A HISTÓRIA DE VIDA DE
CLORY FAGUNDES MARQUES, CARINHOSAMENTE CHAMADA DE MAMÃE CLORY
Edson Zeca da Silva ficou
surpreso ao ser convidado por uma instituição alemã, através de uma velha
amiga, para fazer a biografia de Clory Fagundes de Marques, mais conhecida por
Mamãe Clory, a fundadora da Associação Cristã verdade e Luz que ampara criança
e idosos em São Bernardo do Campo. Até então não sabia exatamente quem era a
Mamãe Clory, sua história, seu trabalho em prol dos necessitados. Como não é de
recusar desafios, aceitou a empreitada filantrópica com a condição de que não
haveria interferências no seu trabalho. Contaria a história de vida de Dona
Clory de acordo com os depoimentos da biografada e relatos de pessoas da
família e amigos. Graduado em Ciências
Sociais e apesar de não ter exercido nenhuma atividade específica no campo das
ciências humanas, conservou algumas características de sua formação e trabalhou
procurando situar a vida da biografada no contexto histórico e social.
No
primeiro contato com Mamãe Clory, uma personagem carismática, ficou bastante impressionado,
conforme relatou. Descreveu-me a Mamãe Clory como uma pessoa iluminada,
desvinculada de valores materiais e de vaidades pessoais. Ela havia dedicado
toda a sua vida para ajudar as pessoas carentes, sem preocupações quanto ao
retorno pelas suas boas ações. Pelo prestígio junto à comunidade, mais de uma
vez foi assediada para entrar na política, mas sempre recusou, pois seus
objetivos eram maiores do ponto de vista humanitário e espiritual.
A
história de vida de Mamãe Clory começa em Alegrete, Rio Grande do Sul, onde
nasceu numa família de estancieiros descendentes de açorianos que para o Brasil
vieram no século XVIII. Seu pai um homem influente e de espírito pioneiro aceitou
o desafio de colonizar o oeste de Mato Grosso e com pouco mais de três anos,
Clory estava em terras mato-grossenses. Com outros pioneiros gaúchos, Athaliba
Fagundes foi para Cachoeira do Apa, na divisa com o Paraguai. Como a prole do
Coronel Athaliba Fagundes era bastante numerosa, ainda muito nova, Clory já ajudava
a mãe no cuidado com os irmãos menores.
Casou-se
jovem, contra a vontade de sua mãe, que a queria como religiosa e com oito de
dias de casada ganhou o primeiro filho, uma criança que foi abandonada em sua
porta. Na sua visão de mundo, havia recebido uma missão para cuidar daquela
menina e mesmo com a resistência inicial do marido, a adotou e registrou como
filha. Clory era parecida com seu pai, que nunca deixou de acolher pessoas necessitadas
em sua porta. Em sua fazenda os filhos biológicos conviveram com vários
agregados que procuravam o Coronel Athaliba em busca de ajuda. E foi dessa
forma, sempre acolhendo o próximo, que Dona Clory ou Mamãe Clory, teve ao longo
de sua vida mais de mil filhos que foram cuidados como se tivessem saído do seu
ventre, sempre com muito amor, dedicação e proteção.
Mas
Clory era também uma empreendedora, característica possivelmente herdada do
pai, e estava sempre disposta a juntar as tralhas e partir em busca de novos
desafios. Do Estado de Mato Grosso, foi para Andradina, no interior de São
Paulo, onde trabalhou como costureira, cozinheira, doceira, dona de restaurante
e depois proprietária de um hotel, aproveitando as oportunidades surgidas
naquela cidade com a construção de uma barragem no Rio Paraná. Mas a pujante
cidade da noroeste paulista ainda tinha carências. Seus filhos não podiam progredir,
pois não havia ensino superior para que pudessem alcançar novos horizontes. Não teve dúvidas, vendeu tudo que tinha e
arribou para outras naturezas, vindo parar em São Bernardo do Campo, no início
dos anos 60. Clory tinha visão de futuro e percebeu logo que a indústria
automobilística estava trazendo prosperidade para a região. Depois de comprada uma casa no bairro da
Paulicéia, trouxe consigo seus 87 filhos, uma loucura, como ela mesma afirmava.
Mas Clory acreditava na sua missão e não tinha medo de enfrentar dificuldades.
E foi assim, com a ajuda da prefeitura que conseguiu, posteriormente, um grande
terreno onde aos poucos, com a ajuda de amigos, dos filhos e de pessoas
generosas, um grande lar para abrigar todos aqueles que a procuravam.
Trabalhadora
infatigável sentia prazer em dizer que nunca conseguira recusar uma criança. Se
a mãe não tinha como sustentar seus filhos ela aceitava todos, pois considerava
uma crueldade separar irmãos. Um dos seus maiores orgulhos era o fato dos seus
filhos, com raríssimas exceções, terem se tornado cidadãos exemplares, muitos
deles com curso superior.
Os
seus depoimentos ao Edson Zeca foram longos e um deles contou até com uma
viagem até Andradina, terra onde ela começou a sua trajetória. Mas logo foram encerrados, pois a sua saúde
demandava cuidados, principalmente por causa da idade avançada. Clory faleceu em
21.11.2011, aos 94 anos e deixou como legado de vida, a dedicação aos
desamparados sem nunca pedir nada em troca. Foi uma heroína, quase anônima, mas
continuará para sempre na memória daqueles que foram por ela amparados e seus
incontáveis amigos.
Enfim,
a biografia ficou pronta, revisada e impressa, mas Mamãe Clory não estava mais
presente para receber as honras pela sua história. A sua casa ficou em festa
para receber os amigos e seus filhos já encaminhados para o lançamento do
livro. Edson Zeca autografou carinhosamente cada exemplar, sempre colocando o
seu o nome e o de Mamãe Clory nas dedicatórias como se ela também estivesse
presente e estava.
O
movo biógrafo que ao longo de sua vida dedicou-se a escrever versos para os
seus sambas e marchinhas de sua autoria ou de amigos “aprendeu novas palavras e
tornou outras mais belas” e quem sabe, com a experiência adquirida, possa nos
presentear no futuro com outras biografias no mundo da música, mares que com
certeza sempre navegou mais a vontade.
Mamãe Clory: a nobreza da vida –
Vida e obra de Clory Fagundes de Marques
De Edson Zeca da Silva
Todos os direitos dessa obra
revertem para a ACVL (Associação Cristã Verdade e Luz)
Contatos:
diretoria@mamaeclory.org.br
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