O curta metragem Ilha das Flores, que muita gente deve ter assistido nas aulas sobre meio ambiente, é uma fina ironia sobre um visitante extraterrestre (não explícito) e suas observações sobre os seres humanos, sua economia, seus hábitos de consumo, desigualdade social e outras mazelas. Para começar o ser humano é analisado pelo olhar crítico de um possível cientista extraterreno como um mamífero que se diferencia dos demais por ter o polegar opositor e um encéfalo mais desenvolvido, que obviamente se tornou a espécie dominante no planeta.
O curta revela sobre nós em apenas quinze minutos, muito mais do que as enciclopédias, as aulas de sociologia, economia, história etc. O filme é cirúrgico e fugiu bastante da primeira proposta que seria sobre a questão ambiental, focando em um lugar chamado de Ilha das Flores, que de flores não tem nada, mas apenas criação de porcos alimentados por restos de alimentos coletados em centros de distribuição. Na mesma ilha, seres humanos disputam depois dos suínos, os alimentos que sobram. O filme emociona pela crueza com que mostra os problemas sociais do nosso país, que sem dúvida alguma estão muito mais graves do que na época em que foi feito nos anos 1990.
O físico astronômico Carl Sagan que se tornou bastante conhecido pelos livros publicados e por um programa de televisão onde explanava de forma muito didática sobre o nosso universo era um cético quanto a existência de seres vivos inteligentes pelo universo afora. Por outro lado, Sagan não descartava a probabilidade de tal ocorrência. O que ele colocava em dúvida e com argumentos bastante convincentes, eram as paranoias sobre visitantes pilotando discos voadores em vários recantos da Terra. Ele prova que se por acaso existisse vida inteligente em nossa galáxia, estaria tão distante que seria praticamente impossível tais viagens. E ainda afirmava que talvez a vida, nas condições em que ocorreu na Terra, pode ser tão rara no universo que deveríamos tratar os mais minúsculos seres vivos com o maior respeito. Essa faz lembrar o líder pacifista indiano Mahatma Ghandi, que ao ver uma formiga subindo no seu pé, a tirava com toda delicadeza, colocando-a em outro caminho, dizendo: Deixe-a viver.
Sagan relata em seu livro mais popular, “O mundo assombrado pelos demônios”, que as visitas de Ets somente surgiram entre nós depois de uma transmissão pelo rádio pelo ator Orson Welles da Guerra dos Mundos em 1938, ficção sobre a invasão da Terra por marcianos. A representação parecia tão real que causou pânico nos EUA, que precisou ter um desmentido oficial. Sagan demonstra que só depois disso, é que começaram a surgir histórias de discos voadores, abduções de terráqueos e outras paranoias. Até então, eram comuns os relatos de eventos sobrenaturais, milagres repentinos etc.
Mas, considerando uma hipótese improvável que essas visitas fossem verossímeis, o que pensariam nossos “irmãos” da Via Láctea sobre a forma como ocupamos e exploramos o ainda belo planeta azul? Provavelmente chegariam à conclusão de que somos os seres mais irracionais do universo, que exploram a Terra para transformar florestas em lenha para alimentar fornos de siderúrgicas. Que produzimos uma infinidade de coisas descartáveis e as jogamos nos rios e mares. Que produzimos milhões de veículos que gastam uma quantidade absurda de energia apenas para transportar um indivíduo e poluir o ar. É melhor parar por aqui porque a lista das insanidades humanas é bem maior do que pensa nossa vã filosofia.
Num dia desses visitava um sebo para passar o tempo, quando, surpreso, vi o livro Comunicação Visual e Expressão, do professor José de Arruda Penteado. Comprei o exemplar e pus-me a recordar os tempos de faculdade em que ele era professor e nosso mentor intelectual. Era uma figura ímpar, com seu vozeirão impostado e uma fina ironia. Rapidamente estreitamos contato e nas sextas-feiras saíamos em turma para tomar vinho e conversar. Era um dos poucos professores em que era possível criticar, sem medo, a ditadura militar. Penteado era um educador, profissão que abraçara com convicção e paixão. Seu ídolo e mestre foi o grande pedagogo Anísio Teixeira, que ele enaltecia com freqüência em nossos encontros semanais. Defendia um modelo de educação voltado para uma prática socialista e democrática, coisa rara naqueles tempos. Depois disso, soube que estava coordenando o curso de mestrado em Artes Visuais da Unesp e ficamos de fazer contato com o ilustre e inesquecível mestre. Mas o t...
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