PARIS: UM LUGAR PARA SE DESPEDIR QUANDO O MUNDO ACABAR
Paris deve ser mesmo uma cidade
magica. Parece que o mundo todo um dia vai se encontrar em Paris. E se um dia
se souber com antecedência que o mundo vai se acabar por um choque de um
meteoro gigante contra a Terra, vai ser um congestionamento monstro no
Aeroporto de Orly, pois todos que puderem vão se despedir da vida terrena e
para a última taça de vinho, para uma última visita ao Museu do Louvre, ao
Palácio de Versalhes, a Torre Eiffel, ao Museu D’orsey ou a Igreja de Notre
Dame para os católicos mais fieis. Roma, Londres, Madrid, podem ser cidades interessantes,
mas nenhuma se assemelha a velha Lutécia pelo seu charme, pela poesia, pela
arte, enfim, pela sua magia. Mas para ser sincero penso que o filme Melancolia
retrata melhor uma possível hecatombe com um planeta se aproximando lentamente
da Terra. O planeta tem o nome de Melancolia, bem a propósito.
Mas como escreveu Betty Milan: “Paris
não acaba nunca”. Se visitá-la uma centena de vezes, sempre vai ficar um
lugarzinho que não foi visto e um motivo a mais para lá retornar.
O Museu do Louvre é uma das
coisas que não acaba nunca, pois é impossível ver todas as obras com alguma
atenção em uma semana, em um mês. O problema é que a cidade atrai tanta gente,
de tantos lugares do mundo, que tudo se transforma em um congestionamento de
gente atrapalhando a concentração. Versalhes, então é outro problema maior
ainda, pois o palácio é tão gigantesco que é preciso preparação de atleta para
fazer todo o circuito.
Numa visita a Paris passamos em
frente ao Hotel Saint-Michel, onde o escritor Jorge Amado e sua companheira
Zélia Gattai lá se hospedaram durante uns dois anos no final dos anos quarenta
quando precisou sair do Brasil por motivos políticos. O hotel mudou muito.
Reformado, com banheiros nos apartamentos, coisa que não havia naquele tempo,
pois os hóspedes precisavam utilizar um banheiro coletivo. Lá o casal brasileiro
improvisava uma cozinha, onde preparavam a tradicional feijoada para os amigos
brasileiros como Carlos Scliar, Mário Schemberg entre outros. Mas a fachada
continua a mesma que a Zélia descreveu em suas memórias. Já habituado ao local
e à cidade, o casal foi expulso do país por causa da Guerra Fria, pois sendo
Jorge Amado comunista de carteirinha, era uma ameaça para as relações da França
com os EUA. Por tudo isso se pode dizer que a política é o ridículo da vida.
Uma visita que impressiona são as
Catacumbas. Centenas de milhares de ossadas e crânios empilhados oferecendo um
espetáculo dantesco aos visitantes. Lá estão nas mesmas posições nobres,
plebeus, artistas, poetas, políticos igualados pelo mesmo final da vida. Os
crânios descarnados parecem sorrir lembrando que um dia seremos também mais um.
Um velho cemitério ficou exaurido depois de séculos de sepultamentos
sobrepostos. Segundo a história, o odor do chorume era tão forte que estragava
a comida e vinhos nas proximidades. Depois do último desmoronamento, as
autoridades decidiram levar todas as ossadas para uma velha e desativada mina
de carvão, onde foram depositadas, transformando-se em um ponto turístico no
século XX.
Os velhos cafés, tais como nos
anos vinte do século passado onde artistas da chamada geração perdida como
Fitzgerald, Hemingway e Cole Porter, frequentavam para conversar, tocar e
escrever tem o mesmo cheiro de fumaça, o mesmo aroma de bebidas alcoólicas e de
boemia pairando no ar. O som de jazz parece ainda estar presente entre o
burburinho das mesas com Cole Porter brincando ao piano.
E assim, a despedida da vida
humana da Terra poderá ser com muito vinho, jazz e poesia. Das calçadas dos
cafés os parisienses e visitantes poderão apreciar a queda da Torre Eiffel, do
Arco do Triunfo, do Louvre, da Catedral Notre Dame entre outros monumentos
ouvindo os acordes improvisados de um pianista solitário tocando “As time Goes
by” enquanto um jovem romântico dirá para seu par: “Não chore, ainda temos
Paris na eternidade”.
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