Um relojoeiro ajusta o tempo/ nos relógios antigos/ com suas pequenas ferramentas./ E se pudesse consertar o tempo gasto, lavado, desbotado, rasgado, desperdiçado? (Roseana Murray) Descobri que na rua onde eu morava com meus pais, em São Caetano do Sul, ainda existe um velho relojoeiro chamado Toni, cujo nome de batismo é Sebastião. Não sei como o apelido chegou a Toni, pois nem mesmo ele sabe. O Toni já está perto dos oitenta e ainda por cima carrega no abdômen um cateter para as sessões de hemodiálise. Lembro-me dele quando adolescente, na época em que se mudou para o bairro, pois era ele quem consertava o relógio cuco lá de casa, sempre que as crianças o desajustavam puxando suas cordas. Visitando minha filha que agora mora na casa em que passei a infância, encontrei o Toni, calvo, de cabelos embranquecidos pelo tempo, mas ainda ativo em sua antiga profissão, que segundo ele vem desde o seu bisavô que veio da Espanha. Sua casa, onde funciona sua oficina, é um quase um museu do rel
Esperança, um estranho nome para uma filha de imigrantes japoneses que aportaram na velha Mooca no começo do século passado, um bairro que até os anos 1940 era um típico reduto operário da Paulicéia. Quando menina ela foi estudar num antigo externato na Rua dos Trilhos, ainda no tempo em que havia trilhos na rua. A escola pertencia a três irmãs solteiras que vieram de Campinas. Lá foi alfabetizada e concluiu o primário. Como era muito estudiosa e aplicada se destacou entre as outras crianças e depois de formada ajudava as professoras com os novos alunos. Com a morte prematura dos pais, foi morar com as antigas professoras e ajudava em tudo, vendendo materiais escolares e dando aulas básicas de inglês que aprendeu com uma professora particular e outras tarefas. Mas Esperança ia além, pois como o bairro era carente de serviços de saúde, era ela quem socorria a população aplicando injeções até altas horas da noite. As professoras foram envelhecendo, vieram mais escolas públicas, o ba