PARA QUE UM ESTADO TÃO GRANDE?
A história da
chapeuzinho vermelho ao perguntar para o lobo mau que estava deitado na cama da
sua avó, disfarçado: “Para que uma boca tão grande vovó?”. O resto da fábula
todos conhecem. Da mesma forma os
brasileiros perguntam ao nosso Leviatã (Estado brasileiro): Para que tanto
dinheiro se não recebemos nada em troca? O Estado brasileiro abocanha tudo que
for possível e até o impossível para sustentar sua imensa teia de privilégios,
mal gastos e incompetências. Numa contabilidade prática, boa parte dos
brasileiros trabalha até maio para pagar os impostos. Daí em diante tem o
direito de gastar o que sobrar para alimentação, habitação, segurança, educação,
saúde, investimento, etc. Segurança, Educação e Saúde deveriam, em tese, ser
obrigação do Estado, mas diante da precariedade desses serviços públicos, a
classe média é obrigada a colocar seus filhos em escolas particulares, pagar
planos de saúde e pagar seguros residenciais e para veículos, cada vez mais
caros para não sofrer a perda de patrimônio diante do caos que é a segurança
pública.
Outra fábula
com a presença do lobo mau está presente na vida árdua do brasileiro que faz
das tripas coração para sobreviver. Refiro-me ao Lobo que devora o cordeiro
porque ele turvara a água que ele bebera, mesmo estando rio abaixo. “Se não foi
você foi seu pai e você pagará por isso”. Ou seja, não adianta reclamar que o
governante de plantão não reajusta a tabela de imposto de renda de acordo com
os índices de inflação. Que o valor por dependente não paga as despesas com
alimentação, habitação, lazer etc. Que não recebe nada em troca etc. A alegação
é sempre que o governo não pode reajustar a tabela que está defasada em mais de
70% porque não há recursos para isso. Assim, se não foi você, foi seu pai, seu
avô ou bisavô e nós pagaremos por isso.
O Estado
mantém aposentadorias para funcionários públicos, que se retiram do
serviço com salários integrais, acrescidos de vantagens obtidas ao longo do
tempo de trabalho. Como um país pobre, repleto de problemas, com uma enorme
desigualdade regional pode se dar ao luxo de pagar salários privilegiados
durante quase 40 anos de vida na aposentadoria? Vive-se mais como aposentado do
que como trabalhador na ativa.
Alguém já
chegou a imaginar quanto custa o senado brasileiro e seus 140 diretores com
salários de altos executivos no setor privado? Além da remuneração dos
senadores, esses ainda dispõem de equipes de assessores de fazer inveja a qualquer
país rico europeu. Isso sem contar passagens semanais para seus estados de
origem, auxílio moradia, apartamentos funcionais, veículos etc. E tem mais, o
senado ainda dispõe de uma indústria gráfica com mais de 500 empregados, se não
for mais somente para imprimir livretos de divulgação dos senhores senadores. Na câmara quase a mesma ladainha se repete e
são 520 deputados com todos os privilégios, assessores etc.
Ainda a
pretexto de tornar a administração mais ágil, existem mais de uma centena de
empresas estatais, cujas finalidades ninguém conhece ou consegue explicar. A
EBC, empresa criada para controlar a televisão do estado, rádio e internet,
consome mais de 500 milhões por ano para ter apenas um pequeno traço na
audiência do público. Se o objetivo da mídia é atingir o público, pergunta-se:
Para que tanto gasto e tão pouco resultado?
As empresas
estatais, tanto as reais como as de ficção, se converteram em mecanismos para
gerar empregos para os privilegiados por indicações políticas. Assim, altos salários
e privilégios podem ser pagos sem concursos públicos ou aprovação por meio da
legislação vigente. Atividades que poderiam ser apenas constituir um
departamento numa repartição com um chefe e sua equipe, se transforma da noite
para o dia numa organização com diretoria, cartões corporativos, verbas de
representação, conselho administrativo, instalações etc.
Assim, ao
cidadão não resta alternativa, pois de nada resolverá dizer que a água que o
lobo ou o Leviatã (monstro marinho que Hobbes usa como metáfora do Estado),
bebe está rio acima, pois qualquer reclamação poderá servir de desculpa para
ser devorado, sempre com a desculpa de que no passado alguém usou mal os
recursos.
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