Carioca, filho de um poeta
gaúcho, neto de paulista, tinha também um pé no Ceará através de uma bisavó
materna. Era, portanto, um brasileiro de quatro costados originário de pelo menos
de quatro estados. Era um homem simples que morando nos EUA, pagava uns
trocados a mais para poder comer arroz branco com feijão, a comida dos
empregados. Gostava de um uísque, mas não desprezava uma boa cachaça, cerveja e
chopes bem tirados.
Um ano antes de sua morte, fez um
belo e memorável show no Parque do Ibirapuera com toda a sua banda e coro. Foi
um dia bonito, ensolarado. Estava do jeito que ele gostava, cantar em meio a
natureza ouvindo bem-te-vis e sabiás que circulavam por entre as árvores. Fomos
com nossa filha, uma amiga, a Luci, seus filhos e mais algumas crianças, alunos
de música de minha mulher. O amigo Zeca da Silva, mesmo sendo um admirador do
músico, não quis ir, alegando outros compromissos. Liguei depois para ele e por
estranha premonição, disse que ele havia perdido talvez a última oportunidade
de ver o velho maestro ao vivo. Pensei
nisso porque o Tom já sugeria um cansaço de fim de vida, respirando com
dificuldade. Tom nunca se cuidou. Bebia e fumava muito, passava noites sem
dormir. Conta-se que chegou a passar a noite na mesa de um bar e só foi
acordado pelos carros que começavam a apitar.
E foi em 1994 que ele partiu
durante uma cirurgia para retirar um tumor da bexiga. Seu coração parou para
sempre e o Tom voltou para o seu amado Brasil em um esquife, no compartimento
de carga, local que ele nunca imaginou que um dia viajaria. Tom amava o seu
país como ninguém. Curtia seu povo, suas matas, seus pássaros, seus bichos,
todos eles presentes em suas letras.
Com seus parceiros de canções
sempre repetia: “Você é um craque”, mesmo quando a letra não estava totalmente do
seu agrado. Sugeria mudanças, sempre com muita delicadeza para não deixar o
letrista chateado. Compor para ele era muita inspiração e, também, muita
transpiração. Esse negócio de que compunha nas mesas dos bares, é lenda. Às
vezes, passava noites burilando uma canção até chegar ao ponto em que ele
considerava pronta.
Era muito respeitado pelos
grandes nomes da música internacional. Foi Frank Sinatra quem ligou para ele
para convidá-lo para gravar um disco. Quase não acreditou quando do outro lado
da linha um americano disse: “Tom Jobim, aqui é o Frank Sinatra”. Contam que
ele respondeu: “Aqui é o Juscelino Kubistchek”. Foi somente na segunda ligação que ele
compreendeu que o convite era mesmo sério.
A sua simplicidade era comovente.
Depois de se tornar um nome internacional, tinha privilégios como levar os
filhos para a escola com motorista particular, mas confessou, numa entrevista
para o Pasquim que se sentia constrangido, por ser rico e morar num país tão
miserável. Sentia-se impotente diante de tudo e ficava triste por não poder
fazer nada.
Enfim, o Tom Jobim era isso e
mais alguma coisa. Adorava uma boa feijoada, que também gostava de fazer quando
tinha tempo. Sua sobremesa preferida era abacate amassado com licor de cacau,
que dizia ser uma iguaria. O resto é “o pau é pedra, é o fim do caminho, é um resto
de toco, é um pouco sozinho. É peroba no campo, é o nó da madeira. Caingá
candeia, é o matita-pereira...” Ele está fazendo falta nesses tempos sombrios
em que defender a natureza, o meio ambiente é subversão.
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