ENFIM, UM FIM DE SEMANA
Na atual fase da vida, meus fins
de semana em geral são mornos, sem
grandes emoções. Mas neste último saímos
da rotina. No sábado fomos para a Rua Augusta no lançamento do livro de contos
Primeiramente e levamos a amiga jornalista e escritora Sonia Nabarrete. Foi um
gostoso papo de São Bernardo até a metrópole. Lá encontramos vários amigos e
companheiros da antologia de contos. Entre os amigos e novos amigos,
encontramos a querida Elizabeth Pudles, também jornalista que estava lá prestigiando o
evento. Apesar do tempo e das nossas rugas, um rosto amigo é sempre o mesmo,
com a vitalidade da juventude ainda fresca no olhar que não vai desaparecer
enquanto a nossa memória conseguir manter o registro.
Lá estava também a querida Nádia
Novaes, uma guerreira dos velhos tempos, sempre sorridente, entusiasmada e
feliz, acreditando na amizade, na poesia e no futuro. O Paulo Lai Werneck,
arquiteto, escritor e artista da madeira, a Manu com suas duas filhas a
tiracolo, feliz com um sorriso que ouvia-se de longe (o sorriso pode ser ouvido
também...). O Jorge Nagao que conheci lá e que fotografou a família com inigualável
delicadeza. E outros tantos que não há espaço para citar.
No domingo tínhamos um convite
imperdível para um almoço na casa dos nossos antigos amigos Guacira e Milton
Eto. No cardápio estavam, também, Edson Silva e Drágica Mitrowich, sempre ótimas
companhias. Edson ou Zeca, escritor, sambista e compositor e a Drágica, que faz
a ponte entre a cultura alemã e sérvia com a brasileira, guiada pela gentileza
do Zeca.
O delicioso almoço preparado pela
Guacira, tinha salada com flores cultivadas pela Cintia, e peixe assado com
molho da erva dil. Guacira, nome
indígena e poético, que dá nome a uma velha canção (Adeus Guacira)
foi incorporado com orgulho pela Fuzae quando se casou.
Lá tivemos contato com o livro
delicadíssimo da Cintia Eto, filha do casal. Um “abuso” de sensibilidade. O
livro, particularmente inovador vai participar da mostra Nascente de arte da
Universidade de São Paulo, onde ela, uma arquiteta e artista plástica, faz o
curso de Letras. Enquanto folheava o
livro, cometi a indiscrição de ler um poema da Cintia, que aqui não transcrevo
por não estar autorizado, mas é de uma delicadeza indescritível. Aliás, registro que estranhei quando a Cintia
resolveu fazer o curso de letras depois de cursar arquitetura, seguindo o
caminho trilhado pelo pai, professor de língua e literatura portuguesa. Mas
isso tinha uma razão de ser. Ela precisava incorporar a poesia à sua linguagem
de artista plástica e nada como estudar os clássicos da língua para
incorporá-los à sua arte.
A boa conversa foi longa e bom
seria se não fosse para tão grandes amizades, tão curta a vida. Terminamos a
visita no final da noite com uma pizza e
um expresso para não dormir no caminho. Mas antes conversamos sobre política
(inevitável), mais literatura e, por sugestão da Cintia, sobre O Narrador de
Walter Benjamim, sobre o qual ela nos contou alguns detalhes pouco
conhecidos do livro e do autor. E termino essa crônica citando o autor: “... a
narrativa não é apenas informação, mas imerge essa substância na vida do
narrador para, em seguida, retirá-la dele próprio. Assim a narrativa revelará
sempre a marca do narrador, assim como a mão do artista é percebida”.
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