Nessa época proliferavam os grileiros, assim chamados
por forjarem escrituras falsas de propriedades de terras. Eles guardavam as escrituras em gavetas com
grilos para que fossem ligeiramente devoradas pelos insetos e assim, dar a
impressão de se tratavam de velhos documentos. Depois disso, reivindicavam as propriedades
apoiados nas leis, que sempre estavam dos seus lados.
O trabalho de Arsênio era
demarcar essas propriedades e orientar eventuais ocupantes a saírem da terra,
pois havia ordem judicial para a desocupação. Feito isso, providenciava o
cercamento e colocava placa indicando a quem pertenciam. Lunardelli, explorava
essas terras ou então vendia-as a fazendeiros interessados. Com isso o italiano
amealhou grande fortuna. Essas histórias eram contadas nas longas tardes
ensolaradas quando eu ia visitá-lo nas minhas férias escolares.
Li uma referência ao Jeremias
Lunardelli num livro de memória da escritora paulistana Zélia Gattai, “Anarquistas
graças a Deus”. Ela conta que ele frequentava a oficina do seu pai, também
italiano, na Alameda Santos em São Paulo. Ela menciona que um dos empregados da
oficina, veio da Itália junto com o Lunardelli, mas ele o ignorava por ser
apenas um empregado.
Com o dinheiro economizado como
homem de confiança de Lunardelli, Arsênio comprou uma de suas glebas no
município de Lavínia, uma área de 130 alqueiras de mata fechada. Com alguns
peões, abriu uma picada na propriedade e por lá acampou, retirando madeira da
mata e transportando até a serraria no povoado onde hoje se chama Lavínia, nome
dado em homenagem a mulher do Franco de Mello, um grande fazendeiro local.
Construída a casa de madeira, ele iniciou a exploração da propriedade, criando
gado e plantando café, algodão, cana de açúcar, amendoim e milho.
Foi propriedade dele a primeira
sede da prefeitura de Araçatuba, uma casa ao lado da estação, que ele vendeu
para o município. Nesta cidade, que em 1933 se casou com Dona Alzira Ladeia
Lobo, mudando-se posteriormente para a fazenda com a mulher e filhos. Na época
foi nomeado inspetor de quarteirão, título conferido a cidadãos respeitados na
comunidade pelas posses e nível de conhecimento. Os inspetores tinham
autoridade policial na ausência estabelecimentos policiais em regiões mais
afastadas. Era uma forma do estado garantir a ordem, onde não havia a presença
de autoridades. Um episódio burlesco ocorreu em 1969, quando o homem foi à
lua, apareceu um estelionatário vendendo terrenos no satélite para alguns ingenuos colonos.
Quando soube, com a autoridade conferida a um inspetor de quarteirão, pegou a
espingarda e colocou o malandro para correr.
Nos anos 1940, converteu-se a
seita Testemunhas de Jeová, tornando-se um a membro bastante ativo. A
partir daí passou a se guiar pelos princípios estabelecidos na Bíblia Sagrada.
Quando o visitava sempre dedicava algum tempo para lerpara ele algum trecho da Bíblia
de sua preferência. Gostava de contar histórias dos antigos habitantes da
região, incluindo aí os índios que encontrou durante a abertura da estrada de
ferro, como também dos grandes fazendeiros como os Moura Andrade, fundador da cidade
de Andradina.
Dona Alzira faleceu muito jovem
deixando-o viúvo. Com setenta anos, as filhas casadas, contraiu novas núpcias
com Dona Izabel Quinquinello, filha de um casal de portugueses que morava na
própria fazenda.
Arsênio foi um dos muitos
pioneiros e desbravadores esquecidos dos sertões paulistas que derrubaram matas
para o plantio e criação de gado criando riquezas na região. Infelizmente, a
história nem sempre faz justiça a todos os grandes heróis que fizeram esse
país.
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