Quase todas as famílias
brasileiras têm seus apelidos e suas histórias. Alguns apelidos são execrados
pelas vítimas que fuzilam de ódio todo aquele que comete a indelicadeza de lembrá-los.
Alguns acabam colando nas pessoas de tal forma que chegam a virar nome
artístico, quando os portadores enveredam pelos meandros das artes. Muitos
apelidos ou hipocorísticos vêm da redução dos nomes como Quim, de Joaquim, Ric
de Ricardo, Mané de Manuel, Zé de José, Jô de João, Bia de Beatriz, Bel de
Izabel, Nando de Fernando, Tião de Sebastião etc. Outros hipocorísticos, são
mutilação dos nomes como é o caso de Zeca, de José; Quinzinho, de Joaquim; Mariquinha,
de Maria; Janjão, de João; Chico, de Francisco.
Em casa, tínhamos também alguns
apelidos. Minha irmã mais velha, cujo nome de batismo é Neusa, foi logo
apelidada como Neusita pelo meu avô, usando um sufixo diminutivo. De Neusita, virou Nesita. Até aí tudo bem, mas
quando a Inezita Barroso se projetou com a famosa canção Lampião de Gás,
começou a confusão. Quando ela passava o pessoal gritava: “Cadê o lampião?”. O
ódio foi tamanho que mesmo entre nós, o apelido foi censurado ou esquecido.
Meu irmão João, ganhou logo
depois de nascer na Fazenda São Vicente do Pau d’Alho, o apelido de Tuza, que
foi uma corruptela de tatu, depois que uma das primas o comparou a um tatuzinho
quando nasceu. O apelido pegou fundo e quando se aventurou pela escultura em madeira
como hobby para relaxar do estresse dos computadores, assinava com o apelido.
Um caso engraçado é o de uma
senhora chamada Irani, cujo apelido é o estranho “Cacetinho faz pau”, que
segundo seu irmão, o sociólogo e escritor Moacir Pinto, ela ganhou no interior
por causa de um mascate chamado Cacetinho, que frequentava a fazenda e repetia
a expressão constantemente. Como a menina imitava o mascate, ganhou a longa
alcunha e sofreu com a gozação.
Menos sorte teve um primo chamado
Carlos Roberto, um auditor da Receita Federal, que recebeu a alcunha de Chôio,
cuja origem nem imagino, pois seus pais já viajaram para a eternidade e
provavelmente poderiam me socorrer. Um outro primo chamado Benjamim, depois do
seu nome percorrer Benja, Benjo, Bejo e finalmente chegou ao Beijo, que
carregou por toda a vida. Sua irmã Alzira, ficou como Lunga, que suspeito que
tenha origem em uma planta medicinal que usou quando criança ao engolir uma
moeda. E por falar em calunga, tem o meu
querido amigo o músico Carlinhos Kalunga, que nem ele mesmo sabe de onde veio o
apelido Kalunga, que passou a ser seu nome artístico, substituindo o Gonçalves.
Calunga na língua banto, significa tudo de bom.
Minha sogra Maria e seu irmão
Ricardo, dois branquelos, são respectivamente Nega e Nego. Segundo consta no
memorial da família, quando crianças, um dos dois chamou o outro de Nego ou
Nega e a brincadeira pegou. Tia Nega, Tio Nego, Vó Nega... é como são
conhecidos na família. Alguns sobrinhos nem sabem seus nomes de batismo.
No interior os apelidos, às vezes,
chegam a ser mais importantes do que os nomes. Um inspetor do Banco do Brasil
em Piedade, foi procurar um agricultor de nome Antônio dos Santos e constatou
que nem a mãe sabia o nome de registro do filho. Depois de pensar algum tempo a
senhora respondeu: “Ah! É o Toto do Titico, filho meu. Aqui gente não chama
pela assinatura”.
Em espanhol os sobrenomes são
chamados de apelidos e razão não falta para esse vocábulo, pois a maioria dos
nomes de família se originam de apelidos por algum feito, profissão ou local de
nascimento.
Mas os apelidos não são apenas
para os humanos. Quando presenteamos um casal de amigos Ângela e Edélcio
Thenório de Piedade com uma cadela pastor alemão de fino pedigree, eles a
batizaram como Fugalha O nome era resultado do erro de outro amigo um pouco
disléxico ao confundir fugalha com fagulha. Tempos depois, soubemos que a
cadela passou a se chamar gaia. Mas gaia não era o nome grego do planeta Terra,
longe disso. Como o povo de Piedade achou muito difícil pronunciar fugalha, a
bichinha passou para fugaia e terminou com o apelido de gaia.
Encerrando o papo furado, conto a
história de uma vaca holandesa importada, cujo nome de batismo era “Ingridsen
Lander”. Como os empregados não conseguiam gravar o nome, o fazendeiro fez uma
placa e a pendurou no pescoço da vaca. Tempos depois perguntando sobre a vaca,
o peão não sabia qual era. Depois de boa explicação, ele acabou se lembrando:
“Ah! O senhor está falando da tabuleta”.
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