Era sete de setembro de 1822, e o ´príncipe regente retornava de uma viagem a Santos e voltava por terra, subindo a Serra do Mar. Uma viagem difícil, pois estavam montados em mulas e burros, animais mais resistentes em caminhos precários como era na época, mas desconfortáveis. O trajeto foi possivelmente a atual estrada velha de Santos. No planalto, a comitiva do príncipe chegou ao que é hoje São Bernardo do Campo, pela Caminho do Mar chegando ao bairro Rudge Ramos até São Caetano do Sul, contornando o Ribeirão dos Meninos. Segue o grupo em direção ao atual bairro do Ipiranga, onde fizeram uma parada de descanso e para os animais beberem água no pequeno riacho que passava ao lado do atual Museu da Universidade de São Paulo.
O grupo desmonta, retira os arreios dos animais e, como era comum, para os cavaleiros fazerem as suas necessidades. Dom Pedro teve um desarranjo intestinal por conta de uma peixada na baixada Santista que não lhe caiu bem. Enquanto descansavam, chega um mensageiro da corte com uma carta endereçada ao príncipe. Lida a carta, conversa com os oficiais mais próximos e seu ajudante de ordens, Francisco Gomes da Silva, o popular Chalaça. As notícias não eram muito boas e seria preciso tomar uma decisão drástica naquele momento. Levanta-se e avisa a todos os presentes que não obedeceria às cortes portuguesas e que a partir daquele momento o Brasil poderia se considerar um país em território livre. Como era do seu estilo, deve ter proferido alguns palavrões bem ao gosto da época. A frase “independência ou morte” foi cunhada tempos depois para a criação do mito de origem da pátria.
Um mensageiro vai a frente para comunicar a decisão à autoridade de São Paulo, entre elas, o Coronel João de Castro Canto e Melo, pai da Domitila, futura amante do Imperador. Algumas horas depois o grupo chega a Pauliceia, onde foi recebido numa das grandes casas do vilarejo. E depois no pequeno teatro da vila, onde teve comemoração. Na mesma noite, Don Pedro conhece então a bela senhora Domitila com quem teve uma memorável noite de amor. Na época, Domitila já estava separada do seu marido, o Alferes Felipe Coelho Pinto de Mendonça, que fugiu para Minas Gerais depois de uma agressão à mulher por ciúmes, pois tudo indica que ela era bastante cortejada.
A viagem até o Rio de Janeiro levou uma semana, mas a corte já havia sido avisada da decisão do príncipe regente. Alea Jacta Est, como diria Júlio Cesar e a guerra de independência começou, pois houve resistência de forças portuguesas sediadas no Brasil. O maior palco de lutas foi na Provincia da Bahia. Em razão da superioridade das forças portuguesas na região, D. Pedro contrata oficiais mercenários franceses, como Labatut e Lecor, que haviam lutado ao lado de Napoleão e também ingleses como Cochrane, Grenfel, Hayden entre outros.
Consolidada militarmente, a independência precisava do reconhecimento internacional e para isso, a Imperatriz Leopoldina escreveu para vários países, incluindo a Áustria, onde reinava o seu pai. No final, Portugal reconhece a independência mediante o pagamento de uma indenização de 2 milhões de Libras Esterlinas, que foram emprestadas pela Inglaterra, o que colabora para o endividamento do país, por muitos anos.
O Brasil sai das amarras coloniais, depois da nossa vizinha Argentina, mas ao contrário dos demais países da América Latina, não como república, mas como uma monarquia hereditária com um Bragança. O regime monárquico escravocrata foi fundamental para a manutenção da unidade territorial, num acordo político entre o império as elites regionais. José Bonifácio era por princípio contrário à escravidão e nem mesmo D. Pedro compactuava com o sistema, mas por uma questão de sobrevivência política, foi mantida ainda por mais 67 anos. Como o sistema monárquico e a escravidão estavam ligados a um mesmo cordão umbilical, isso explica por que um ano e meio depois, proclamamos a república. Sem a monarquia escravista, o país estaria dividido em três ou quatro repúblicas.
Depois de 200 anos, um presidente eleito defende abertamente a volta da ditadura militar, flerta com regimes autoritários de extrema direita e prevendo uma possível derrota nas urnas, deprecia o sistema eleitoral que o elegeu presidente e como deputado por vária vezes. É um militar da baixa oficialidade, mas é apoiado pela caserna onde muitos ainda não se conformaram com a restauração democrática. Os 200 anos poderiam indicar maturidade da nação e do sistema democrático, mas até a entrega do poder, caso perca a reeleição, não dormiremos em paz.
Num dia desses visitava um sebo para passar o tempo, quando, surpreso, vi o livro Comunicação Visual e Expressão, do professor José de Arruda Penteado. Comprei o exemplar e pus-me a recordar os tempos de faculdade em que ele era professor e nosso mentor intelectual. Era uma figura ímpar, com seu vozeirão impostado e uma fina ironia. Rapidamente estreitamos contato e nas sextas-feiras saíamos em turma para tomar vinho e conversar. Era um dos poucos professores em que era possível criticar, sem medo, a ditadura militar. Penteado era um educador, profissão que abraçara com convicção e paixão. Seu ídolo e mestre foi o grande pedagogo Anísio Teixeira, que ele enaltecia com freqüência em nossos encontros semanais. Defendia um modelo de educação voltado para uma prática socialista e democrática, coisa rara naqueles tempos. Depois disso, soube que estava coordenando o curso de mestrado em Artes Visuais da Unesp e ficamos de fazer contato com o ilustre e inesquecível mestre. Mas o t...
Comentários
Postar um comentário