MAIORIA ABSOLUTA
Com cinquenta por cento mais um,
são tomadas decisões em nome da maioria que podem afetar a todos, incluindo
aqueles que votaram contra. Quem estabeleceu essa medida matemática que as
decisões da maioria simples são as melhores, as mais válidas, as mais racionais
e que representam a totalidade?
Assim, muitas decisões são
tomadas em nome de uma pretensa maioria que pode gerar sérios problemas para
todos, pois a maioria pode ter sido manipulada por engenhosos sistemas de
comunicação. Vence quem teve o melhor discurso, mas se o discurso foi
ideológico, no sentido em que a ideologia é uma forma de manipulação da
realidade, quando se oculta parte da realidade e mostra apenas um lado?
O exemplo do Reino Unido é
sintomático, pois os defensores do Brexit não contaram tudo para os eleitores,
mas apenas o que lhes interessavam. Não disseram aos eleitores ingleses que a
saída geraria um queda significativa no PIB, o risco da Escócia e Irlanda do
Norte saíram do Reino Unido, a saída das sedes de grandes instituições
bancárias de Londres, grande número de desempregados dentro e fora, pois
centenas de milhares de ingleses estão empregados em países europeus e
precisarão voltar para casa, evidentemente sem empregos. O discurso xenofóbico
e racista de que os estrangeiros estão roubando os empregos ingleses tem o
poder emocional de incitar o ódio, a paixão, mas nunca a razão.
Além do mais, trinta por cento
dos ingleses deixaram de votar, provavelmente por estarem desinteressados em
questões políticas e deixaram para os 70% o poder para decidir. É bem possível
que aqueles que perceberam o risco da decisão devem estar arrependidos por não
terem votado de acordo com seus interesses.
A maioria tem os seus riscos e
podem ser bombásticos. Se a unanimidade é burra como diria o dramaturgo Nelson
Rodrigues, que dirá uma maioria simples? Quem deu aos 51% o direito de decidir
pelos outros 49% impondo a todos uma decisão que pode estar absolutamente
errada e movida por paixões, que todos sabem nunca são racionais.
Aliás, bem disse Max Weber que a
maioria nunca está no poder. O poder é sempre das minorias que se revezam. São
as minorias que comandam os partidos ou movimentos de massa, que impõem as suas
vontades definindo qual é a verdade. Escolhem de que lado o povo deve ficar,
qual será o candidato em que o povo deve votar.
Por isso acredito que quem venceu
um pleito não tem o direito absoluto de se considerar o ungido pelo voto da
maioria simples e tomar as decisões contra a vontade dos demais. As
democracias, como disse Tocqueville, não podem prescindir dos direitos das
minorias, que devem ser ouvidas antes da tomada de decisões que impactem em
suas vidas.
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