O filme Ainda estou aqui ajuda a reabrir outros casos obscuros que ocorreram durante a ditadura militar. Anos depois do Rubens Paiva, tivemos um caso com grande repercussão no Brasil e no exterior que talvez venha a merecer um filme.
Vlademir Herzog foi um jornalista de origem judaica, cujos pais emigraram para o Brasil para fugirem do nazismo. Ele era diretor de jornalismo na Televisão Cultura, controlada pelo governo do estado. Na época o governador do estado era o banqueiro liberal Paulo Egydio Martins, indicado por Geisel. Paulo Egydio era amigo do empresário, dono da Metal Leve, José Mindlin, o então Secretário da Cultura do Estado, responsável pela nomeação de Herzog.
Da mesma forma que Rubens Paiva, Herzog foi intimado a comparecer ao DOI COD, a polícia política do regime militar. Mas Herzog, submetido a torturas, faleceu nas dependências do Exército, na época comandado pelo General Ednardo D´Ávila Melo, um extremista de direita.
Naquele momento vivíamos um momento de distensão política comandada pelo presidente, General Ernesto Geisel e, como era público e notório que Herzog havia comparecido ao II Exército, foi divulgado que ele havia se enforcado durante o interrogatório. A foto publicada foi bizarra e ficou evidente que fora montada para tirar a responsabilidade dos responsáveis pelo interrogatório e tortura.
A diferença entre os dois casos, é que a esposa do jornalista, Clarice Herzog, recebeu o corpo com marcas de tortura o que não aconteceu com Eunice Paiva. Pela lei judaica, os suicidas são sepultados em local separado, mas o Rabino Henri Sobel, se negou a seguir essa tradição, pois estava convicto de que fora um assassinato e não um suicídio.
O clima estava muito tenso pela repercussão do caso, inclusive em nível internacional pelo fato de um jornalista judeu ser assassinado num país governado por um general filho de alemães. O Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns convocou uma missa ecumênica na catedral da Sé, com a presença de vários religiosos, inclusive o Rabino Henri Sobel. Uma complexa operação comandada pelo Exército e polícia foi montada para evitar que as pessoas comparecessem à missa, mas, mesmo assim, jornalistas, intelectuais, políticos e populares lotaram a igreja e ocuparam o pátio externo.
O General Geisel veio imediatamente para São Paulo para reduzir a tensão se encontrando com o governador, seu aliado, e personalidades da comunidade judaicas, políticos e militares para tentar acalmar a situação.
Porém, não demorou muito tempo, foi a vez do operário e sindicalista Manoel Fiel Filho, também foi assassinado condições semelhantes. O fato deu força para o presidente Geisel demitir o comandante do II Exército e nomear um militar de sua confiança, restabelecendo a tranquilidade no estado. Sabia-se que havia um movimento de extrema direita que tentava evitar que o Geisel concluísse a abertura política.
A publicitária Clarice Herzog, como Eunice Paiva, teve de criar seus filhos sem o pai e a família Herzog que fugiu do nazismo em busca da liberdade, tive de sepultar o filho assassinado por um regime ditatorial. A mulher e os filhos do Herzog tiveram o direito ao velório, mesmo sem que as crianças conseguissem entender o que estava acontecendo.
Somente anos depois a viúva de Herzog conseguiu na justiça a responsabilização e condenação do estado pela morte do marido em circunstâncias nebulosas, graças a coragem de um jovem promotor publico que entendeu que o Estado é responsável pela vida das pessoas que estão sob sua custódia, mas não era ainda o momento de entrar no mérito da questão.
Ainda estou aqui!
Num dia desses visitava um sebo para passar o tempo, quando, surpreso, vi o livro Comunicação Visual e Expressão, do professor José de Arruda Penteado. Comprei o exemplar e pus-me a recordar os tempos de faculdade em que ele era professor e nosso mentor intelectual. Era uma figura ímpar, com seu vozeirão impostado e uma fina ironia. Rapidamente estreitamos contato e nas sextas-feiras saíamos em turma para tomar vinho e conversar. Era um dos poucos professores em que era possível criticar, sem medo, a ditadura militar. Penteado era um educador, profissão que abraçara com convicção e paixão. Seu ídolo e mestre foi o grande pedagogo Anísio Teixeira, que ele enaltecia com freqüência em nossos encontros semanais. Defendia um modelo de educação voltado para uma prática socialista e democrática, coisa rara naqueles tempos. Depois disso, soube que estava coordenando o curso de mestrado em Artes Visuais da Unesp e ficamos de fazer contato com o ilustre e inesquecível mestre. Mas o t...
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