Hoje completa 58 anos do Golpe Militar de 1964 e ainda se discute se foi golpe ou foi um “movimento”. Palavras... Na Ciência Política golpe é quando ocorre a derrubada pela força de um governante constitucional, ou seja, foi eleito por voto direto ou indireto de acordo com as regras estabelecidas na carta magna de um país. Golpe é um termo considerado pesado e os militares não gostavam e ainda não gostam e preferiam Revolução e hoje Movimento.
A bem da verdade o golpe foi o resultado de um complô entre políticos conservadores, empresários, parte da igreja católica e militares. Mas depois de assumirem o poder, os militares chegaram à conclusão que eles governariam melhor o país do que os civis e lá se foram vinte anos com o país sob o domínio dos coturnos. Era uma ditadura envergonhada que fazia eleições para “inglês ver”. Escolhiam os presidentes nos quartéis e depois mandavam os congressistas votarem neles. A diferença das outras ditaduras é que não havia continuísmo. A cada quatro anos escolhiam um novo general. Por outro lado, era uma ditadura igual as outras, pois censurava a imprensa, músicas, teatro, livros e cinema. Cassava o mandato dos políticos que discordavam, prendiam, torturavam e até matavam artistas, líderes sindicais, jornalistas, professores e intelectuais, que faziam oposição ao governo.
Lembro-me muito bem dos acontecimentos de 1964. O presidente João Goulart, assumiu o governo para substituir Jânio Quadros que renunciou. Na época o vice-presidente era eleito separadamente e não numa chapa como é hoje. No dia do Golpe, meu pai estava preocupado com os acontecimentos políticos e como era um menino curioso já me interessava por política, fiz a ele várias perguntas que não conseguiu me responder. Foi então que ele me pegou pelo braço e fomos conversar com um amigo político que morava num bairro próximo. Seu Manoel, um vereador que oscilava entre uma postura conservadora e progressista. Foi uma longa conversa que fiquei ouvindo calado, pois criança não podia entrar em conversa dos adultos. Ele também não sabia o que iria acontecer, mas tinha algumas pistas. Jango não voltaria mais para Brasília, pois ainda em solo brasileiro o cargo de presidente foi considerado vago, abrindo as portas para um general assumir o governo. Pensava-se que seria por pouco tempo, apenas o suficiente para tirar os “comunistas” do poder e em seguida seriam convocadas novas eleições. As eleições nunca vieram e a democracia brasileira viveu uma longa noite em trevas.
Antes do Golpe, ouvia várias conversas em casa, nos ônibus, no armazém ou na padaria e uma delas me lembro muito bem. Um senhor bem-falante dizia que se ocorresse uma revolução, " o Jango não ficaria no poder, pois era um latifundiário, não um socialista, mas um burguês. Ele seria o primeiro a espirrar, assumindo o comando do país um comitê revolucionário". Em geral o Jango era querido pelo povão como um todo, pois seu discurso populista, ia ao encontro das necessidades dos mais pobres. As chamadas Reformas de Base assustavam muita gente. Meus parentes fazendeiros do interior estavam preocupados, pois os lavradores já falavam em reforma agrária, em divisão dos latifúndios, coisa e tal.
O termo mais utilizado na época e durante muito tempo era a Revolução Redentora, que havia salvo o país do comunismo. Meu pai mesmo apoiando o Jango, não era comunista e tinha horror de ouvir falar nisso. Ele votou no Jango para vice-presidente, mas não no Jânio porque o detestava e o considerava falso e mentiroso. Ele tinha uma visão bem negativa do comunismo, pois nosso vizinho russo contava para ele as atrocidades dos comunas quando tomaram o poder sob o governo do Stalin. Ele e sua família conseguiram fugir caminhando durante dias até a fronteira passando fome e frio.
Após quase vinte anos os militares entregaram o poder aos civis, mas cuidadosamente, para evitar retaliações. Antes fizeram uma anistia ampla, geral e irrestrita, para que todos fossem perdoados. Com uma hiperinflação e uma dívida externa impagável, deixaram a batata quente com os civis e o Brasil entrou em moratória.
Hoje temos um presidente eleito pela maioria da população, que defende explicitamente a ditadura militar e as medidas de exceção, enquanto um governador em seu discurso para a renúncia do cargo para se candidatar a presidente, lembrou da ditadura militar que obrigou seu pai a se exilar na França com a familia, quando ele era um menino de 7 anos.
Num dia desses visitava um sebo para passar o tempo, quando, surpreso, vi o livro Comunicação Visual e Expressão, do professor José de Arruda Penteado. Comprei o exemplar e pus-me a recordar os tempos de faculdade em que ele era professor e nosso mentor intelectual. Era uma figura ímpar, com seu vozeirão impostado e uma fina ironia. Rapidamente estreitamos contato e nas sextas-feiras saíamos em turma para tomar vinho e conversar. Era um dos poucos professores em que era possível criticar, sem medo, a ditadura militar. Penteado era um educador, profissão que abraçara com convicção e paixão. Seu ídolo e mestre foi o grande pedagogo Anísio Teixeira, que ele enaltecia com freqüência em nossos encontros semanais. Defendia um modelo de educação voltado para uma prática socialista e democrática, coisa rara naqueles tempos. Depois disso, soube que estava coordenando o curso de mestrado em Artes Visuais da Unesp e ficamos de fazer contato com o ilustre e inesquecível mestre. Mas o t...
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