O BAIRRO DA LIBERDADE e OUTRAS HISTÓRIAS
O bairro da Liberdade, por
estranho que possa parecer, não leva esse nome em razão de movimentos
libertários. Assim, não foi por causa da independência, da República ou da
Abolição da escravidão que o bairro ganhou esse nome A origem do bairro tem uma
razão que não lembra em nada seu nome. Tudo começou com uma forca, construída em
madeira de lei por ordem do governo imperial no início do século XIX. De largo da Forca, onde ainda hoje existe a capela
dos Enforcados, é que surgiu o nome Liberdade.
Nas frias manhãs paulistanas, o
povo se reunia para assistir os enforcamentos determinados por julgamentos nada
confiáveis. Por incrível que pareça, era um evento turístico na cidade assistir
as execuções. Vinha gente de todos os cantos do pequeno povoado paulistano para
compor a plateia do “espetáculo” como são mostrados nos filmes que retratam
tempos idos. Alguns até faziam piqueniques às margens do Tamanduateí, na época
ainda um rio.
Os enforcamentos ocorriam por
motivos torpes, como o mais famoso, o do soldado Francisco José das Chagas,
executado em 1821 por protestar contra o atraso de cinco anos nos pagamentos
dos soldos. Diz a história que por falta de corda, tentaram enforcá-lo com um
laço de couro que não suportou o peso do corpo e quebrou. Na segunda tentativa,
usando o mesmo tipo de material, o problema se repetiu. Depois disso o pobre
homem foi executado a pauladas. Para o povo, a quebra dos laços foi uma
mensagem divina contra a injustiça, fato que culminou na construção da capela
dos Enforcados. Nas crônicas daquele tempo, registra-se que após a tábua que
sustentava os pés dos condenados cair, o povo gritava: “Libertou-se”. É por
essa razão que o nome do bairro ficou Liberdade. Um nobre nome com uma origem
pouco nobre.
No cotidiano a maioria dos
enforcamentos tinha como vítimas os escravos que fugiam ou se recusavam a
trabalhar além das suas forças físicas. Os “proprietários” ajudavam a condenar
os escravos capturados para que servissem como exemplos para os demais e assim
evitar a revolta dos cativos.
No início do século XIX o bairro
já estava crescendo, ampliando sua área de ocupação e foi para lá que o
professor de química da Escola Paulista de Medicina, Cristóvão Buarque de Holanda
se mudou com sua esposa Heloisa, na Rua São Joaquim, número 6, onde em 1902,
nasceu o primogênito do casal: o futuro historiador Sérgio Buarque de Holanda,
que em 1943 se tornaria pai do compositor e escritor Francisco Buarque de
Hollanda.
Mas nesta época o bairro já começou
a ser ocupado por imigrantes japoneses. Em razão da topografia bastante
acidentada do local havia muitos porões nas casas, os quais eram alugados por
preços módicos para os pobres imigrantes que por lá desenvolviam as suas atividades
como artesãos e comerciantes.
Hoje a Rua São Joaquim termina na
Avenida Senador Vergueiro, pois com as reformas urbanas, ocorreram muitas
transformações no bairro. O trecho onde nasceu o historiador não existe mais.
. Hoje o bairro consagrou-se como um reduto da laboriosa
colônia japonesa, com lojas típicas, museus e com os arranha-céus resultado da
expansão da cidade para as periferias.
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