Por curiosidade de antropólogo, fiz o meu exame do DNA de ancestralidade global para ver as informações sobre a origem dos meus antepassados. Sabia que meus trisavós paternos eram portugueses, mas no Brasil se misturaram com outras etnias. Pelo lado materno são brasileiros há bem mais de 200 anos com origem ibérica, mas também com várias miscigenações. Com a moderna tecnologia de exame do DNA, um processo bem simples em que cotonetes são esfregados por cinco minutos na parte interna das bochechas é possível identificar as etnias ancestrais mais distantes em suas trajetórias pelo mundo.
O resultado indicou que 79% da minha ascendência é europeia, sendo 38% ibérica (Espanha e Portugal), 18% da Europa Ocidental, possivelmente França e 18% da Itália, pois muitos ibéricos têm DNA da península itálica. Além disso, 3% do meu DNA vem da Sardenha, a grande ilha italiana que fica no mar Mediterrâneo, cujo povo permaneceu isolado do continente durante muito tempo. Para completar, 3% do meu DNA é basco, um povo de origem ainda desconhecida, mas de temperamento aguerrido.
Do restante, 6% do meu DNA é judeu, o que é previsível, pois entre os ibéricos é forte a presença dos judeus sefarditas na península desde idos tempos. Além disso, muitos cristãos novos vieram para o Brasil, fugindo da Inquisição. 8% do Oriente Médio, Magrebe, também por força da dominação moura na península ibérica ue durou séculos. Para completar, tenho 4% de DNA africano, por conta de um casamento de um trisavô com a filha de uma mulher africana com um português. E como não poderia deixar de ser, tenho meu lado índio com 3% do DNA, resultado do casamento de um tetravô com a filha de um português com uma índia tupi.
Na realidade poucas etnias são verdadeiramente isentas de miscigenações. Se Hitler tivesse acesso a essa tecnologia nos anos 1930, iria ficar decepcionado, pois estando os judeus presentes nas margens do Reno desde 1200, provavelmente ele encontraria muitos alemães considerados puros com alguma ascendência judaica, inclusive ele. Portugueses, espanhóis e italianos podem ser considerados como povos de grande diversidade étnica, pois muitos grupos humanos se estabeleceram onde hoje se localizam esses países, como celtas, iberos, godos, visigodos, fenícios, gregos, romanos etc. Depois os mouros ocuparam por séculos o sul da península ibérica e, também, itálica.
E assim caminha a humanidade, desde seu surgimento na África central e sua saída entre 75 e 60 mil anos, espalhando-se pela Europa, Oriente Médio e Ásia (daí para a América). Somos todos imigrantes, em grandes levas por consequência de guerras ou catástrofes climáticas ou em pequenos grupos em busca de melhores condições de vida.
Os exames de ancestralidade me fazem lembrar um episódio nos Estados Unidos no começo do século passado, quando o congresso aprovou uma lei que não considerava como brancos os indivíduos que tivessem, por mínima que seja, alguma ascendência indígena ou africana. A lei precisou ser revogada logo depois, pois descobriu-se que importantes figuras históricas do país, incluindo ex-presidentes, tinham alguma ascendência indígena, em razão de miscigenações que ocorreram no início da colonização.
De qualquer forma, folgo em saber que não vivo na Alemanha na época de Hitler ou no período da “Santa Inquisição”, pois meus 6% de etnia judaica poderiam me colocar em maus lençóis.
Num dia desses visitava um sebo para passar o tempo, quando, surpreso, vi o livro Comunicação Visual e Expressão, do professor José de Arruda Penteado. Comprei o exemplar e pus-me a recordar os tempos de faculdade em que ele era professor e nosso mentor intelectual. Era uma figura ímpar, com seu vozeirão impostado e uma fina ironia. Rapidamente estreitamos contato e nas sextas-feiras saíamos em turma para tomar vinho e conversar. Era um dos poucos professores em que era possível criticar, sem medo, a ditadura militar. Penteado era um educador, profissão que abraçara com convicção e paixão. Seu ídolo e mestre foi o grande pedagogo Anísio Teixeira, que ele enaltecia com freqüência em nossos encontros semanais. Defendia um modelo de educação voltado para uma prática socialista e democrática, coisa rara naqueles tempos. Depois disso, soube que estava coordenando o curso de mestrado em Artes Visuais da Unesp e ficamos de fazer contato com o ilustre e inesquecível mestre. Mas o t...
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