema pode ser a soma de tudo e mais alguma coisa. O livro é bilíngue e algum leitor distraído pode pensar que se trata de uma autora nascida em algum lugar das Américas em que o castelhano se tornou dominante. Mas não, ela é daqui mesmo, nascida em São Caetano do Sul, de pai cearense e mãe de
CUIDADO COM AS VÍRGULAS...             Morava em minha rua, quase em frente a minha casa, um velhinho italiano chamado Antônio. Era uma pessoa adorável. Baixinho e roliço, usava um chapéu de feltro, calças largas e surradas botinas. Era uma figura ímpar e muito querida da garotada do bairro. Quando ele passava pela rua corríamos ao seu encontro e pedíamos sua benção. Sua diversão era fazer charadas e contar histórias para a garotada. Seu Antônio Piffer era um assíduo frequentador de minha casa e diariamente ele passava por lá para um cafezinho e um dedo de prosa. Sentava-se à nossa varanda e já ia perguntando: “Gosta mais do papai ou da mamãe?” Nós sempre respondíamos: “Gostamos igual".   "É mentira, dizia ele, eu sei que vocês gostam mais de um do que do outro", dizia com seu sotaque italiano. Outras vezes fazia umas pegadinhas tirando as vírgulas das frases para mudar o sentido. Matar o rei non é pecado. Está certo ou errado? Perguntava. Nós respondíamos: Es
ADÃO E EVA Era uma das primeiras histórias que se ouvia. Em casa tínhamos uma bíblia ilustrada e tão logo aprendíamos a ler, já queríamos saber mais detalhes sobree essa fantástica história.   Adão, criado do barro   com um sopro divino. Eva   ou a mãe de todos, foi criada com uma costela de Adão. Uma serpente teria induzido Eva a comer o fruto proibido, desobedecendo as ordens expressas do criador. Filho de mãe católica praticante e pai quase agnóstico, viví num ambiente sem muitas certezas com relação às crenças religiosas. Enquanto minha mãe obrigava os filhos a irem à missa toda semana, fazer o catecismo e a Primeira Comunhão, meu pai fazia ouvidos de mercador às queixas dela com relação à desobediência dos filhos no tocante à religião. As minhas irmãs seguiram os padrões da época,   mas eu e meus irmãos fizemos as obrigações religiosas aos trancos e barrancos. Fugíamos das aulas de catecismo para brincar na rua ou no próprio pátio da igreja. Me recordo que tempos depois
DESCOBRIMENTO DO BRASIL Quando a professora Maria Lúcia, no segundo ano primário, deu sua aula de história do Brasil, fiquei impressionado. Ela contou em detalhes quando as caravelas portuguesas partiram do Porto em direção à costa africana. Mas algo estranho aconteceu. Uma forte calmaria fez com que as naus fossem desviadas para oeste, bem longe do contorno do continente africano que era o caminho em direção às Índias. Depois de dias e mais dias, o comandante da expedição Pedro Alvares Cabral começou a observar pedaços de madeira no mar. Depois pássaros e finalmente, terra a vista. Primeiro pensaram se tratar de uma ilha que deram o nome de Vera Cruz, depois perceberam que era uma grande extensão de terra e deram o nome de Terra de Santa Cruz. E sempre que ela falava no navegador lusitano, Pedro Alvares Cabral, todos olhavam para   um colega que se chamava Nelson Cabral, como se ele tivesse alguma relação com o descobrimento. Muito esperto ele falou orgulhoso: “Foi meu av
QUEM NUNCA ENGOLIU UM SAPO? A expressão engolir um sapo significa simbolicamente que se trata de aceitar alguma coisa não digerível ou contra a vontade. Quem nunca engoliu um sapo no trabalho, na família, nas salas de aula ou nos grupos de relacionamento? Passamos a vida engolindo sapos e lagartos, mas que foram necessários para a sobrevivência ou para a manutenção da paz, mesmo que forçada. Na política isso é mais comum se engolir sapos do que fazer política no seu estrito senso. Resgatando um pouco da história, o velho Luiz Carlos Prestes, fundador do Partido Comunista no Brasil, teve que engolir um tremendo sapo ao concordar, por uma decisão partidária, a apoiar o Getúlio Vargas nas eleições de 1950. Justo o algoz que mandara para a câmara de gás a sua esposa grávida, Olga Benário.   Eu diria que não foi um sapo e mais apropriado seria dizer um porco espinho. Mas os políticos acabam esquecendo tudo. Quem acompanhou as eleições de 1979, há de se lembrar de que o Collor c
A TRISTE HISTÓRIA DE HAN ZICHENG Leio no jornal que um chinês de 85 anos escreveu em pedaços de papel que queria ser adotado por alguma família. Para isso colou-os no ponto de ônibus, no armazém e outros locais do bairro.    Han Zicheng não queria morrer sozinho, mas também não queria ir para um asilo. Ele não tinha mulher, filhos ou netos. Na China até pouco tempo era proibido ter mais de um filho. Isso passou a valer depois da chamada Revolução Cultural nos anos 1960. A medida foi tomada para reduzir a população do país que já estava com mais de um bilhão de habitantes. Como o governo sabia que não conseguiria fazer o país crescer para dar conta das necessidades de emprego e produção de alimentos, optou por reduzir na marra a quantidade de gente. Isso criou outro problema, pois para os chineses os filhos do sexo masculino são essenciais para cuidar dos pais na velhice. Quando os casais tinham uma filha, entravam em pânico, pois a cultura milenar lembrava que as filhas se c
QUE TAL ENTRAR EM UM LIVRO E VIVER A HISTÓRIA? Num sábado preguiçoso, vi o filme “Coração de tinta”, baseado no livro homônimo que conta a fantástica história de um leitor que tinha poderes mágicos, sendo capaz de fazer os personagens saírem dos livros e viverem entre os mortais ou os mortais entrarem nos livros ao ler em voz alta.   E foi assim que um malabarista saiu do livro e passou a viver perambulando pelas ruas com seu bichinho de estimação, lembrando sempre da mulher que ficou no livro e nunca mais encontrou. Ao mesmo tempo escapou do livro o perigoso bandido Capricórnio e seu bando que sequestrou a mulher do leitor. O pobre homem passa anos ao lado da filha procurando outro exemplar do livro para tentar localizar a mulher. Enquanto isso é perseguido pelo malabarista que quer que ele leia o livro para que possa retornar. Ele tem medo de ler o livro, pois não sabe o que pode acontecer. Que história maluca! Fui para a cama pensando na possibilidade de entrar na história
JOSÉ DE SOUZA MARTINS: O SOCIOLOGO DA SOCIABILIDADE DO HOMEM SIMPLES. A convite da poeta e agitadora cultural Dalila Veras, fui no último sábado para o Encontro com o eminente sociólogo José de Souza Martins. Neste evento ele lançou o seu novo livro de memórias “Moleque de Fábrica – Uma arqueologia da Memória Social”. Esse livro que ele mesmo define como memórias sem pretensões de uma pessoa sem grande relevância para o Brasil ou para o mundo. Muita modéstia o autor dizer isso, depois de uma brilhante carreira docente e mais de 30 livros publicados, que o coloca ao lado de Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso e Antônio Cândido como um dos maiores sociólogos brasileiros. Cheguei bem antes do horário e pudemos tomar um café juntos e conversarmos sobre trivialidades.   Fiz questão de lembrar-lhe  que em meados dos anos 1970 o encontrei numa palestra na Fundação Santo André. Ele estava munido de uma vitrola portátil e tocou um disco de música sertaneja, chamado “Boi de Ca
VELHAS CARTAS E POSTAIS Ao acaso encontrei uma pasta com algumas cartas bem antigas. E para comemorar o achado resolvi relê-las e comentá-las.   A primeira é de um amigo espanhol que não vejo há séculos. Escrevendo de Madrid sobre um amigo nosso que estava passando por lá em 1982 e que precisava de umas dicas sobre como sobreviver na cidade. Eles acabaram não se encontrando. Ele menciona que recebeu uma carta da Celia avisando sobre esse amigo, que era nada mais nada menos do que o Élcio Thenorio. A carta que ele recebeu foi postada na Áustria e aí ele não entendeu nada mesmo. Acontece que uma amiga nossa em viagem para a Áustria acabou postando a carta por lá. Outra carta, de outro velho amigo, Geraldo Magela, matemático e mineiro dos bons, nos escreveu deliciosas missivas durante sua estadia na Alemanha, na cidade de Stuttgart, contando particularidades sobre o povo alemão, que nos consideravam como índios de arco e flecha. Muitos lhe perguntavam como era viver nas selvas
O PRÉDIO CAIU EM CHAMAS João, Maria e uma criança moravam naquele prédio, esquina entre a Avenida Ipiranga e a Rio Branco. Se fosse na esquina da Avenida São João com a Ipiranga ele iria se sentir inspirado e cantar Sampa, principalmente o verso “Alguma coisa acontece com o meu coração...”. Mas o prédio onde a família de João morava não inspirava a lembrança de versos nem de poetas. Lá ninguém vê o por do sol, que já se escondeu envergonhado com tanto concreto e tanta miséria. Lá as pessoas passavam ao longe, com medo. Medo de que? São todos pobres e infelizes que encontraram um abrigo precário, com salas sendo transformadas em quartos e cozinhas, com poucos banheiros compartilhados por dezenas de pessoas. Era um prédio invadido, mas alguém espertamente se colocou como uma espécie de síndico improvisado que cobrava até quatrocentos reais por família, como se fosse um aluguel. Com tanto dinheiro arrecadado daria até para consertar o elevador e fazer sua manutenção para que Joã