Era o casamento do filho de um amigo. Aí eu me pergunto: Com que roupa? Ponho a gravata ou não? Será que não ficaria um pouco exagerado ir de gravata num casamento e sem ser padrinho? Finalmente decidi colocar a gravata no pescoço meio envergonhado em usar uma roupa tão formal para encontrar com velhos amigos.
Chegando a igreja percebi que todos estavam vestidos com costume risca de giz, impecáveis. O meu terno, marrom escuro, que pensei estar muito chique, ficou obscurecido pela elegância reinante. Mas no meio da igreja, sentado muito a vontade, com uma camisa listrada e arregaçada nas mangas, estava o Zéca, desafiando o mundo. Até o filho, um adolescente de dezessete anos estava impecável. Ele optou por uma vestimenta trivial, despojada, ainda que elegante, como sempre.
Mas o Zéca é assim mesmo, detesta formalismo, detesta bares e restaurantes em que os garçons se vestem de pingüim e o chamam de doutor. “Não tenho nada contra os veados, mas detesto mesmo a veadagem”, costuma dizer quando percebe muita frescura, muito formalismo em algum ambiente.
Saímos da igreja e fomos para o bufê Maison Sei lá o quê. Aí o Zéca veio com essa: “Se eu soubesse como era o ambiente, assim, decente, jogava um pano legal em cima de mim”, um velho samba gravado pela Maria Bethânia. É claro que falou isso mais para colocar o samba na pauta da conversa. Mas ele nem sempre foi assim. Nos tempos de funcionário diligente e bem remunerado de uma grande multinacional alemã, era possível vê-lo com uma gravatinha que deixava na gaveta para receber alguma visita especial ou comparecer a uma reunião de última hora. Lembro-me também que em seu casamento, ele estava de gravata borboleta, um tanto estranho para a época. Aliás, este seu casamento, que terminou depois de pouco mais de vinte anos de união, é a nossa diferença, pois continuo convicto de que ele não me convidou para o enlace. Com certeza não foi por maldade, mas por não se preocupar com coisas pequenas. Imagino que ele se esqueceu e achou que eu ficaria sabendo pelos demais amigos e ficaria tudo certo. Que pena! Perdi uma boa festa, com leitão assado, daqueles com uma maça na boca, como lembra o nosso querido o Cabrunco.
Mas o nosso amigo, já no limiar do terceiro tempo, rompeu mesmo com os padrões burgueses de vestimenta e somente não foi de calção e camiseta por consideração ao dono da festa, um burguês gente boa, um sujeito finíssimo, como costuma se referir ao Pedrão, o pai do noivo. Mas não era para menos, pois serviu bons vinhos, whisky e champanha, além de um jantar para ninguém botar defeito e tudo para ver os amigos sorrirem de satisfação.
Foi aí que falei para o Zéca que era preciso ter pelo menos um paletó. Afinal de contas, no dia do juízo final, é preciso estar vestido a caráter, mesmo que seja pela última vez. A expressão abotoou o paletó, tem lá a sua razão de ser. Ninguém fala abotoou a camisa. Mas ele bem humorado, saiu com essa: “Se eu não tiver um, você me empresta e fica tudo certo e depois eu devolvo no paraíso. Assim, a gente marca um encontro numa das tardes da eternidade para tomar uma cervejinha e colocar a conversa em dia e quem sabe cantar um samba do Noel”.
Chegando a igreja percebi que todos estavam vestidos com costume risca de giz, impecáveis. O meu terno, marrom escuro, que pensei estar muito chique, ficou obscurecido pela elegância reinante. Mas no meio da igreja, sentado muito a vontade, com uma camisa listrada e arregaçada nas mangas, estava o Zéca, desafiando o mundo. Até o filho, um adolescente de dezessete anos estava impecável. Ele optou por uma vestimenta trivial, despojada, ainda que elegante, como sempre.
Mas o Zéca é assim mesmo, detesta formalismo, detesta bares e restaurantes em que os garçons se vestem de pingüim e o chamam de doutor. “Não tenho nada contra os veados, mas detesto mesmo a veadagem”, costuma dizer quando percebe muita frescura, muito formalismo em algum ambiente.
Saímos da igreja e fomos para o bufê Maison Sei lá o quê. Aí o Zéca veio com essa: “Se eu soubesse como era o ambiente, assim, decente, jogava um pano legal em cima de mim”, um velho samba gravado pela Maria Bethânia. É claro que falou isso mais para colocar o samba na pauta da conversa. Mas ele nem sempre foi assim. Nos tempos de funcionário diligente e bem remunerado de uma grande multinacional alemã, era possível vê-lo com uma gravatinha que deixava na gaveta para receber alguma visita especial ou comparecer a uma reunião de última hora. Lembro-me também que em seu casamento, ele estava de gravata borboleta, um tanto estranho para a época. Aliás, este seu casamento, que terminou depois de pouco mais de vinte anos de união, é a nossa diferença, pois continuo convicto de que ele não me convidou para o enlace. Com certeza não foi por maldade, mas por não se preocupar com coisas pequenas. Imagino que ele se esqueceu e achou que eu ficaria sabendo pelos demais amigos e ficaria tudo certo. Que pena! Perdi uma boa festa, com leitão assado, daqueles com uma maça na boca, como lembra o nosso querido o Cabrunco.
Mas o nosso amigo, já no limiar do terceiro tempo, rompeu mesmo com os padrões burgueses de vestimenta e somente não foi de calção e camiseta por consideração ao dono da festa, um burguês gente boa, um sujeito finíssimo, como costuma se referir ao Pedrão, o pai do noivo. Mas não era para menos, pois serviu bons vinhos, whisky e champanha, além de um jantar para ninguém botar defeito e tudo para ver os amigos sorrirem de satisfação.
Foi aí que falei para o Zéca que era preciso ter pelo menos um paletó. Afinal de contas, no dia do juízo final, é preciso estar vestido a caráter, mesmo que seja pela última vez. A expressão abotoou o paletó, tem lá a sua razão de ser. Ninguém fala abotoou a camisa. Mas ele bem humorado, saiu com essa: “Se eu não tiver um, você me empresta e fica tudo certo e depois eu devolvo no paraíso. Assim, a gente marca um encontro numa das tardes da eternidade para tomar uma cervejinha e colocar a conversa em dia e quem sabe cantar um samba do Noel”.
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