OS DEVANEIOS DE JACOB
Jacob tinha pouco mais de um metro e
meio. Teve paralisia infantil e ficou com uma perna mais curta do que a outra.
Andava com dificuldade, mancando. O corpo adaptou-se ao defeito na perna e ele
ficou com uma das nádegas mais alta do que a outra. Ele andava com o pé esticado, quase na ponta,
para compensar a diferença de tamanho entre as pernas. A natureza não lhe foi
generosa. Tinha um nariz enorme e ainda usava dentadura com pouco mais de
trinta anos. Teve até um proposta de
casamento, mas a moça era muito velha, segundo ele que preferia uma mais
novinha. Ainda por cima era o moço exigente. Mas ele era uma pessoa boa e
honesta e não se importava quando caçoavam dele. Sabia-se feio e era conformado
com a vida. Morava com a mãe e uma irmã numa casa que comprara com o fruto de
um bilhete premiado. Contava que foi uma grande alegria em sua vida. Além de
comprar a casa, conseguiu ajudar as suas irmãs.
Gostava
de freqüentar prostíbulos e contava-me aos detalhes as suas aventuras quando
sobrava alguns trocados no final do mês, coisa difícil, pois ganhava pouco e
ainda custeava os estudos. O seu fetiche era tirar as calcinhas das garotas e
dizia que fazia isso bem lentamente para curtir cada centímetro que ia desnudando.
Apesar de tudo era um otimista e considerava a possibilidade de se casar um dia
com uma garota jovem e virgem.
Não
é que o sonho do Jacob acabou se tornando realidade. Viajando para Minas Gerais
a convite de um amigo, conheceu Raquel, de 17 anos, a filha mais nova de uma
ninhada de sete. A família da moça era paupérrima e viviam do pouco que dava um
pequeno sítio com terras de pouca fertilidade. Digamos que beleza ela não tinha
nenhuma, não era a Raquel, serrana bela, cantada por Camões, mas era jovem e a
juventude acabou neutralizando os poucos dotes da serrana. Jacob não perdeu
tempo e no outro final de semana viajou para Minas com a disposição de acertar
o casamento. Inicialmente seu Labão
ofereceu a filha Lia, mais velha e ainda solteira, mas diante da
insistência do pretendente, acabou cedendo. Nas condições em que vivia, socada
no meio do mato, a possibilidade de morar na cidade foi um grande achado para Raquel.
Uma sorte grande! foi o comentário das comadres da vizinhança, ainda mais com
um moço estudado.
Sem
mais delongas acertaram o casório para dentro de um mês. Enquanto isso Jacob
pintou a casa e comprou os móveis para receber a donzela. Raquel chegou tímida
na casa da sogra que a recebeu muito bem, pois era também uma pessoa simples,
que veio do interior para morar na capital. Jacob estava radiante, pois tinha,
enfim, realizado o seu sonho, casando-se com uma garota muito jovem e virgem,
condição para ele sine qua non. Quando os colegas brincavam sobre como ele
tirava as calcinhas da esposa, ele ficava sério e pedia respeito com a senhora
sua esposa.
Jacob era rápido no gatilho e sem demora a menina ficou grávida, antes mesmo de
completar dezoito anos, mas a fortuna não estava do lado do casal. Um tumor
apareceu no crânio de Raquel no início da gravidez e foi se ampliando. Quando
deu a luz a criança, o tumor já havia tomado praticamente toda a caixa
craniana. Pensava-se que era um tumor cancerígeno, mas descobriu-se que era um
tumor benigno na hipófise. O grande problema é que durante a gravidez em razão
das mudanças hormonais o tumor cresce muito rápido. Ela perdeu, inicialmente a
visão lateral e também os controles motores, ficando praticamente inválida. No
final da vida já não se levantava da cama nem para as necessidades
fisiológicas. Assim, aos dezoito anos completos, Raquel terminava sua história
de vida, deixando uma filha para o marido criar.
Passado
o período de luto mais intenso, Jacob foi visitar a família do seu Labão, pai
de Raquel e não é que ele se acertou com uma irmã dela. Era a mais velha, mas
ainda moça e a sua feiura não era tão exagerada como chegou a pensar quando conheceu
a Raquel. Três meses depois, alegando que precisava de alguém para cuidar da
filha órfã, ele desposou a cunhada Lia sem festa e sem casamento religioso.
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