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UM EMPRESÁRIO INOVADOR

 O economista e empresário Francisco Garcia Bastos nasceu no Estado do Rio de Janeiro, na cidade de Itaperuna, norte fluminense em 16 de agosto de 1906, tendo como irmão gêmeo e sócio, Fábio Garcia Bastos. Tanto os Garcia com os Bastos, são troncos antigos na região e suas origens remontam aos fundadores da cidade. Seus antepassados se dedicavam à agricultura e pecuária, atividades que serviram de base para os empreendimentos dos dois irmãos, Fábio e Francisco

Formados em Economia na capital da república, iniciam o negócio de comércio e importação de produtos voltados para a agricultura e pecuária, ao qual se juntam outros parentes como Laercio Garcia Nogueira, Altair Garcia Nogueira entre outros. A empresa Fábio Bastos & Cia. É fundada na cidade do Rio de Janeiro em 1929 representando a empresa sueca Alfa Laval, com atividades voltadas para a área de laticínios com produtos como desnatadeiras, ordenhadeiras mecânicas, pasteurizadores entre outros.  Posteriormente a empresa aproveitando a grande demanda por tratores em razão da expansão agrícola do país, inicia a importação de tratores da marca Zadrugar, fabricados na antiga Iugoslávia, um país do bloco comunista. Era um trator robusto e de grande porte e até hoje existem alguns ainda em operação pelo Brasil adentro. Essa representação perdurou até meados de 1965 quando a empresa passou a vender os tratores Valmet, de fabricação nacional de uma empresa finlandesa.

Com a expansão dos negócios Francisco foi direcionado no início dos anos 1940 para a recém fundada filial de São Paulo, capital, na Rua Florêncio de Abreu, 828, que se tornaria a principal unidade da empresa. Em plena Segunda Guerra Mundial, o início das atividades foi difícil, mas o espírito empreendedor de Francisco Garcia Bastos não mediu esforços para ampliar as atividades da empresa, inclusive substituindo alguns produtos importados pela fabricação própria. A empresa, agora chamada Cia. Fábio Bastos, Comércio e Indústria continuou crescendo abrindo filiais em Belo Horizonte e Porto Alegre além de vários escritórios de venda no Sul de Minas e interior de São Paulo.

Nos anos 1940 São Paulo não era a megalópole que conhecemos hoje, mas uma cidade ainda quase provinciana. Com o crescimento da organização, houve a necessidade de alugar um armazém para estocagem dos produtos comercializados. O melhor local foi um conjunto de armazéns as margens da Estrada de Ferro Santos Jundiai, no Ipiranga, distrito paulistano. Como os armazéns davam fundos para a ferrovia, era o melhor local para embarque e desembarque de produtos de grande porte. As sim, na Avenida Presidente Wilson, 1819 e 1820 funcionavam armazéns, oficina e escritórios da unidade. Os contatos entre o escritório da Florêncio de Abreu e os armazéns no Ipiranga eram feitos através da Estrada de Ferro, mas muitas vezes Francisco se deslocava para o Armazém de bicicleta, pois a distância entre a estação do Ipiranga e o Armazém envolvia mais de um quilômetro.

Na Oficina da Presidente Wilson, a empresa oferecia os serviços de assistência técnica para os produtos vendidos e outros ligados à sua atividade. Lá eram consertados tratores e máquinas agrícolas e muito frequentemente, eram fabricadas peças de reposição em razão das dificuldades para importá-los por estarem fora de linha e pelo longo prazo para o recebimento das peças. Eram também fabricados aspersores e engates rápidos para equipamentos de irrigação sob encomenda ou para estoque de reposição.

Francisco Garcia Bastos, carioca de nascimento, torna-se um paulistano por adoção, participando ativamente das atividades sociais e comerciais da capital paulista. Foi presidente do Rotary Clube Paulista e também do Sindicato dos Economistas do Estado, isto entre 1942 e 1946. Foi também do Conselho Administrativo da Fundação Getúlio Vargas, Diretor Regional do SENAC entre outras atividades sociais.

Como empreendedor estava sempre na busca de novos negócios para a empresa para evitar a dependência estratégica de poucos produtos, pois como a importação era um carro chefe, o risco de novos concorrentes ou a transferência de fabricantes internacionais para o Brasil era um grande risco para os negócios. A importação de tratores foi um dos negócios que a empresa viu chegar as suas portas a abertura do mercado nesse segmento. Com a Ford entrando no ramo de tratores e a Alfa-Laval se instalando no Brasil, a fragilidade da empresa ficou patente.

Francisco tinha uma visão moderna de gestão e uma de suas medidas mais audaciosas, foi a distribuição de lucros para os empregados, sendo parte em dinheiro e outra em ações da empresa. A ideia era envolver os colaboradores no processo de crescimento da organização, criando um vínculo mais forte e permanente. Ainda não tínhamos uma cultura preparada para assimilar essa forma de gestão e muitos empregados venderam apressadamente os papéis que receberam, o que foi uma grande decepção para o empresário.

Um exemplo de suas crenças no trabalho como formação do caráter das pessoas, foi quando um dos seus filhos, já na faculdade, é designado para estagiar na oficina da empresa. Com ordens expressas do pai, o gerente do setor o aloca em várias atividades de fábrica sem poupá-lo. Era dessa forma que o pai queria que seus filhos fossem criados. Sem mordomias ou privilégios. Depois da Oficina, Paulo de Mendonça Bastos faz um job rotation por outras atividades da empresa.  Tempos depois vi notícias de que se tornou o vice-presidente da Heublen do Brasil, indústria multinacional de bebidas.

Infelizmente o Brasil estava em rápida mudança, principalmente depois de 1964 com o fim da dicotomia em relação ao crescimento econômico autônomo e a internacionalização. Com o governo militar a abertura do país à entrada de empresas multinacionais foi amplamente facilitada, retirando com isso o principal quinhão da Cia. Fábio Bastos. Assim, no início dos anos 1970 a empresa séria crise sendo obrigada a pedir concordata.

Uma das fraquezas estratégicas da organização era o seu caráter familiar, com vários sócios com parentesco, como Altair Garcia Nogueira e Antônio Garcia da Silveira, que eram primos e diretores, respectivamente, da Vendas e Administrativo. A filial de Belo Horizonte também era dirigida por um primo e, também, sócio. Como as empresas familiares criam dificuldades em função dos relacionamentos de nível primário e secundário (organizações), muitas decisões estratégicas são difíceis de serem tomadas. Além disso, a empresa sendo analisada pelas Cinco Forças Competitivas de Michael Porter, pode-se afirmar que ela vivia em constante ameaça de seus fornecedores, principalmente os internacionais; a ameaça de novos entrantes no mercado; a ameaça de produtos substitutos e a rivalidade no setor de atuação.

Com isso, um promissor negócio deixa de existirem razão de mudanças ambientais no plano econômico, político e social, obrigando os seus sócios a fecham as portas da empresa em todas as filiais e escritórios de venda espalhados pelo país. Encerrada as atividades da organização, Francisco passa a se dedicar às atividades agropecuárias em suas propriedades no interior paulista, tomando às suas origens familiares. Em 1973, talvez sentido pela perda da empresa pela qual tanto se dedicou, em 30 de março de 1973, Francisco Garcia Bastos falece na cidade de Itu, interior de São Paulo, aos 67 anos de idade.

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