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VINTE E CINCO ANOS SEM TOM JOBIM

<É impossível não admirar o Tom Jobim, um músico brasileiro reconhecido internacionalmente, um defensor da nossa cultura e da natureza.  Melodias sofisticadas e ao mesmo tempo palatáveis ao gosto popular, como disse Gal Costa, era também um letrista inspirado, principalmente quando se tratava de temas ligados à natureza. Águas de Março é um primor, tanto de letra como de melodia.

Carioca, filho de um poeta gaúcho, neto de paulista, tinha também um pé no Ceará através de uma bisavó materna. Era, portanto, um brasileiro de quatro costados originário de pelo menos de quatro estados. Era um homem simples que morando nos EUA, pagava uns trocados a mais para poder comer arroz branco com feijão, a comida dos empregados. Gostava de um uísque, mas não desprezava uma boa cachaça, cerveja e chopes bem tirados.

Um ano antes de sua morte, fez um belo e memorável show no Parque do Ibirapuera com toda a sua banda e coro. Foi um dia bonito, ensolarado. Estava do jeito que ele gostava, cantar em meio a natureza ouvindo bem-te-vis e sabiás que circulavam por entre as árvores. Fomos com nossa filha, uma amiga, a Luci, seus filhos e mais algumas crianças, alunos de música de minha mulher. O amigo Zeca da Silva, mesmo sendo um admirador do músico, não quis ir, alegando outros compromissos. Liguei depois para ele e por estranha premonição, disse que ele havia perdido talvez a última oportunidade de ver o velho maestro ao vivo.  Pensei nisso porque o Tom já sugeria um cansaço de fim de vida, respirando com dificuldade. Tom nunca se cuidou. Bebia e fumava muito, passava noites sem dormir. Conta-se que chegou a passar a noite na mesa de um bar e só foi acordado pelos carros que começavam a apitar.

E foi em 1994 que ele partiu durante uma cirurgia para retirar um tumor da bexiga. Seu coração parou para sempre e o Tom voltou para o seu amado Brasil em um esquife, no compartimento de carga, local que ele nunca imaginou que um dia viajaria. Tom amava o seu país como ninguém. Curtia seu povo, suas matas, seus pássaros, seus bichos, todos eles presentes em suas letras.

Com seus parceiros de canções sempre repetia: “Você é um craque”, mesmo quando a letra não estava totalmente do seu agrado. Sugeria mudanças, sempre com muita delicadeza para não deixar o letrista chateado. Compor para ele era muita inspiração e, também, muita transpiração. Esse negócio de que compunha nas mesas dos bares, é lenda. Às vezes, passava noites burilando uma canção até chegar ao ponto em que ele considerava pronta.

Era muito respeitado pelos grandes nomes da música internacional. Foi Frank Sinatra quem ligou para ele para convidá-lo para gravar um disco. Quase não acreditou quando do outro lado da linha um americano disse: “Tom Jobim, aqui é o Frank Sinatra”. Contam que ele respondeu: “Aqui é o Juscelino Kubistchek”.  Foi somente na segunda ligação que ele compreendeu que o convite era mesmo sério.

A sua simplicidade era comovente. Depois de se tornar um nome internacional, tinha privilégios como levar os filhos para a escola com motorista particular, mas confessou, numa entrevista para o Pasquim que se sentia constrangido, por ser rico e morar num país tão miserável. Sentia-se impotente diante de tudo e ficava triste por não poder fazer nada.

Enfim, o Tom Jobim era isso e mais alguma coisa. Adorava uma boa feijoada, que também gostava de fazer quando tinha tempo. Sua sobremesa preferida era abacate amassado com licor de cacau, que dizia ser uma iguaria. O resto é “o pau é pedra, é o fim do caminho, é um resto de toco, é um pouco sozinho. É peroba no campo, é o nó da madeira. Caingá candeia, é o matita-pereira...” Ele está fazendo falta nesses tempos sombrios em que defender a natureza, o meio ambiente é subversão.

 

 

 

 

 

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