O Biotônico fez a fortuna de
Cândido Fontoura Silveira, um jovem farmacêutico de Bragança Paulista, que em
1910, criou a bebida de grande sucesso comercial. Como ele era amigo do escritor Monteiro
Lobato, o convidou para ser editor do Almanaque Fontoura que era distribuído
aos milhões, juntamente com o produto. Lembro-me que o almanaque era disputado
a tapas em casa, pois todos queriam ler primeiro, apesar da história do Jeca
Tatu ser sempre a mesma.
Lá em casa o remédio milagroso
estava sempre presente e guardado a sete chaves e o tomávamos diariamente ao
lado do insuportável Emulsão de Scot ou óleo de fígado de bacalhau. Um era para
abrir oi apetite e o outro como suplemento de cálcio. O tônico parecia tão
saboroso que, às escondidas, tomava a segunda dose diária longe dos olhares da
mama. Mal sabia que por conter álcool
poderia gerar dependência química, razão pela qual, recentemente o álcool saiu
de sua composição por determinação legal.
Aliás, é bom que se registre que
nos tempos da “Lei seca” nos EUA, o tônico era exportado em grande escala para
esse país, sendo utilizado como um suave aperitivo, já que se apresentava como
um inocente tônico fortificante que não atentava contra os “valores puritanos”
da sociedade norte-americana.
Ao iniciar um novo emprego na
empresa Anakol, fabricante do famoso creme dental Kolynos, na Rua Caetano
Pinto, fui surpreendido ao saber que o Laboratório Fontoura, na época vendido
para a norte-americano Whitehall Laboratories, funcionava no mesmo prédio, pois
ambas pertenciam ao mesmo grupo nos EUA.
No primeiro dia de trabalho, pude então saborear duas doses do tônico
servido aos funcionários para estimular o apetite, já que a boia não era das
mais convidativas.
Por essas e outras razões, o
Biotônico nunca faltava em casa e não por causa das habilidades culinárias da esposa,
mas como mera recordação da infância. Um amigo frequentador de nossa casa foi
uma vez surpreendido com o tônico como aperitivo, pois aleguei que não tinha
nenhuma outra bebida em casa. Ele tomou um cálice e gostou, sem saber que se
tratava do famoso Biotônico Fontoura. Esse amigo, o Oscar de Vitto, nunca soube
a verdade, pois na época fiquei com receio de comprometer, entre os amigos, a
sua fama de conhecedor e apreciador de bons vinhos.
Há alguns anos, tive uma aluna
descendente do criador do famoso tônico. Pelo que pude aferir, os tempos áureos
já se foram e os descendentes já não gozam da mesma fortuna. O pai dela era na
época um pequeno empresário na área de logística, sem o glamour que o nome teve
até os anos 1960.
História parecida, é a da
Coca-Cola, que no início tinha a mesma finalidade e seu inventor adicionava uma
pequena fração de cocaína, que na época ainda não era proibida. A diferença foi
que o criador da bebida mais famosa do mundo, vendeu os direitos por uma
ninharia e morreu pobre, enquanto o seu comprador nadou em dinheiro enquanto
viveu.
Eis um pequeno aperitivo da
fantástica história de um jovem farmacêutico do interior que criou, a partir de
uma bebida vendida como remédio, uma grande fortuna. Com o sucesso, o
Laboratório se diversificou, produzindo outros produtos farmacêuticos, como
antibióticos, antes de ser vendido para o grupo norte-americano. E assim, um
produto genuinamente nacional, está nas mãos do Tio Sam, que continua faturando
com os royalties da nossa criativa invenção.
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