O escritor Moacyr Pinto depois de escrever Contos de vista (histórias do Brasil que elegeu Lula), Hiena: minha revolta não se vende, Ditadura Nunca mais, entre outros, lançou seu primeiro romance ambientado num bairro operário, sendo os personagens também operários, operárias e donas de casa. A proposta do escritor em sua primeira incursão pela literatura de ficção, foi dar protagonismo a uma classe social, invariavelmente colocada como coadjuvante nas narrativas que ele considera como burguesas ou da pequena burguesia. Tecendo o amanhã se propõe a dar voz para aqueles que labutam no chão de fábrica com os seus medos, suas esperanças e seus conflitos sociais, econômicos, familiares e afetivos.
O falecido historiador Sérgio Buarque de Holanda manifestou numa entrevista que tinha a esperança de ver uma história escrita pelo povo e não, como até então, narrada pela visão de intelectuais da classe média ou da elite dominante. Tem sido assim ao longo da nossa história, quando os fatos políticos, sociais e econômicos são relatados sob a perspectiva da classe dominante e não dos dominados.
Quem conhece a história do Moacyr Pinto, percebe alguns elementos autobiográficos no romance, mas de forma bastante dissimulada, mostrando um personagem insatisfeito com a realidade em que vivia depois da sua ascensão de operário para técnico burocrata em grandes empresas. Moacyr teve uma trajetória muito comum até meados dos anos 1960, quando seus familiares se deslocam do interior de São Paulo, para o Grande ABC, palco de grandes transformações econômicas e sociais ocorridas no país com o advento da indústria automobilística.
Estabelecidos num bairro tipicamente operário de São Bernardo do Campo, o Baeta Neves, Moacyr, o filho mais jovem, consegue uma concorrida vaga como aluno do SENAI numa multinacional. Contratado como operário especializado no final do curso, suas inquietações ficam mais aguçadas e resolve procurar respostas no curso de Ciências Sociais. O curso não o satisfaz e mesmo já bem-posicionado como profissional de recursos humanos, abandona tudo e parte para o Nordeste brasileiro para conhecer mais profundamente a realidade do país, acompanhado da namorada, o que o torna muito parecido com o personagem João Paulo da ficção. Retorna à São Paulo e volta a atuar na sua área de trabalho, mas por pouco tempo. Consegue, juntamente com a mulher e um amigo, uma bolsa para cursar o mestrado na Universidade Federal do Ceará. Mesmo antes de concluir o mestrado, volta para São Paulo, onde se engaja no Partido dos Trabalhadores e inicia uma nova fase, participando ativamente das lutas políticas do partido.
Moacyr Pinto, depois do trágico desaparecimento de sua filha mais velha, até hoje não explicado, se aposentou das atividades de militância político-partidária e passou a se dedicar à literatura, publicando vários livros, todos ligados à sua luta política, tecendo, como no romance, o seu novo amanhã.
“Tecendo o amanhã” é um romance com muitos clichês de militância política, partidária e sindical, resultado da experiência do autor que viveu intensamente esse ambiente. Seus personagens não são narrados com a profundidade psicológica da moderna ficção, mas pela práxis política de cada um. As personagens femininas têm um papel relevante no enredo e assumem o papel libertador do machismo presente nas relações entre os casais, além de participarem ativamente do processo político e das lutas sindicais. O papel da igreja católica, influenciada pela Teologia da Libertação na comunidade, é um ponto catalisador das insatisfações dos trabalhadores no seu dia a dia.
O livro é de certa forma otimista e todos os personagens acabam encerrando suas atividades laborais na aposentadoria pelo limitado sistema público, encontrando como alternativa complementar, a atuação em cargos políticos, sindical ou pequenos negócios, tipicamente pequeno-burguês, como diria o autor.
Num dia desses visitava um sebo para passar o tempo, quando, surpreso, vi o livro Comunicação Visual e Expressão, do professor José de Arruda Penteado. Comprei o exemplar e pus-me a recordar os tempos de faculdade em que ele era professor e nosso mentor intelectual. Era uma figura ímpar, com seu vozeirão impostado e uma fina ironia. Rapidamente estreitamos contato e nas sextas-feiras saíamos em turma para tomar vinho e conversar. Era um dos poucos professores em que era possível criticar, sem medo, a ditadura militar. Penteado era um educador, profissão que abraçara com convicção e paixão. Seu ídolo e mestre foi o grande pedagogo Anísio Teixeira, que ele enaltecia com freqüência em nossos encontros semanais. Defendia um modelo de educação voltado para uma prática socialista e democrática, coisa rara naqueles tempos. Depois disso, soube que estava coordenando o curso de mestrado em Artes Visuais da Unesp e ficamos de fazer contato com o ilustre e inesquecível mestre. Mas o t...
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