LÚCIA JORGE ABDALLA
E difícil falar de uma pessoa com
a qual não tivemos muita intimidade, apesar de tê-la conhecido bem e ter
algumas dívidas de gratidão para com ela. Quem era Lúcia Jorge Abdalla, ou
ainda é, se por acaso ainda estiver viva, coisa que não posso saber, pois há
muito, muito tempo não tenho notícias dela. Lúcia era uma mulher morena, bonita,
elegante, charmosa, culta e conversa interessante.
Conheci
esta mulher com todos os predicados acima como aluno em um colégio de São
Caetano do Sul. Havia uma demanda muito grande por vagas e o Estado improvisou
um colégio noturno em uma escola de primeiro grau sob o comando dela. Não havia
nada. As instalações eram precárias. A secretaria funcionava no corredor de um banheiro,
mas a Lúcia, uma batalhadora, não se abateu diante da falta de recurso e dava
tudo de si para que a escola funcionasse da melhor forma possível. Selecionou
os melhores professores que encontrava e não ficava satisfeita com pouco.
Pesquisava junto aos alunos para acompanhar o desempenho de cada mestre e não
hesitava em trocá-los quando percebia falta de interesse ou procedimentos
inadequados.
Não
havia cantina e por minha iniciativa junto com alguns colegas, improvisamos uma
como o apoio e incentivo da Da. Lúcia. Trazíamos pães, frios e refrigerantes e
durante o intervalo íamos às pressas para preparar os lanches e vendê-los para
a garotada. O negócio até que ia bem, quando um dos “sócios”, abandonou a
escola levando todo o dinheiro arrecado até então.
Outra
iniciativa que ela apoiou e incentivou foi o jornalzinho do colégio. Como eu já
tinha alguma experiência nisso, cuidava da datilografia dos originais em
stencil e uma funcionária da secretaria rodava os exemplares em um mimeógrafo, que eram
distribuídos para todos os alunos. O jornal mensário se chama o Praxe. O jornal
tinha uma entrevista com um dos professores todos os meses, mas a Da. Lúcia se recusou
a ser entrevistada, alegando que era muito tímida para se expor. E bom lembrar
que estávamos em plena ditadura e ela pedia que tomássemos cuidados para evitar
problemas políticos que poderiam comprometer seu projeto.
Ela
cuidava dos seus jovens estudantes como se fossem seus filhos que precisavam de
sua proteção. Visitava alunos com problemas pessoais e econômicos, procurando
sempre uma forma de ajudá-los, principalmente através de orientação psicológica
(era psicóloga). Organizava passeios culturais como cinema de arte, teatro,
palestras e atividades esportivas. Organizava gincanas culturais para
incentivar os alunos a pesquisarem objetos referências da cultura brasileira.
Era apaixonada pela música popular brasileira, principalmente os compositores do
período da Bossa Nova, como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Carlos Lira.
Estive algumas vezes em sua casa,
onde ela recebia os alunos sempre como muita gentileza e atenção. Seu
apartamento na Rua Dr. Seng, era repleto de estampas de clássicos da pintura,
sempre muito bem organizado e elegante como ela.
Lúcia
Jorge Abdalla, caso ainda esteja viva, deve andar lá pelos oitenta anos se meus
cálculos estiverem corretos, mas sempre vou lembrar dela como uma mulher
bonita, elegante e carismática. Pena que são poucos os dirigentes escolares
como ela, para a má sorte dos nossos adolescentes que precisam de formação,
apoio e orientação.
Renato Ladeia
Renato Ladeia
Segundo o Jornal dos Professores, publicação do Centro do Professorado Paulista, de outubro de 2014, Dona Lúcia faleceu em 06/08/2014, em São Paulo.
ResponderExcluirQue triste saber que dona Lucia faleceu. Ainda tinha esperança de visita-la. Ema tinha todos os predicados alem de uma grande educação ao tratar com todos. Trabalhei na secretaria da escola que ela foi diretora Adelina Issa Aschar do Cambuci.
ExcluirNossa que triste saber que ela faleceu. Conheci donaLucia como diretora do colégio Adelina Issa Aschar no Cambuci. Ela tinha todos estes predicados que se referiu Renato Ladeia. Sempre me chamava de Neuzinha. Trabalhava na secretaria desta escola. Era uma linda mulher dona Lucia. Sempre educada falava baixo e tinha uma finesse para tratar todos. Tenho presentes que ganhei dela até hoje.Saudades.
ResponderExcluirAinda bem que temos a internet que possibilita o acesso à informação. Caso contrário não saberíamos nada de tantas pessoas anônimas que construíram esse país e não são lembradas. Obrigado pela lembrança Neuza.
ResponderExcluirEla era de MANAUS?
ResponderExcluirNão, mas ela tinha parentes lá, se não me engano irmãos e sobrinhos. Ela era de Rio Claro ou proximidades.
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