Ana Marice Ladeia
Depois da agradável leitura do livro de contos “Do amor e do amar”, fica a sensação de ter mergulhado na intimidade do cotidiano de diversas mulheres. Mulheres que amaram, que foram amadas e, também mal-amadas, mas sempre sob um olhar feminino. Como ela mesmo afirma na introdução, são histórias reais que ela ouviu e recontou sempre com imaginação, delicadeza e sem faltar a poesia, pois sem ela o amor não vibra, não toca as nossas almas.
Pode-se dizer que é um livro escrito por uma médica, que escreve para se reencontrar consigo mesma, mas é também um resgate da mulher sertaneja e, ao mesmo tempo urbana, num ambiente ainda dominado pelas relações patriarcais em que ao homem tudo é permitido e à mulher sempre convém cuidar do lar e dos filhos.
A autora escreve ou reescreve as histórias que ouviu, lapidando-as e como diria Walter Benjamim: “... imerge essa substância na vida do narrador para, em seguida, retirá-la dele próprio”. A narrativa revelará sempre a marca do narrador, da mesma forma como é revelada a mão do artista na cerâmica. Por outro lado, as narradoras que ela ouviu não estão isentas de também terem imprimido suas marcas nos seus relatos, talvez não contando tudo ou suprimindo aquilo que as machucaram, que as agrediram.
A autora escreve seus contos (ou recontos) resgatando ao mesmo tempo suas raízes culturais, pois sendo originária de uma antiga família do interior, deve ter ouvido e presenciado muitas histórias. Histórias que ela reconta incorporando tipos humanos e elementos da cultura local, mas ao mesmo tempo é a narrativa de uma mulher cosmopolita, inserida num contexto urbano. Percebe-se um viés regional, mas é ao mesmo tempo uma escrita de caráter universal, pois o sofrimento dessas mulheres em nada é diferente das europeias, das asiáticas ou de qualquer lugar do mundo.
Uma das narradoras que ela ouviu poderia ser ela mesma? É possível, pois é comum contarmos para nós mesmos as versões totais ou parciais de nossas próprias histórias de vida. Ao escrevê-las, usando o nosso idioma, nem sempre é possível expressamos a totalidade das nossas emoções.
Num dia desses visitava um sebo para passar o tempo, quando, surpreso, vi o livro Comunicação Visual e Expressão, do professor José de Arruda Penteado. Comprei o exemplar e pus-me a recordar os tempos de faculdade em que ele era professor e nosso mentor intelectual. Era uma figura ímpar, com seu vozeirão impostado e uma fina ironia. Rapidamente estreitamos contato e nas sextas-feiras saíamos em turma para tomar vinho e conversar. Era um dos poucos professores em que era possível criticar, sem medo, a ditadura militar. Penteado era um educador, profissão que abraçara com convicção e paixão. Seu ídolo e mestre foi o grande pedagogo Anísio Teixeira, que ele enaltecia com freqüência em nossos encontros semanais. Defendia um modelo de educação voltado para uma prática socialista e democrática, coisa rara naqueles tempos. Depois disso, soube que estava coordenando o curso de mestrado em Artes Visuais da Unesp e ficamos de fazer contato com o ilustre e inesquecível mestre. Mas o t...
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